segunda-feira, agosto 20, 2007

A GRANDE MENTIRA

"Golpe Quase Perfeito" (The Hoax) baseia-se num fait divers do mundo literário, ocorrido em 1971, quando um escritor pouco mediático e reputado, Clifford Irving, alcançou alguma fama ao conseguir o acesso a depoimentos de Howard Hughes, aproveitando-os para escrever uma biografia sobre a lenda da aviação. Foi considerado um contacto quase milagroso, já que o bilionário adoptou, nesse período, uma postura recolhida e avessa a aparições públicas, pelo que as reuniões com Irving constituiram uma surpreendente excepção.
Ou nem por isso, já que veio a comprovar-se que as supostas conversas registadas pelo escritor não passavam de um engodo criado e alimentado pelo próprio, uma grande mentira consecutivamente forjada e muitas vezes alterada ou adaptada, à medida que iam surgindo suspeitas ou mesmo factos que a contrariavam.

O filme segue todo este processo, desde as deambulações iniciais de Irving até aos seus 15 minutos de fama, mergulhando no fascínio que encorajou esse jogo de enganos e, sobretudo, no que daí resultou, assim como no estado de medo e paranóia que acabou por dominar o seu quotidiano.

Lasse Hallström desenvolve esta história com eficácia, injectando-lhe doses moderadas de suspense, drama e humor e assegurando uma narrativa bem conduzida, mesmo que quase sempre linear. Ainda não é desta que comprova, contudo, ser um realizador especialmente interessante, pois se "Golpe Quase Perfeito" é um objecto correcto também não arrisca muito, limitando-se a cumprir razoavelmente o seu programa sem conter uma perspectiva mais pessoal que se destaque ou uma ideia de cinema que fique na memória.

O filme transpira profissionalismo, é certo, desde a sólida reconstituição de época - com uma impecável atenção ao vestuário, penteados e demais pormenores visuais - à não menos consistente direcção de actores - Richard Gere não desaponta na pele do protagonista, embora não mostre qualidades interpretativas marcantes; Alfred Molina convence como o seu inseguro e fiel melhor amigo; Hope Davis só não faz melhor porque a sua personagem carece de desenvolvimento.
Menos entusiasmante é o facto de pretender ser um denso estudo de personagens quando raramente consegue superar uma mediania industrial de bons valores de produção e elenco de luxo - onde figuram ainda Stanley Tucci, Marcia Gay Harden ou Julie Delpy, sem muitas oportunidades para demonstrarem o seu talento.
O retrato da vertente inebriante da mentira, da sede de fama e reconhecimento está lá mas nunca envereda por domínios muito arrojados, o que juntamente com uma duração algo excessiva (o filme poderia apenas ter hora e meia em vez das quase duas) torna "Golpe Quase Perfeito" numa obra tão promissora e interessante como pouco aliciante e memorável.


E O VEREDICTO É: 2,5/5 - RAZOÁVEL

2 comentários:

Jorge Oppenheim disse...

Por acaso não vi filme, mas apenas o trailer...e não gostei - pareceu-me demasiado hollywoodesco (no sentido mau da palavra). Para além do facto de q não muito À bola com o gere...

gonn1000 disse...

É competente, mas não especialmente surpreendente. Vê-se bem sem deixar grande impressão.