Depois de "Uma História de Violência" ter assinalado um considerável ponto de viragem na sua filmografia, David Cronenberg mantém essa tendência em "Eastern Promises", outra obra longe dos universos alucinantes e bizarros pelos quais se notabilizou tanto numa fase inicial, em títulos como "Scanners" ou "A Mosca", como em anos mais recentes, em "eXistenZ" ou "Spider".
Isto não implica, contudo, que o seu novo filme esteja desprovido de fortes marcas identitárias, uma vez que desde o início que a narrativa mergulha numa atmosfera sinuosa e inquietante, e à medida que se vai desenvolvendo a acção abre espaço para a exploração de temas recorrentes do cineasta canadiano, sejam questões relacionadas com o corpo e as suas alterações, sejam os interstícios mais negros da esfera humana e a forma como a violência regula relações.
Isto não implica, contudo, que o seu novo filme esteja desprovido de fortes marcas identitárias, uma vez que desde o início que a narrativa mergulha numa atmosfera sinuosa e inquietante, e à medida que se vai desenvolvendo a acção abre espaço para a exploração de temas recorrentes do cineasta canadiano, sejam questões relacionadas com o corpo e as suas alterações, sejam os interstícios mais negros da esfera humana e a forma como a violência regula relações.
Embora invista ainda em temáticas familiares, "Eastern Promises" surpreende pelo realismo dos cenários, personagens e situações, e arrisca-se a ser mais perturbante do que outros filmes do realizador, assentes nas fronteiras entre domínios do terror e da ficção científica.
Ambientado nos recantos mais obscuros de Londres, este cruzamento de thriller e drama centra-se numa enfermeira que, após ter ajudado a dar à luz uma bebé cuja mãe adolescente morreu no parto, tenta encontrar a sua família tendo como única pista um diário.
Ambientado nos recantos mais obscuros de Londres, este cruzamento de thriller e drama centra-se numa enfermeira que, após ter ajudado a dar à luz uma bebé cuja mãe adolescente morreu no parto, tenta encontrar a sua família tendo como única pista um diário.
A sua busca leva-a a contactar com alguns elementos da máfia russa, já que a jovem que ajudou era vítima de uma rede de prostituição de leste, e a situação complica-se quando o dono de um restaurante que lhe propõe ajuda parece, afinal, ter mais interesse no diário do que o aparente altruísmo inicial sugeria. O circunspecto motorista deste acaba por ser uma peça essencial no jogo de forças que então se impõe, proporcionando algumas das principais surpresas da narrativa.
Cronenberg recorre a um argumento de Steve Knight, o mesmo autor do de "Estranhos de Passagem", filme de Stephen Frears que oferecia outro pungente olhar sobre o submundo londrino, e a precisão milimétrica com que desenha retratos de conflitos ambíguos é um dos trunfos de "Eastern Promises". Outro é a fotografia de Peter Suschitzky, que muito contribui para a criação de uma intrigante energia visual, reforçando a aspereza e verosimilhança dos por vezes claustrofóbicos cenários urbanos que aqui são percorridos.
Aliados à segura realização, capaz de servir algumas cenas de antologia - como as dos (literalmente) cortantes momentos iniciais ou de uma sequência de combate num balneário -, estes elementos concedem ao filme um assinalável equilíbrio, felizmente complementado pela apurada direcção de actores.
Aliados à segura realização, capaz de servir algumas cenas de antologia - como as dos (literalmente) cortantes momentos iniciais ou de uma sequência de combate num balneário -, estes elementos concedem ao filme um assinalável equilíbrio, felizmente complementado pela apurada direcção de actores.
Viggo Mortensen apresenta aqui um dos seus melhores desempenhos, mais conseguido do que o de "Uma História de Violência", conferindo densidade a uma personagem enigmática e envolvente. Naomi Watts também não desaponta como enfermeira obstinada, ainda que nao se desvie muito do seu registo habitual, Vincent Cassel oscila entre o frágil e o histriónico numa das personagens mais surpreendentes, e o veterano Armin Mueller-Stahl é apropriadamente austero e nebuloso.
Coeso e absorvente, "Eastern Promises" não chega a ser arrebatador devido a um desenlace algo abrupto, fechando demasiado cedo uma história que talvez ganhasse com mais alguns minutos - a personagem de Watts, por exemplo, poderia ter sido mais desenvolvida. Ainda assim, é um filme acima da média e o melhor do cineasta em muitos anos, demonstrando que, não obstante alguns altos e baixos na sua obra, Cronenberg continua a ser um realizador singular e um atento observador do mundo de hoje.
Coeso e absorvente, "Eastern Promises" não chega a ser arrebatador devido a um desenlace algo abrupto, fechando demasiado cedo uma história que talvez ganhasse com mais alguns minutos - a personagem de Watts, por exemplo, poderia ter sido mais desenvolvida. Ainda assim, é um filme acima da média e o melhor do cineasta em muitos anos, demonstrando que, não obstante alguns altos e baixos na sua obra, Cronenberg continua a ser um realizador singular e um atento observador do mundo de hoje.
E O VEREDICTO É: 3,5/5 - BOM
"Eastern Promises" é exibido nesta terça-feira pelas 16h30 no Cinema Villa, em Cascais, no âmbito do European Film Festival
6 comentários:
luck lukcy, you're so lucky. tambem queria esses visionamentos de imprensa.
Ora, mas ainda não trabalhas :P
Esta semana é complicada, sabes quando estreia no circuito oficial?
Pois, sobretudo às horas a que passa. Não sei quando estreia, acho que ainda não há data prevista.
Vi hoje e só me resta dar os parabéns a Croenemberg!
Ainda nem fui ao festival, e provavelmente já nem vou :(
Mas sim, concordo que o Cronenberg merece os parabéns por este filme.
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