quarta-feira, dezembro 13, 2006

BEM-VINDO A SARAJEVO

Premiado com o Urso de Ouro na mais recente edição do Festival de Berlim, "Filha da Guerra" (Grbavica) marca a estreia de Jasmila Zbanic na realização e, embora não exiba méritos que o incluam na lista de objectos cinematográficos ímpares, é bem sucedido na sua proposta de apresentar um olhar sobre o legado da Guerra dos Balcãs em Sarajevo.

O filme foca a tensa relação entre uma mãe solteira e a sua filha adolescente e através destas vai gerando, de forma sempre sóbria e controlada, o retrato de um quotidiano onde os fantasmas de um passado recente ainda se encontram bem visíveis, tendo deixado várias marcas por cicatrizar.

A realização de Zbanic, de forte travo realista, aproxima-se por vezes de algum cinema documental, e apesar de não exibir particulares sinais de originalidade ou traço autoral é bastante eficaz no verismo que consegue injectar na definição de espaços e ambientes, fazendo-o de um modo francamente mais estimulante do que, por exemplo, o desapontante "Diários da Bósnia", de Joaquim Sapinho.

A abordagem do relacionamento entre a mãe a filha é igualmente consistente, porém também não muito inventiva, uma vez que a fricção que se vai adensando entre as duas, motivada pelas questões que a segunda coloca acerca da identidade do pai, já foi vista em muitos outros dramas ("Aos Doze e Tantos", de Michael Cuesta, é um dos casos mais recentes), e é aqui desenvolvida sem muitas surpresas. A revelação final é, de resto, logo sugerida por algumas cenas dos primeiros minutos, mas felizmente não coloca em causa a forte carga dramática que o filme vai tecendo até lá.

Dispensando rodriguinhos fáceis e recusando transformar as suas personagens em meras vítimas, "Filha da Guerra" contém uma saudável secura emocional, não deixando por isso de ser uma obra comovente. Para além do equilíbrio que Zbanic demonstra, parte do mérito é também das duas actrizes principais, Mirjana Karanovic e Luna Mijovic, exemplares na construção de protagonistas tridimensionais e palpáveis, que ajudam a reforçar a assinalável verosimilhança do projecto. Motivos mais do que suficientes, então, para não se passar ao lado deste pequeno filme, discreto e honesto como poucos.
E O VEREDICTO É: 3/5 - BOM

2 comentários:

Anónimo disse...

para quando outro do Kiarostami?

gonn1000 disse...

Não sei, o último dele a chegar cá foi "Dez", há já alguns anos. Já fez outros entretanto, mas sem estreia por estes lados...