2004 foi um ano intenso para o cinema em Portugal, dado que em raras ocasiões terão estreado tantos filmes por semana (por vezes, com 10 títulos inéditos). No entanto, mais do que a quantidade de obras em cartaz, o que mais de destacou foi a qualidade, ou pelo menos uma saudável diversidade, com películas das mais variadas origens.
Em 2004 chegaram a salas nacionais exemplos do cinema americano (não só os típicos blockbusters mas também uma respeitável selecção de obras independentes), francês, asiático, italiano e até mesmo de áreas mais inesperadas como o Médio Oriente ou a Islândia, proporcionando uma ecléctica e entusiasmante oferta. Lamenta-se, contudo, que em termos promocionais muitos desses títulos não tenham sido alvo de grande atenção, o que leva a que grande parte tenha passado despercebida de uma considerável faixa do público.
Manifestou-se também uma maior proliferação de festivais dedicados à sétima arte, com casos tão bem sucedidos como o primeiro Indie LX, a quinta Festa do Cinema Francês (que revitalizou o Cinema S. Jorge, embora apenas temporariamente) ou o DocLisboa, que apresentaram novas propostas, formatos e autores.
O DocLisboa é sintomático de uma nova fase para o cinema documental, um género cada vez mais bem aceite pelo grande público, o que se comprovou não só na massiva adesão a esse festival mas também no mediatismo dos emblemáticos "Fahrenheit 9/11", de Michael Moore, ou "Super Size Me - 30 Dias de Fast Food", de Morgan Spurlock" (houve também espaço para exemplos oriundos de esferas mais marginais, como "Os Friedman", de Andrew Jarecki).
2004 foi ainda o ano do polémico "A Paixão de Cristo", de Mel Gibson, um dos títulos simultaneamente mais amados e odiados do ano e que, para todos os efeitos, fica como um dos mais marcantes, sobretudo devido às várias faixas de público que conseguiu reunir e pela discussão que despoletou.
Dos blockbusters, os mais mediáticos foram tendencialmente as sequelas - "Homem-Aranha 2", "Kill Bill: A Vingança - Vol. 2", "Shrek 2", "Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban" -, ainda que "O Dia Depois de Amanhã" também tenha sido um dos filmes-pipoca de grande produção, "The Incredibles - Os Super Heróis" tenha trazido novo fôlego ao cinema de animação digital e "Alexandre, o Grande" tenha marcado pelo seu monumental "fracasso".
"Lost in Translation - O Amor é um Lugar Estranho", "O Despertar da Mente", "21 Gramas", "A Vila" ou "Antes do Anoitecer", na fronteira entre territórios independentes e mainstream, marcaram o ano com a aclamação da crítica e uma considerável adesão do público.
No cinema português, títulos como "A Costa dos Murmúrios", "André Valente" ou "O Milagre Segundo Salomé" trouxeram algum sangue novo, e "Noite Escura", de João Canijo, foi uma das melhores surpresas dos últimos anos. Ainda assim, não foi desta que o público se converteu definitivamente ao cinema nacional...
4 comentários:
Enquanto as televisões não se decidirem a divulgar o cinema português, não há conversão possível. Se elas não o fizerem de livre iniciativa, então o Estado deve intervir. Mas infelizmente, não o tem feito. Nos países civilizados, a situação é bem outra. A RAI italiana dedica o seu horário nobre aos spots dos filmes em estreia; em Portugal, só a RTP o faz, mas sempre pouco e mal e a altas horas da madrugada. Enfim, uma tristeza.
Pois, sem divulgação os filmes até podem ser muito bons - o que não é a regra do cinema nacional -, mas quase ninguém os vê. Não é que a produção nacional seja desconsiderada na TV portuguesa...veja-se o caso das novelas. O problema é que as novelas estão muito longe do (bom) cinema...
KILL BILL NÃO É BLOCKBUSTER .
Olha que se não é não anda muito longe disso...
Enviar um comentário