Tony Scott é muitas vezes acusado pelos seus detractores de contar com uma filmografia onde o estilo esmaga quase sempre a substância, eclipsando personagens e linhas narrativas em prol de uma pirotecnia ostensiva e outras formas de exibicionismo estético.
No entanto, nada que o realizador tenha feito a esse nível se compara com o que apresenta em "Dominó" (Domino), onde hiperboliza essa tendência e leva o seu delírio visual ao limite num filme com tanto de experimental como de megalómano, onde momentos de inspiração surgem lado-a-lado com outros de desnorte criativo.
O ponto de partida já era invulgar q.b., uma vez que o filme pretende ser o biopic de Domino Harvey, uma jovem modelo que trocou a sua vida próspera e confortável por experiências mais extremas ao aderir a um grupo de destemidos caçadores de prémios, que se divertem e ganham a vida a caçar criminosos em fuga.
O facto do argumento ser assinado por Richard Kelly, o realizador do filme de culto "Donnie Darko", indicia que esta será uma obra pouco convencional, e a embalagem em que Scott a envolve só o confirma, atirando-a para a categoria de onvis cinematográficos, um objecto intrigante e inclassificável mas não necessariamente conseguido.
Não falta ambição ao projecto, que de resto pode ser confirmada na lista de ilustres (ou não tanto) que integram o elenco: além da protagonista Keira Knightley e do renascido Mickey Rourke, também Christopher Walken, Lucy Liu ou Mena Suvari marcam presença, embora o mais inesperado seja ver, no mesmo filme, gente tão díspar como Macy Gray, Jerry Springer(!), Tom Waits(!!) ou Brian Austin Green e Ian Ziering, dois actores de "Beverly Hills 90210" que fazem deles próprios(!?!).
O facto do argumento ser assinado por Richard Kelly, o realizador do filme de culto "Donnie Darko", indicia que esta será uma obra pouco convencional, e a embalagem em que Scott a envolve só o confirma, atirando-a para a categoria de onvis cinematográficos, um objecto intrigante e inclassificável mas não necessariamente conseguido.
Não falta ambição ao projecto, que de resto pode ser confirmada na lista de ilustres (ou não tanto) que integram o elenco: além da protagonista Keira Knightley e do renascido Mickey Rourke, também Christopher Walken, Lucy Liu ou Mena Suvari marcam presença, embora o mais inesperado seja ver, no mesmo filme, gente tão díspar como Macy Gray, Jerry Springer(!), Tom Waits(!!) ou Brian Austin Green e Ian Ziering, dois actores de "Beverly Hills 90210" que fazem deles próprios(!?!).
Para além de incluir tantos nomes aparentemente incompatíveis, "Dominó" é igualmente arrojado ao apostar numa narrativa que atira em várias direcções, o que se por um lado pode ser desafiante aqui torna-se mais confuso e cansativo, já que Scott parece não saber distinguir o essencial do acessório.
Assim, o filme não é tanto sobre os dilemas da protagonista mas antes uma sátira ao lixo televisivo dos últimos anos, escolhendo alvos fáceis como séries juvenis ou reality shows.
Ou se calhar é sobre as diferenças étnicas, culturais e sociais e das injustiças que a elas estão ligadas, tornando válido um jogo de vale tudo quando encetado a favor da defesa dos mais frágeis e inocentes.
Ou talvez não queira ser nada disso, contentando-se em funcionar como um concentrado pós-moderno que quase dilui as fronteiras entre a linguagem cinematográfica e a do videoclip - o que nem é inédito na filmografia do realizador, vincada pelos recorrentes planos curtos e montagem hiperactiva.
No meio de garridos borrões de cor tão omnipresentes e intrusivos como a voz off da protagonista (que não se cansa de repetir muitas frases), assim como da constante mudança de azimutes do argumento, não há grandes hipóteses de sair daqui um resultado consistente, o que faz de "Dominó" um filme que está quase sempre na corda bamba entre o brilhantismo e a banalidade, sem que se mova definitivamente para um dos lados.
Assim, o filme não é tanto sobre os dilemas da protagonista mas antes uma sátira ao lixo televisivo dos últimos anos, escolhendo alvos fáceis como séries juvenis ou reality shows.
Ou se calhar é sobre as diferenças étnicas, culturais e sociais e das injustiças que a elas estão ligadas, tornando válido um jogo de vale tudo quando encetado a favor da defesa dos mais frágeis e inocentes.
Ou talvez não queira ser nada disso, contentando-se em funcionar como um concentrado pós-moderno que quase dilui as fronteiras entre a linguagem cinematográfica e a do videoclip - o que nem é inédito na filmografia do realizador, vincada pelos recorrentes planos curtos e montagem hiperactiva.
No meio de garridos borrões de cor tão omnipresentes e intrusivos como a voz off da protagonista (que não se cansa de repetir muitas frases), assim como da constante mudança de azimutes do argumento, não há grandes hipóteses de sair daqui um resultado consistente, o que faz de "Dominó" um filme que está quase sempre na corda bamba entre o brilhantismo e a banalidade, sem que se mova definitivamente para um dos lados.
Os actores são pouco mais do que bonecos de papelão e em nenhum momento ganham especial interesse, sobretudo quando, lá para o final, Scott tenta fazer passar a protagonista e amigos por bons samaritanos numa jogada manipuladora que só conquistará os mais ingénuos. Knightley interpreta uma ex-modelo supostamente bad girl mas não lhe retira a postura mimada e snob, numa interpretação com mais pose do que intensidade e que se assemelha a um cruzamento dos trejeitos de Tank Girl e Posh Spice - e infelizmente longe do assinalável magnetismo que atingiu em "Orgulho e Preconceito", de Joe Wright.
"Dominó" tem então potencial para irritar quem já não era adepto do estilo de Scott, mas quem não depositar aqui expectativas muito elevadas ainda pode divertir-se com o descaramento de alguns momentos e com o tubo de ensaio estético que ocasionalmente gera sequências hipnóticas. E mesmo sendo um filme inconsequente e parcialmente falhado, este tem o mérito de arriscar mais do que a maioria dos produtos made in Hollywood, o que já é motivo para que mereça alguma atenção.
"Dominó" tem então potencial para irritar quem já não era adepto do estilo de Scott, mas quem não depositar aqui expectativas muito elevadas ainda pode divertir-se com o descaramento de alguns momentos e com o tubo de ensaio estético que ocasionalmente gera sequências hipnóticas. E mesmo sendo um filme inconsequente e parcialmente falhado, este tem o mérito de arriscar mais do que a maioria dos produtos made in Hollywood, o que já é motivo para que mereça alguma atenção.
E O VEREDICTO É: 2,5/5 - RAZOÁVEL
9 comentários:
Tens a certeza de que aqui foi acrescentado aquele acento agudo no "ó" ? Olha que eu acho que isso é gralha da imprensa portuguesa hein? Abraços..
Hum, acho que sim, vi em mais do que um meio e todos tinham. Mas admito que possa estar enganado. Fica bem ;)
Sabes que tinha esperanças... o Donnie Darko, foi escrito e realizado pelo Kelly... Mas nem tudo pode ser brilhante!
porquê só depois dois anos da estreia? até já há uma cópia importada na fnac e tudo! eu vou vêr em sala e espero gostar, pois scott tem vindo a melhorar muito de filme para filme
Ricardo: Sim, mas pelo que tem sido dito do novo filme do Kelly parece que o brilhantismo dessa primeira obra não se repetiu. É esperar para ver...
Luís: Boa pergunta, e acho que nas salas está a passar algo despercebido. Não sou grande fã do Scott, às vezes é interessante mas no geral acho-o irregular.
Não fazia ideia que o argumento era de Richard Kelly isso tornou o filme mais apelativo, talvez lhe dê uma espreitadela, mas agora há prioridades em cartaz.
Abraço
Não esperes muito, o filme não me parece mesmo dos mais prioritários. Fica bem.
eu vi 20 minutos na televisão e achei-o horroroso.
Não é imprescindível, mas também já vi muito pior.
Enviar um comentário