terça-feira, fevereiro 22, 2005

AMOR DE PERDIÇÃO

A expectativa era considerável, tendo em conta, sobretudo, o sucesso do emblemático "O Fabuloso Destino de Amélie" (Le Fabuleux Destin d`Amélie Poulain), mas o novo filme de Jean-Pierre Jeunet, "Um Longo Domingo de Noivado" (Un Long Dimanche de Fiançailles) permite finalmente ver o resultado da segunda colaboração entre o realizador e a actriz Audrey "Amélie" Tautou.

A dupla gerou, no filme anterior, um dos mais acarinhados filmes franceses dos últimos anos, muito bem recebido pelo público a uma escala considerável (a crítica, no entanto, não foi tão unânime), por isso o novo projecto despoletou alguma ansiedade entre os fãs do realizador de "Delicatessen" ou "A Cidade das Crianças Perdidas".

"Um Longo Domingo de Noivado" desenrola-se em inícios do século XX e foca a relação de dois jovens, Mathilde (Audrey Tautou) e Manech (Gaspard Ulliel) que são obrigados a separar-se quando ele tem de ir combater durante a Primeira Guerra Mundial. O romance torna-se mais conturbado quando Manech é apontado como uma das vítimas mortais das batalhas, mas a esperança de Mathilde contraria essa trágica revelação e a jovem inicia uma persistente busca de pistas acerca do paradeiro do seu namorado.

A partir daqui, "Um Longo Domingo de Noivado" aborda a investigação da protagonista e, em paralelo, apresenta alguns dos episódios dos combates nas trincheiras através de flashbacks gerados a partir das memórias das figuras que Mathilde vai encontrando.
Jeunet tempera esta sucessão de acontecimentos com toques de romance, drama e algum humor, referências habituais nas suas obras, e mesmo nos momentos mais pesados e nebulosos deixa espaço para pequenas fagulhas de optimismo e esperança (embora em menores doses do que em "O Fabuloso Destino de Amélie").

Outro dos elementos-chave do filme é, claro, a impressionante componente visual, onde o realizador recorre, mais uma vez, a criativos ângulos de câmara, uma montagem refrescante, múltiplos filtros, um trabalho de iluminação irrepreensível e uma sedutora fotografia. Grande parte do culto em torno do cineasta deve-se, essencialmente, ao apelo estético das suas obras, que contêm sempre pequenos prodígios criativos herdados da mais arrojada linguagem publicitária. "Um Longo Domingo de Noivado" não é excepção e oferece uma mão cheia de belas imagens com cativantes tons dourados e acastanhados, gerando cenas muito bem conseguidas a nível visual.

Infelizmente, a nível de argumento nem tudo funciona tão bem, uma vez que este não é suficientemente intrigante para sustentar duas (longas) horas de filme.
O ponto de partida até é curioso, mas há por aqui demasiadas personagens e raras são as que vão além de uma pouco surpreendente unidimensionalidade. O ritmo da narrativa é irregular, e por vezes a investigação da protagonista conduz a tantas revelações que é quase inevitável o espectador não se perder no meio dos diversos flashbacks.

Fragmentado e desequilibrado, "Um Longo Domingo de Noivado" acerta em cheio no estilo mas não corresponde nas doses de substância, pois a densidade emocional é escassa, embora haja um ou outro momento de maior tensão dramática (as bem construídas cenas da infância do duo principal ou os momentos do par no farol).

Assim, o filme é quase sempre visualmente agradável mas raramente proporciona momentos de antologia, ainda que a banda-sonora de Angelo Badalamenti (não tão boa como a de Yann Tiersen, mas recomendável) e a minuciosa reconstituição de época quase coloquem o filme acima da mediania.
No entanto, depois do visionamento, esses detalhes não evitam que "Um Longo Domingo de Noivado" marque mais pela superficialidade do que por méritos em termos de conteúdo, resultando num filme que, apesar de bonito, é algo inconsequente e subaproveitado.

E O VEREDICTO É: 2,5/5 - RAZOÁVEL

2 comentários:

static disse...

Yap. Estava à espera de bem melhor

becksfan

gonn1000 disse...

Já somos 2...