sábado, agosto 04, 2007

JACKSON THREE (OU FOUR)

Não deixa de ser algo caricata a edição de um "Greatest Hits" das Luscious Jackson, já que por muito boa vontade que se tenha o único sucesso radiofónico da banda terá sido apenas "Naked Eye", e mesmo assim teve uma passagem fugaz em 1997 (a melhor posição que conseguiu no Top40 norte-americano foi a 36ª). "Best of" talvez fosse, por isso, uma denominação mais apropriada para o disco que faz a retrospectiva da carreira do trio (inicialmente quarteto) nova-iorquino, embora seja discutível se o que nele se encontra corresponde, de facto, ao que de melhor o grupo criou no seu EP e três álbuns.

Apadrinhadas pelos Beastie Boys, as jovens Jill Cunniff, Gabby Glaser, Vivian Trimble e Kate Schellenbach estrearam-se com a edição do EP "In Search of Manny", em 1992, o primeiro registo não relativo à banda de Mike D lançado pela editora Grand Royal. À semelhança destes, notabilizaram-se pela fusão de estilos das suas canções, unindo hip-hop e new wave ou funk e indie rock sem nunca deixarem de exibir um forte apelo pop, o que as tornou tão experimentais como acessíveis.
Em "Natural Ingredients" (1994) deram continuidade às sonoridades do EP, em "Fever In Fever Out" (1996) não as esqueceram mas optaram por tons mais jazzy e atmosféricos (fruto da produção de Daniel Lanois) e em "Electric Honey" (em 1999, após a desistência de Vivian Trimble) alargaram o espectro, reforçando a carga electrónica. Infelizmente, este seria o seu último disco de originais, tendo as duas vocalistas (Cunniff e Glaser) seguido carreiras a solo.

Neste "Greatest Hits" recuperam-se alguns dos momentos mais relevantes do percurso da banda como o inevitável "Naked Eye", sintomático da atitude e frescura das Luscious Jackson; "Citysong", exercício funk onde a carga urbana da música do grupo é mais evidente; a acelerada "Here", com saudáveis contaminações disco; "Nervous Breakthrough", um delicioso convite à festa; ou "Ladyfingers", irrepreensível canção pop onde o sentido melódico da banda surge mais apurado do que nunca.

Lamenta-se que o alinhamento incida pouco nos primeiros registos, sobretudo no EP, do qual apenas consta "Let Yourself Get Down", e não se percebe a presença de "Friends" e "Beloved", precisamente as duas composições mais fracas de "Electric Honey". Pouco estimulantes são também a maioria das remisturas aqui incluidas, todas aquém da que os Bentley Rhythm Ace fizeram para "Under Your Skin" (superior ao original) mas que, contudo, ficou de fora.

Estas escolhas são compensadas por alguns bónus, casos da da elegante versão de "69 Anée Érotique", de Serge Gainsbourg, ou da interessante "Love Is Here", retirada da banda-sonora de "Vidas Diferentes", de Danny Boyle. Pena a ausência de "Roses Fade", um dos temas do filme "O Santo", de Phillip Noyce, atípica canção da banda seguidora da tradição singer/songwriter.

"Greatest Hits" não é, assim, a compilação mais consistente que poderia surgir a partir da obra das Luscious Jackson, embora o que oferece seja ainda suficientemente representativo de um grupo que, mesmo não sendo essencial, deixou uma discografia equilibrada que se mantém apelativa e até influente - nomes como os New Young Pony Club, Le Tigre ou Lily Allen que o digam, por exemplo. E este pode ser só o final da sua primeira fase, já que a banda considera reunir-se para um novo álbum a editar para o ano. Se mantiver a solidez registada até aqui, valerá a pena aguardá-lo.


E O VEREDICTO É: 3/5 - BOM



Luscious Jackson - "City Song"

2 comentários:

kimikkal disse...

Mais um para a lista de compras. Já quanto ao regresso...Espero que não seja um flop.

gonn1000 disse...

O que ouvi da Jill e da Gabby a solo não era mau, veremos como resulta na reunião.