domingo, março 25, 2007

JUVENTUDE EM MARCHA

Em 1949, um colégio interno de Pequim recebe o seu mais novo morador, Qiang, rapaz de quatro anos que encara com relutância o futuro no seu novo lar. Obrigado a adaptar-se a um novo quotidiano que impõe regras e hábitos diferentes dos que conhece, o protagonista de "Pequenas Flores Vermelhas" (Little Red Flowers / Kan Shang) sofre dificuldades na adaptação a um novo sistema, adoptando uma conduta que destoa da da maioria dos colegas e não sendo, por isso, premiada pelos pelas professoras (com as tais flores vermelhas que dão título ao filme).

Ambientado na China maoísta, a mais recente película de Zhang Yuan é um drama que parte das experiências do pequeno Qiang para relatar como funcionam os sistemas de controlo e os contrastes que reforçam ou diluem entre a esfera individual e colectiva.

Ao conviver com outras crianças educadas de forma distinta da sua, Qiang terá de aderir aos códigos que as orientam sob pena de - e é o que ocorre - ser marginalizado e ignorado, seja por não ter autonomia suficiente ou por ter comportamentos considerados desadequados a certas situações.

"Pequenas Flores Vermelhas" começa por arrancar de forma promissora, já que Yuan consegue delinear uma credível atmosfera realista, com suporte determinante nas convincentes interpretações de todo o elenco (em especial do protagonista, Bowen Dong), o que é um feito notável tendo em conta que este é constituído maioritariamente por crianças.
Seguindo uma estrutura episódica, a narrativa vai seguindo peripécias do dia-a-dia do infantário, de onde sobressai uma rígida rotina que se verifica em todos os momentos, das refeições à higiene pessoal. Embora foque um universo infantil, o filme evita rodriguinhos fáceis e aposta numa salutar secura emocional, ganhando ainda pela caracterização tridimensional das crianças, que nunca são reduzidas a estereótipos.

Um bom desenvolvimento inicial nem sempre leva, contudo, a que uma obra seja plenamente conseguida, e infelizmente "Pequenas Flores Vermelhas" acaba por ir perdendo o rumo à medida que se vai aproximando do desenlace. Depois de um interessante ponto de partida, Yuan parece não ter um programa especialmente trabalhado para o seu filme, repetindo situações desnecessariamente e deixando a narrativa cair na monotonia. Desperdiça-se, assim, a oportunidade de mergulhar num contexto que oferecia interessantes possibilidades, que ficam por concretizar devido a um argumento que se torna circular e inconsequente.

De "Pequenas Flores Vermelhas" guarda-se então o impacto de algumas cenas, de onde sobressai um sóbrio e perspicaz olhar de cineasta, mas lamenta-se que não sejam tão frequentes como seria desejável e que não estejam servidas por uma narrativa mais estruturada e coesa.
Espera-se que o próximo filme de Yuan faça jus aos elogios que apontam a sua filmografia como uma das mais sólidas do novo cinema chinês, porque a julgar pelo seu trabalho mais recente a impressão que fica é a de uma mediania que só seduz pontualmente.

E O VEREDICTO É:
2,5/5 - RAZOÁVEL

6 comentários:

Anónimo disse...

o filme ate tem uma boa cotação no imdb...

gonn1000 disse...

Sim, não é um mau filme, mas também não me convenceu por completo...

FDV disse...

parece interessante. quero ver isto.

gonn1000 disse...

Não desmerece, mas há melhores por aí.

Anónimo disse...

Acho que o facto de não ter uma "narrativa mais estruturada e coesa" prende-se o facto de querer dar a perspectiva infantil - com a desordem emocional, as situações simples e as reacções impulsivas. Apesar de o podermos ver (e vemos, quase inevitavelmente) com olhar adulto, o que é extraordinário nesse filme é a captação total de um universo (sobretudo emocional) infantil. A mim este filme deixou cheia de vontade de descobrir outros filmes de Zhang Yuan...

gonn1000 disse...

Também fiquei curioso quanto à restante obra dele, gostava de ter gostado mais do filme mas a segunda metade deixou a desejar...