sexta-feira, setembro 30, 2005

COMBATES SEM MURROS NO ESTÔMAGO

Depois do sobrevalorizadíssimo biopic “Uma Mente Brilhante” e do quase ignorado western esotérico “Desaparecidas”, Ron Howard assinala o regresso à realização com “Cinderella Man”, a sua visão sobre a história verídica de Jim Braddock, pugilista que se tornou célebre durante a Grande Depressão.

Paradigma do self-made man e de figura abençoada pelo sonho americano, Braddock teve uma carreira conturbada e irregular, vincada por múltiplas derrotas que quase o obrigaram a abandonar definitivamente os ringues de boxe e a sujeitar-se a outra ocupação.
Contudo, quando ninguém esperava, o pugilista provou ser um lutador – literalmente – e o seu empenho e perícia contribuíram para que se tornasse num símbolo de heroísmo e persistência.

Baseando-se nestes factos, “Cinderella Man” tem reunidas as condições para ser mais um filme centrado no triunfo sobre a adversidade, e é precisamente isso em que acaba por se tornar, apresentando mais um concentrado de esperança, optimismo e obstinação habitual no cinema mainstream norte-americano (e descaradamente orientado para os Óscares).

Esse elemento não é necessariamente mau, mas quando o mentor do projecto é alguém como Ron Howard os resultados dificilmente seriam os mais criativos e ousados. De facto, a película só a espaços consegue afastar-se do esquematismo que domina tantas outras obras do género, e aqui sofre ainda mais dessa tipificação ao apostar nos clichés dos “filmes de boxe”. Ou seja, uma lógica linear onde o espectador sabe que a fase inicial, geralmente amargurada, logo conduzirá a um desenlace próspero e profícuo.

Howard segue essa via formatada, e se até o faz com alguma competência – o ambiente de época está bem recriado, a fotografia e a banda-sonora não comprometem, o elenco (onde constam Russell Crowe, Rennée Zellweger ou Paul Giamatti) cumpre -, não evita cair na previsibilidade, apresentando personagens planas, um trabalho de realização sem rasgos e um argumento que raramente surpreende.

O maior problema, no entanto, é o da narrativa desigual, pois se os primeiros momentos do filme ainda expõem alguma fluidez a última meia-hora, uma sucessão de combates carregados de intermináveis pontos supostamente climáticos (que apenas geram uma tensão forçada e até manipuladora), faz com que os momentos que antecedem o desenlace sejam bastante redundantes e enfadonhos, atirando decididamente o filme para a mediania.

“Cinderella Man”, não obstante uma ou outra cena mais conseguida, é um título que não se afasta muito das obras habituais de Howard: produtos suficientemente eficazes, politicamente correctos, inofensivos, sem considerável marca autoral e que pouco trazem de novo ao Cinema. A vantagem é que também dificilmente insultam – pelo menos de forma gritante – a inteligência do espectador, o que nos dias de hoje já é um factor a salientar.

E O VEREDICTO É: 2,5/5 - RAZOÁVEL

22 comentários:

Nic disse...

vi este filme recentemente e o que gostei mais foi realmente a tua critica.
parabens, adoptei-te como referencia... ;-)

gonn1000 disse...

Ena, obrigado! Viste-o no Japão? LOL

Francisco Mendes disse...

O filme triunfa no retrato da época de declínio e principalmente na notável representação do colossal Russell Crowe (bem secundado pelo brilhante Giamatti), mas fica longe de carimbar uma marca indelével, atingindo todos os clichés do género e não só...

gonn1000 disse...

Acho os desempenhos apenas competentes, longe de notáveis, talvez porque a escassa densidade das personagens não permite que os actores possam fazer muito. Quanto aos clichés, concordo.

David Santos disse...

completamente de acordo

Anónimo disse...

Pode ser cliché, mas é lindo :') lol! Grandes interpretações (excepto a da Rennée Zellweger), uma bela recriação da época e dos combates mais intensos que já vi.

Cumps. cinéfilos

gonn1000 disse...

David Santos: Yup, já tinha lido a tua crítica no Matiné.

SOLO: Não achei o combate intenso, pelo contrário, foi bastante aborrecido, mas pronto, são opiniões :)

MPB disse...

Não sei até que ponto é que irei ver o filme. Já li bastante sobre o filme (coisa que nao costumo fazer... mas trata-se de um Ron Howard). Não sei bem o que esperar, mas possivelmente irei ver... MAS :S

Cumps

gonn1000 disse...

Bem, não creio que seja um filme obrigatório, mas também tenho visto bem pior. Arrisca, pode ser que gostes, sobretudo se não esperares muito...

Flávio disse...

Eu detesto o Ron Howard. Não o consigo ver nem pintado a ouro. Há tempos, um criticozinho do Público escreveu uma série de elogios babosos a este Cinderella Man e regozijou-se mesmo com o facto de Howard ter já recebido um óscar da realização. Esqueceu-se de dizer que, nesse ano, entre os outros concorrentes estavam David Lynch e Robert Altman.

gonn1000 disse...

LOL... Pois, não é propriamente um realizador consensual, mas não acho que o artigo do Público fosse assim tão elogioso, apenas dizia que o filme é aceitável.

Daniel Pereira disse...

Por acaso também acho que o Russel Crowe vai muito bem. Em "underacting" é que ele vai lá.

Para quem acha que estes combates são intensos que experimente ver o "Raging Bull" do Scorsese e depois tire as suas conclusões.

gonn1000 disse...

Sim, o "Raging Bull" já fez isto há umas décadas, mas confesso que também não sou grande admirador desse filme...

Daniel Pereira disse...

Correcção: o "Raging Bull" não fez nada disto.

gonn1000 disse...

LOL... Mas é um filme do qual "Cinderella Man" herda alguns traços, ainda que adopte uma vertente mais "açucarada".

Anónimo disse...

Aborrecido :o?! São opiniões sim, mas por momentos ía jurar que era eu que estava a levar os murros :P!

Cumps.

gonn1000 disse...

Pois, em mim não teve esse efeito, foi mesmo bastante maçador...

Gustavo H.R. disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
Gustavo H.R. disse...

Bem, A LUTA PELA ESPERANÇA é o filme que aguardo com maior ansiosidade no momento, gonn. Concordo que Howard é um diretor antiquado, mas considero UMA MENTE BRILHANTE subvalorizado justamente por ser extremamente convencional mas habilíssimo na maneira com que manipula o espectador.

gonn1000 disse...

Sim, "Uma Mente Brilhante" manipula habilmente, mas isso não é necessariamente bom, pois acho que, tal como "Cinderella Man", é um filme pouco espontâneo e demasiado fabricado...

Anónimo disse...

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Anónimo disse...

o filme é nota 1000.Eu adorei principalmente porque o Russel Crowe estava no elenco,eu sou muitooooooooo fã dele,alias quem também for fã dele mande uma mensagem para o seguinte e-mail :angelinhaalbertin@yahoo.com.br .Russel Crowe eu te amo.