terça-feira, novembro 30, 2004

MOMENTOS MAIS SABOROSOS (?)

Uma atenta análise aos hábitos alimentares das sociedades ocidentais ou uma mera arma de arremesso contra a McDonald`s? O documentário "Super Size Me - 30 Dias de Fast Food" divide-se entre estas duas vertentes.

Num período em que o cinema documental tem recebido uma crescente atenção mediática (comprovado pelo sucesso de eventos como o doclisboa), "Super Size Me - 30 Dias de Fast Food", de Morgan Spurlock, é mais um dos exemplos do género que chega a salas nacionais em 2004. Vencedor do Prémio de Melhor Realizador no Festival de Sundance, o documentário tem gerado alguma polémica devido à abordagem dos malefícios da fast-food, traçando um retrato negro dos restaurantes que oferecem este tipo de alimentação (com um olhar particularmente incisivo e acusador sobre a McDonald`s).

Recentemente, cineastas que se movem dentro do género documental como Nicolas Philibert (Ser e Ter), Agnès Varda (Os Respigadores e a Respigadora) ou Catarina Mourão (Desassossego) têm tido algum sucesso junto de um público de considerável dimensão, mas o estilo de Morgan Spurlock assemelha-se mais ao tipo de discurso cáustico do controverso Michael Moore (Bowling for Columbine, Fahrenheit 9/11), uma vez que o realizador partilha da mesma apetência por uma componente lúdica caracterizada por algum humor negro e ironia.
Este aspecto faz com que "Super Size Me - 30 Dias de Fast Food" não se deixe levar muito a sério, começando logo pela premissa, onde o realizador se torna cobaia de uma experiência através da qual se alimentará exclusivamente de fast-food durante um mês. Os resultados desta dieta não são os mais saudáveis, minando a saúde de Spurlock a vários níveis - enjoos constantes, aumento do colesterol, obesidade, perturbação da potência sexual- e o realizador utiliza esses efeitos nocivos para criticar os malefícios do consumo deste tipo de comida (recorrendo, também, a testemunhos de médicos especializados).

Se o alerta para os cuidados a ter na alimentação é útil e necessário, o comportamento algo irresponsável Spurlock para o demonstrar - a McDonald`s é quase identificada como um alvo a abater e o realizador dá seguimento à sua dieta apesar dos avisos dos médicos e dos múltiplos vómitos - acaba por retirar alguma da força da análise.
De resto, muitos dos elementos do documentário apenas fazem sentido dentro da população dos EUA - o tão falado menu Super Size nem existe em Portugal -, embora o desvio dos princípios que orientam uma alimentação saudável ocorra a nível bem mais alargado. "Super Size Me - 30 Dias de Fast Food" revela-se mais pertinente quando aborda o tipo de refeições servidas nas escolas, já que, em momentos como esse, consegue afastar-se da lógica excessiva próxima dos postulados de Michael Moore ou de um formato parente dos reality-shows.

Contendo mais estilo do que substância, este projecto de Morgan Spurlock não deixa de fornecer algumas bases de reflexão acerca de questões relevantes das sociedades contemporâneas, mesmo sendo um pouco enjoativo e indigesto a espaços.
E O VEREDICTO É: 2,5/5 - RAZOÁVEL

NOSTALGIAAAAAAAAA...

Vai uma viagem sonora até 1998 para recordar dois dos melhores discos do ano??


segunda-feira, novembro 29, 2004

UNS ANJOS NA TERRA

Intolerância, novos modelos de família, SIDA, política, orientações sexuais, religião ou traição são alguns dos elementos-chave de "Anjos na América" (Angels in America), a surpreendente mini-série do canal norte-americano HBO. Baseado numa premiada peça teatral de Tony Kushner, o projecto foi adaptado ao grande ecrã pelo cineasta Mike Nichols e inclui na lista de protagonistas três dos mais conceituados actores do presente: Al Pacino, Meryl Streep e Emma Thompson. Igualmente meritórios são Justin Kirk, Ben Shenkman ou Patrick Wilson, alguns nomes não tão mediáticos mas de considerável talento.

"Anjos na América" desenrola-se no início dos anos 80 e retrata os primeiros momentos de disseminação da SIDA, doença que funciona como elemento de ligação dos protagonistas. Num período marcado pela administração de Reagan, uma complexa teia de personagens debate-se com a alvorada de novas mentalidades, o florescer da revolução sexual e um conturbado contexto pós-Guerra Fria, vivendo crises de identidade e fases de contínuo questionamento.


Nesta adaptação televisiva, Mike Nichols ultrapassa os limites do meio e proporciona momentos de pura excelência cinematográfica através de um rigoroso trabalho de realização com refrescantes técnicas narrativas. Misturando momentos de cru realismo com cenas de intensa carga onírica, Nichols concede a este projecto uma bizarra, mas muito original e intrigante atmosfera. Embora as sequências dos sonhos/visões das personagens sejam, a espaços, objecto de árdua análise e interpretação, possuem uma dimensão experimental rara nas linguagens televisivas actuais. Esta vontade de ultrapassar as formas convencionais aproxima "Anjos da América" de outras séries revolucionárias da televisão de hoje, como a carismática "Os Sopranos" (The Sopranos) ou a inexcedível "Sete Palmos de Terra" (Six Feet Under).

Com um denso ambiente fim-de-milénio, a narrativa da mini-série ora apresenta episódios de forte tensão dramática e emocional ora envereda por ocasiões de um áspero humor negro, mantendo um tom etéreo e alucinatório que antecipa a entrada num "admirável (?) mundo novo". O ritmo da acção nem sempre cativa, sendo ameaçado por cenas onde o desafio conceptual se confunde com pretensão, gerando momentos demasiado frios e herméticos. Contudo, quando resulta, oferece um poderoso estudo de personagens onde se abordam os conflitos da natureza humana mediante uma viagem pelos seus meandros mais recônditos e inóspitos. A brilhante direcção de actores ajuda, e a muito conseguida reconstituição de época torna o projecto ainda mais credível. De resto, Mike Nichols demonstra a sua mestria com cenas de admirável poesia visual, criando envolventes imagens dignas de antologia.

Bem escrita e soberbamente realizada, "Anjos na América" é um pequeno oásis num panorama televisivo cada vez mais formatado e pouco reluzente. Uma ousada mini-série a (re)descobrir.

E O VEREDICTO É: 3,5/5 - BOM (com tendência para subir num revisionamento)

OS ANJOS (NÃO, NÃO SÃO ESSES!!!)

Como, apesar de tudo, ainda há pequenos oásis no universo televisivo português, a 2: repete, durante esta semana pelas 23h, os seis episódios da mini-série "Anjos na América" (Angels in America), de Mike Nichols, uma das mais inovadoras produções da HBO. Surpreendente a nível visual, temático e narrativo, esta série de culto aborda o início da propagação da SIDA nos EUA dos anos 80. Entre os actores encontram-se Al Pacino, Meryl Streep e Emma Thompson, veteranos num elenco com alguns novos talentos...E mais não digo, o resto (re)descubram vocês (conselho de amigo)...

sábado, novembro 27, 2004

ISTO (NÃO) É NORMAL

Uma das bandas mais interessantes a trabalhar nos domínios da electrónica na recta final dos anos 90, os Gus Gus foram, também, uma das mais subvalorizadas. No entanto, "This is Normal", o segundo disco do colectivo, de 1999, eleva-se bem acima da mediania através de uma muito conseguida mistura de pop, house, techno, trip-hop, jazz, ambient e electro.

Apresentando uma complexa sonoridade fim-de-milénio, "This is Normal" é um álbum diversificado e intrigante, contendo sonoridades envolventes que rapidamente se tornam viciantes. Expondo vozes masculinas e femininas e contrastando-as com atmosferas glaciares, nocturnas e hipnóticas, o disco torna-se simultaneamente estranho e cativante. Essa estranheza verifica-se também nas letras das canções, ambíguas e incomuns, reforçando a peculiar personalidade da banda.

Começando por conquistar logo pela excelente capa - ou não fosse esta da editora 4AD, meticulosa e inovadora a nível gráfico - "This is Normal" proporciona uma viagem por ambientes futuristas, experimentais e sedutores, e entre os momentos de eleição salienta-se o contagiante electropop de "Starlovers", o denso e quase cinematográfico "Blue Mug", o delicado e subtil "Bambi", o enérgico e dançável "Love vs Hate" ou o negro e claustrofóbico "Snoozer".

Consistente, bem-estruturado e inovador, o segundo álbum dos Gus Gus é o melhor que o colectivo gerou até hoje. Os seus sucessores, "Gus Gus vs T-World", de 2000, e, sobretudo, o indistinto "Attention", de 2002, desiludiram ao não exibir os traços de criatividade de "This is Normal". O disco confirma também que a pop islandesa não se resume apenas aos Múm e aos (sobrevalorizados? Eu acho que sim) Bjork e Sigur Ros.

Um dos melhores exemplos da electrónica de finais de 90, para colocar ao lado de Massive Attack, Lamb, Morcheeba, Air, Tricky e Sneaker Pimps...

E O VEREDICTO É: 4/5 - MUITO BOM

REGRESSO AO PASSADO

Muitas vezes, no cinema e noutros domínios artísticos, a melhor forma de surpreender não nasce tanto da inovação mas antes da recuperação de marcas do passado, devidamente contextualizadas e adaptadas ao presente. "Sky Captain e o Mundo de Amanhã" (Sky Captain and the World of Tomorrow), embora inove em alguns aspectos - essencialmente nos visuais - assenta muito num tipo de cinema cuja fase áurea ocorreu nos anos 30 e que raramente encontra sucedâneos nos dias de hoje (pelo menos de forma tão óbvia e decalcada).

A narrativa do primeiro filme de Kerry Conran situa-se na Nova Iorque dos anos 30, não propriamente na do nosso mundo, mas na de um universo mais fantasioso, ingénuo e cartoonish. Um universo onde robôs gigantescos podem invadir cidades de forma abrupta, mas onde há também a esperança da salvação devido à coragem de intrépidos heróis.

As influências da película são as mais diversas - o tom despretensioso da série-B, o carácter lúdico dos comics norte-americanos, as atmosferas nostálgicas do cinema de aventura/ficção científica dos anos 30 - e remetem para um período mais cândido, embora algo maniqueísta e mesmo simplista à luz do que se faz hoje.

"Sky Captain e o Mundo de Amanhã" exibe traços do cinema clássico mas possui também a sofisticação das mais avançadas tecnologias digitais, aqui utilizadas para a criação dos impressionantes cenários artificiais (gerados através do blue screen, que possibilita a construção de espaços virtuais). Esta revisita do passado com tecnologias modernas torna o filme numa curiosa aventura retro-futurista, uma experiência invulgar num contexto de blockbusters formatados e pouco entusiasmantes. Kerry Conran oferece uma interessante componente visual nesta sua primeira obra, mas o argumento não exibe, infelizmente, tanta solidez e criatividade, desenrolando-se de forma demasiado previsível e convencional.

A linearidade da narrativa funciona, no entanto, como uma forma de homenagear algumas das obras da era dourada de Hollywood (que também apresentavam um ritmo escorreito e reduzida densidade emocional), às quais "Sky Captain e o Mundo de Amanhã" retira inspiração. As personagens seguem igualmente esses traços, desde o altruísta e audacioso Sky Captain (Jude Law, numa interpretação convincente) à curiosa e insinuante jornalista Polly Perkins (Gwyneth Paltrow, que incorpora mais uma loura fria e distante), passando pela muito breve participação de Franky Cook (Angelina Jolie, no papel de uma provocante e corajosa agente especial). O trio pode ser acusado de unidimensionalidade, mas o recurso ao estereótipo é intencional - e até justificável - numa obra desta índole.

"Sky Captain e o Mundo de Amanhã", com tanto de imaginativo como de banal, consegue acrescentar algum fôlego ao estafado cinema de aventuras, apresentando uma apelativa dimensão visual numa experiência cinematográfica que combina eficazmente acção, ficção científica, romance e humor (com piscadelas de olho às comédias screwball na divertida relação agridoce das personagens de Jude Law e Gwyneth Paltrow).

Um entretenimento competente, a espaços prodigioso, na linha das aventuras infanto-juvenis capazes de agradar a um público dos 7 aos 77. E talvez marque o início da saga de um novo herói (sem superpoderes) a adicionar à galeria onde se encontram James Bond, Indiana Jones e outros nomes míticos da cultura popular recente.

E O VEREDICTO É: 3/5 - BOM

sexta-feira, novembro 26, 2004

CRUELDADE INTOLERÁVEL

Vencedor do Booker Prize em 1998, "Amesterdão" (Amsterdam), de Ian McEwan, é um mordaz retrato da sociedade aristocrática britânica e um olhar sobre os efeitos da mentira, do egoísmo e da fama.

O livro foca a relação de dois amigos, Clive Linley, um conceituado compositor, e Vernon Halliday, editor de um influente jornal. Estas duas personagens encontram-se interligadas por Molly Lane, uma conhecida figura londrina cujo funeral despoleta o início da intriga. Ian McEwan aproveita esta cerimónia fúnebre para iniciar uma narrativa com tons de comédia negra e algum drama, debruçando-se sobre o eventual antagonismo entre a supremacia do ego e os valores ético-morais.

Apesar de Molly Lane ser o elemento de ligação entre as personagens principais deste romance - quase todas foram seus amantes -, McEwan não apresenta muitas informações acerca da sua vida ou dos factores que a tornaram tão carismática, não nos elucidando quanto aos motivos que a transformaram num alvo de tamanha admiração. Mesmo as restantes personagens carecem de maior caracterização e desenvolvimento, uma vez que, nos momentos que antecedem o desenlace, Clive e Vernon exibem comportamentos pouco fundamentados e algo contraditórios face ao que ocorreu anteriormente. McEwan compensa esta limitação com um argumento imprevisível, incluindo reviravoltas suficientes para manter o interesse, mas mesmo aí as personagens parecem ser apenas elementos despoletadores de acontecimentos e não agentes com vontade e motivações próprias.

O escasso número de páginas do romance - menos de 200 - poderá justificar parte da superficial densidade dramática das personagens, embora se esperasse um pouco mais de um autor que já provou - no intrigante e assombroso "O Jardim de Cimento" (The Cement Garden), por exemplo - conseguir mergulhar, de forma exímia, nas tensões e fragilidades humanas. O ritmo também nem sempre entusiasma, já que a primeira metade do livro se desenrola de forma demasiado lenta e, quando a narrativa se torna mais estimulante, é afectada por um final algo conturbado e não muito convincente.

Embora a esfera emocional dos seus protagonistas seja pouco aprofundada, "Amesterdão" proporciona algumas interessantes observações sobre os limites da amizade, os ambientes do jornalismo (e a ameaça da tabloidização, sobretudo tendo em conta que a acção se desenrola em Inglaterra), crispações políticas, o lado negro da fama ou o florescimento do processo de criação artística. Estes elementos conseguem cativar a atenção e promover alguma reflexão, mas não chegam para salvar a reduzida empatia gerada pelo duo protagonista (Clive, auto-indulgente e narcisista, e Vernon, implacável e vingativo). Se, por um lado, a dupla é adequada para um romance de contornos satíricos e irónicos como "Amesterdão", tem a desvantagem de não nos cativar, pelo que o seu destino nos é indiferente e irrelevante. Por isso, o livro torna-se cada vez mais frio e distante e, embora exiba curiosos episódios a espaços, não é a obra mais recomendável de um dos maiores escritores britânicos contemporâneos.

E O VEREDICTO É: 2/5 - RAZOÁVEL

VIBRAÇÃO, ENERGIA E ALMA ROCK

Ao sexto disco de originais, um dos nomes mais prestigiados do rock alternativo actual volta a convencer e a acrescentar mais um interessante capítulo a uma relativamente curta, mas versátil, carreira.

Figura ímpar no panorama musical de hoje, PJ Harvey tem conseguido captar as atenções de um público cada vez mais alargado sem nunca perder o respeito dos fiéis seguidores que a elogiam desde o início e a tornaram numa artista de culto. Essa aproximação a cenários mainstream verificou-se sobretudo em "Stories From the City, Stories From the Sea", de 2000, o seu álbum mais acessível, com uma considerável carga pop, mas nem por isso menos desafiante. "Uh Huh Her", o seu sucessor, revela-se menos directo e imediato, voltando a exibir marcas dos registos iniciais da cantora.

O primeiro single "The Letter" acentuou o regresso a um rock ríspido e potente, semelhante a alguns momentos de discos como "Dry" ou "Rid of Me", e parte dos restantes temas do novo álbum - "Who the Fuck", "Cat on the Wall - exibem essa visceralidade presente nos trabalhos de estreia de PJ Harvey. De resto, "Uh Huh Her" revisita muitas das etapas da discografia da artista, apresentando canções que não destoariam em discos anteriores. As etéreas e densas "It`s You" ou "The Desperate Kingdom of Love" relembram episódios do incontornável "To Bring You My Love", a hipnótica e atmosférica "The Slow Drug" revisita os ambientes claustrofóbicos de "Is This Desire?" e as belíssimas "Shame" e "You Came Through" seguem as tonalidades mais melódicas e apelativas de "Stories From the City, Stories From the Sea".

Esta ligação de "Uh Huh Her" a marcas sonoras do passado não esgota, contudo, o disco num mero exercício de "mais do mesmo", uma vez que a maioria dos temas são suficientemente consistentes para ultrapassarem essa limitação. O problema é que, por vezes, o álbum parece demasiado fragmentado e pouco coeso, dada a diversidade de domínios contrastantes das canções. Apesar de sólido, "Uh Hur Her" não consegue, por isso, ser tão forte e contagiante como alguns dos seus antecessores, sendo penalizado por alguma falta de fluidez. Mesmo assim, há por aqui consideráveis doses de surpresa e inquietação que justificam múltiplas audições, comprovando a vitalidade de PJ Harvey e da sua peculiar amálgama de rock, blues, pop, indie e punk.

E O VEREDICTO É: 3,5/5 - BOM

quinta-feira, novembro 25, 2004

ESTREIAS DA SEMANA - 25 DE NOVEMBRO A 1 DE DEZEMBRO

"Nicotina", "The Incredibles: Os Super Heróis", "Open Water - Em Águas Profundas", "História de Marie e Julien", "Lealdade Traída", "A Costa dos Murmúrios" e "O Apartamento" são as estreias cinematográficas da semana.

"Nicotina", de Hugo Rodríguez, apresenta as interligações de nove personagens na Cidade do México, numa história que envolve criminosos, reviravoltas e muito humor negro. Já comparado a "Snatch - Porcos e Diamantes", de Guy Ritchie, ou "Amor Cão" (Amores Perros), de Alejandro Gonzalez Iñarritu, "Nicotina" tem Diego Luna como protagonista (um dos novos valores mexicanos, a par de Gael Garcia Bernal).

"The Incredibles: Os Super Heróis" é mais uma longa-metragem de animação com a marca de qualidade da Pixar. Desta vez, a acção centra-se numa família de super-heróis e nas peripécias mirabolantes que terão de enfrentar. Brad Bird realiza esta película que promete.

"Open Water - Em Águas Profundas" relata as experiências de um casal que, devido a um imprevisto, fica isolado nos mares das Caraíbas. O duo terá de resistir às ameaças climatéricas e à intensa circulação de tubarões. Esta obra de Chris Kentis foi um dos filmes independentes mais elogiados do ano nos EUA, distinguindo-se pelo seu realismo e recurso a poucos meios. Já vi e não acho que mereça o hype e a grande percentagem de críticas positivas a nível internacional...Em breve falo mais do filme.

"História de Marie e Julien" (Histoire de Marie et Julien) é o mais recente filme de Jacques Rivette e foca uma história de amor, segredos e chantagens, dando continuidade aos olhares do realizador sobre as relações humanas. Emmanuelle Béart encontra-se entre as protagonistas deste drama.

"Lealdade Traída" (A Different Loyalty) baseia-se na experiência verídica de uma mulher que descobre que o seu marido trabalha para os serviços secretos. Dirigido por Marek Kanievska, esta amálgama de romance e espionagem inclui Sharon Stone e Rupert Everett entre os nomes do elenco.

"A Costa dos Murmúrios" inspira-se no romance homónimo de Lídia Jorge e apresenta uma perspectiva sobre os efeitos da guerra colonial, focando a conturbada relação amorosa de um jovem que cumpre o serviço militar e da sua namorada que o visita em Moçambique. Beatriz Batarda, Filipe Duarte, Adriano Luz, Mónica Calle são alguns dos actores deste filme de Margarida Cardoso.

"O Apartamento" (Wicker Park) é uma nova versão "L` Appartement", de 1996, realizado por Gilles Mimouni e protagonizado pelo casal Vincent Cassel/ Monica Bellucci. Paul McGuigan adapta a história aos EUA dos dias de hoje e narra as convulsões amorosas de um jovem nesta mistura de drama e thriller. Josh Hartnett e Diane Kruger constituem a dupla central.

quarta-feira, novembro 24, 2004

UM SALÃO COM 15 MINUTOS DE FAMA

23 horas. Levantamos os bilhetes e vamos beber um refrigerante no Café dos Teatros, no Teatro Municipal São Luiz.

23:15. Instalamo-nos numa das várias mesas de esplanada dispostas pelo Jardim de Inverno para assistir à comédia “Celadon”, com as "chalaceiras" Ana Bola e Maria Rueff. Enquanto aguardamos temos oportunidade de notar que, depois de dois meses de representações, a sala ainda se encontra repleta de espectadores, a confirmar a admiração de muitos pela curiosa dupla de actrizes. Ao fundo, no palco, há apenas um balcão onde está simplesmente escrito “Celadon”, as paredes laterais reflectem listas de várias cores, efeito da projecção das luzes que aí incidem, e a última lista contém imagens de jovens - obrigatoriamente fashion - a deambularem num fundo branco, e mais tarde percebemos que estas imagens sugerem a circulação de pessoas num centro comercial (ou melhor, num Fórum, que é sempre mais sofisticado e selectivo, onde até é preciso ir de carro).

23:30. Anuncia-se que o espectáculo vai começar e avisa-se que não é permitido captar imagens. É então que se houve algum barulho atrás de nós e reparamos que está a entrar a pitoresca Denise de Magalhães (Ana Bola) acompanhada pela sua recente assistente no seu salão de nails – Celadon – a madeirense Maria Delfina Caroço (Maria Rueff). Estas duas figuras, com penteados exuberantes, socas de saltos altíssimos e vestimentas igualmente sugestivas, chamando a nossa atenção para os "glúteos" ou "nádias" da chefona Denise, devem ter acabado de tomar uma refeição no Fórum onde trabalham, uma vez que cada uma traz um tabuleiro da fast-food, o qual deixam cair, Denise por instinto e Delfina por imitação.

Acontece de tudo um pouco neste salão de nails excepto aquilo que supostamente era óbvio fazer-se: trabalhar. Denise sabe muito bem inventar histórias, na verdade é fácil acreditar nela, consegue encarnar o estilo necessário para ser uma “tia” e é isso que ambiciona ser, viver nas festas, ser famosa e aparecer na revista “Trombas”. Delfina também tem tudo para ser famosa. Tal como a sua patroa, também não sabe fazer nada para além de nails - embora, vá lá, consiga trabalhá-las em porcelana, em gel, com ou sem piercing,…- nem sequer pensar. Querem alguém com melhor perfil para ser famoso em Portugal e posar para as fotos das incontáveis revistas à disposição num qualquer salão de cabeleireiro ou no lar de uma dona de casa que se preze?

A encenação (de António Pires) é adequada, até porque as actrizes conseguem transmitir eficazmente as peculiaridades do espaço através de uma competente e carismática representação. Guarda-roupa e cabelos igualmente fantásticos, ajudando muito para que esta comédia portuguesa - apesar dos muitos estrangeirismos, ou melhor, neologismos constantemente debitados por Denise - produza os seus efeitos. E, para o género de espectáculo que é, poder ser visto num café-teatro, de uma maneira descontraída, fumando um cigarro e tomando alguma coisa, faz com que os espectadores se libertem e consigam tirar proveito do que estão a assistir.

Uma peça mais divertida do que interessante, nada de surpreendente ou particularmente inesperado. Gera diversas gargalhadas – o público deliciou-se em múltiplas ocasiões - mas estas actrizes nem sempre conseguem dissociar-se das personagens que representam há alguns anos, pelo que “Celadon” pode descrever-se como um misto do humor algo corriqueiro e previsível dos sketches recentes apresentados no Herman Sic e de uma refrescante dose de nonsense digna dos melhores laivos de inspiração das Produções Fictícias (o texto, contudo, é da autoria de Ana Bola).

Com uma boa disposição suficientemente contagiante e um considerável espírito crítico – a fama em destaque, mais uma vez - “Celadon” consegue gerar momentos de antologia, como o relato da vida do azarado pai de Delfina ou a minuciosa e divertida descrição da festa de VIPs, da qual Denise foi (só acredita quem quer) espectadora. Entretenimento garantido.

E O VEREDICTO É: 3/5 - BOM

Qui a Sáb: 23h30 - Teatro Municipal S. Luiz:

Jardim de Inverno Rua António Maria Cardoso, 601200-027 Lisboa Telefone: 213 257 650

Artigo escrito por mim e pelo Olarques acerca do espectáculo da passada quinta-feira.

A VERDADE ESCONDIDA

John Frankenheimer criou, em 1962, "O Enviado da Manchúria" (The Manchurian Candidate), centrado nos ambientes tensos de plena Guerra Fria e protagonizado por Frank Sinatra. Em 2004, Jonathan Demme adapta alguns dos pressupostos dessa obra ao contexto político dos dias de hoje e proporciona um dos thrillers mais fortes do ano, "O Candidato da Verdade" (The Manchurian Candidate), entregando o papel principal a Denzel Washington.

Num período em que alguns filmes mediáticos abordam, de forma mais ou menos directa, as dúbias atmosferas político-económicas contemporâneas - como "Spartan - O Rapto", de David Mamet, ou mesmo "Supremacia" (The Bourne Supremacy), de Paul Greengrass - Jonathan Demme volta a incidir nesta temática e constrói uma película repleta de intensidade e inquietação.

Atormentado por ambíguas memórias das suas experiências na Guerra do Golfo, o Major Bennett Marco (Denzel Washington) crê que a aclamação pública do seu ex-colega de pelotão Raymond Shaw (Liev Schreiber) é baseada em factos não muito concretos e esclarecedores, o que o encoraja a encontrar algumas pistas que lhe permitam solucionar de vez a sua suspeita crescente. Esta busca irá despoletar um claustrofóbico e arriscado percurso por domínios de corrupção e mentira. A obscura e densa teia de revelações envolve memórias manipuladas, mortes misteriosas e inimigos intocáveis, gerando sequências trepidantes e episódios assombrosos.

Jonathan Demme volta a focar questões pertinentes, polémicas e actuais - como já tinha feito nos emblemáticos "O Silêncio dos Inocentes" (The Silence of the Lambs) ou "Filadélfia" (Philadelphia) - e retrata as delicadas interligações entre territórios políticos e económicos num ambiente de contínua globalização, tornando difícil a descoberta de uma ameaça isolada. Conseguindo gerar um ritmo envolvente e acelerado, o cineasta oferece um thriller que, mesmo com momentos de alguma previsibilidade (e inverosimilhança), está acima dos estereotipados e inócuos exemplos que marcam grande parte do género actualmente.

Para além da astuta realização e de um sólido argumento, "O Candidato da Verdade" destaca-se pelas boas interpretações do elenco. Denzel Washington apresenta a eficácia habitual (embora a sua personagem não se desvie muito dos papéis que o popularizaram), Liev Schreiber surpreende pela bem conseguida carga de frieza e sobriedade e Meryl Streep brilha num dos desempenhos mais arrepiantes - no bom sentido - e complexos do ano, confirmando a sua enorme versatilidade e talento.

Tenso e poderoso, "O Candidato da Verdade" proporciona um demolidor olhar sobre as democracias ocidentais contemporâneas - particularmente a americana - e salienta-se como um dos títulos cinematográficos nucleares da recta final de 2004, congregando um eficaz equilíbrio de suspense, acção e drama em atmosferas de conspiração.

E O VEREDICTO É: 3,5/5 - BOM

LOL (ou talvez não...)

Já que falei em BD num post recente, aqui fica uma tira que fiz para um jornal local da margem sul...

terça-feira, novembro 23, 2004


REBELDES COM CAUSA

Argentina, 1952. Dois jovens amigos partem à descoberta de um continente que desconhecem, fazendo uma pausa na sua previsível vida urbana e tentando encetar uma aventura arriscada antes da entrada definitiva na idade adulta. Esses dois jovens poderiam ser quaisquer outros, mas em "Diários de Che Guevara" (The Motorcycle Diaries) a dupla é constituída por Ernesto Guevara (Gael Garcia Bernal, em mais uma interpretação convincente), de 23 anos, e Alberto Granado (um credível e carismático Rodrigo de la Serna), de 29.

Acompanhado por "A Poderosa", uma fiel e incansável motoreta, o duo dá início a uma viagem de oito meses por surpreendentes geografias de um continente que apenas conheciam dos livros. Passando pelo Chile, Venezuela ou Peru, visitando locais por vezes encantadores e a espaços inóspitos, os dois amigos contrastam os modos de vida que observam com a realidade mais familiar de Buenos Aires, da qual provêm.

Walter Salles, o premiado cineasta de "Central do Brasil" e "Abril Despedaçado", apresenta uma perspectiva acerca desta conturbada mas aliciante aventura, debruçando-se sobre algumas das motivações que levaram a que Guevara se tornasse mais actuante e contestatário a nível político. Contudo, o filme não é um mero panfleto que se limita a glorificar uma incontornável e polémica personalidade (e ícone não só político, mas pop), antes oferece um interessante retrato - entre o documentário, o drama intimista e o road movie - da viagem de auto-descoberta de dois jovens idealistas e curiosos.

"Diários de Che Guevara" explora a relação de amizade dos dois companheiros de viagem, alternando momentos de melancolia e alguma desolação com episódios mais reluzentes e bem-humorados, aproveitando a química entre os actores e contrastando as personalidades dos protagonistas (um Ernesto Guevara circunspecto, calmo e introspectivo e um Alberto Granado mais dinâmico, espontâneo e espirituoso).

Se, em certa medida, o filme segue a lógica linear e formatada de um qualquer road movie - com atmosferas não muito distantes de "E a Tua Mãe Também" (Y Tu Mama Tambien), de Alfonso Cuarón, onde Gael Garcia Bernal também participou -, consegue conquistar através da genuína emotividade envolvida no projecto, dos impressionantes cenários, do tom realista e credível dos espaços, da absorvente banda-sonora ou ainda da muito bem conseguida fotografia.

Contudo, em termos narrativos o ritmo nem sempre cativa e alguns dos momentos finais do filme são demasiado sentimentalizados, expondo uma vertente que muitos criticam no cinema de Walter Salles (o caso mais marcante encontra-se na cena da travessia de Guevara no lago, com certos exageros melodramáticos e uma quase beatificação da personagem). Mesmo com estes deslizes em certas ocasiões, o realizador gera uma obra honesta, acessível e geralmente fascinante, proporcionando um intenso drama realista e uma oportunidade de observação de uma América pouco divulgada (para o melhor e para o pior).

Contemplativo e humanista, "Diários de Che Guevara" é um recomendável olhar sobre o crescimento interior e novas formas de observar e analisar o mundo, tornando-se num título a acrescentar às boas surpresas cinematográficas de 2004.

E O VEREDICTO É: 3,5/5 - BOM

segunda-feira, novembro 22, 2004

PÂNICO NA VILA

ESPÍRITOS INQUIETOS

"O Sexto Sentido" (The Sixth Sense), de 1999, lançou o culto. "O Protegido" (Unbreakable), um ano depois, confirmou o carisma, e "Sinais" (Signs), em 2002, voltou a comprovar a singularidade do seu cinema. Com "A Vila" (The Village), em 2004, M. Night Shyamalan dá continuidade a um estilo muito próprio e reconhecível, baralhando coordenadas e fugindo a catalogações óbvias. Aquele que é já considerado por muitos como o novo mestre dos twists e de uma forma única de gerar suspense regressa com um filme que, embora possua alguns dos elementos que lhe deram fama, consegue também incluir novas atmosferas e condimentos.

Ambientada numa pequena comunidade rural dos EUA, "A Vila" apresenta o clima de tensão e mistério que envolve a relação dos habitantes locais com a densa e inóspita floresta que cerca o aglomerado humano. O bosque permanece praticamente inexplorado, dada a presença de inquietantes e ameaçadoras criaturas que o povoam e que não hesitarão em devorar os que se atrevam a perturbá-las. Contudo, um homem decide finalmente enfrentar esse território desconhecido e vencer a muralha de medo e assombro que cerca a sua vila. O lacónico e silencioso Lucius (Joaquin Phoenix, a aperfeiçoar o excelente underacting que já registava em "Sinais") dá seguimento aos habituais protagonistas atordoados e discretos dos filmes de Shyamalan (como Bruce Willis e Mel Gibson), ajudando a consolidar o modelo de "hérói" do realizador.

Se as obras anteriores do cineasta se destacavam sobretudo pelas impressionantes reviravoltas finais dignas de antologia, "A Vila" já não se sustenta tanto em torno desse elemento - embora ele esteja ainda presente - e opta antes por gerar uma envolvente história de amor (um domínio não muito explorado por Shyamalan até aqui) aliada a uma narrativa plena de suspense. Claro que ainda há manobras de ilusão e descoordenação capazes de surpreender o espectador mais concentrado e perspicaz, mas desta vez o filme adquire maior intensidade e ultrapassa o estigma de competente e hábil exercício de estilo com que muitos catalogavam os trabalhos do realizador.
Contendo uma aura única e inovadora, "A Vila" é um melting pot que congrega o filme de época, romance, drama, thriller, terror, fantástico e, nas entrelinhas, expõe ainda um considerável subtexto político (que se aprofunda no obrigatoriamente inesperado desenlace). Dominado por uma forte carga hipnótica e etérea, com uma atmosfera absorvente e intrigante, o filme alia um romantismo avassalador e ensanguentando a peripécias enigmáticas, gerando uma fábula sobre as ligações entre a inocência e a mentira, a pureza e a corrupção, o sagrado e o profano.
A singular dupla de amantes constituída por Lucius/ Ivy - impressionante Bryce Dallas Howard, personagem-chave da segunda metade do filme - é responsável por alguns dos momentos mais prolíficos da película, gerando excelentes diálogos e uma química invulgar (particularmente intensa nas cenas em que o casal dá as mãos). Lamenta-se, por isso, que a partir de um dramático acontecimento (muito bem conseguido), a personagem de Joaquin Phoenix não contracene tanto com o seu par amoroso, mas as surpresas que o realizador proporciona a seguir compensam essa oportunidade desperdiçada.
"A Vila" confirma que o cinema - em especial, o americano - ainda é capaz de pisar territórios pouco explorados através de percursos imprevisíveis, suscitando um ambiente de crescente tensão com uma original mistura de elementos. Depois do mediático (e sobrevalorizado?) "O Sexto Sentido", do mais criativo "O Protegido" e do desapontante passo atrás registado em "Sinais", M. Night Shyamalan gera em 2004 a sua obra mais coesa, ambígua e profunda, originando um dos filmes mais belos e, simultaneamente, mais perturbantes do ano.
É certo que, com um elenco de luxo (para além do casal Phoenix/ Dallas Howard, constam ainda Adrien Brody, William Hurt, Sigourney Weaver ou Michael Pitt) e uma genial banda-sonora de James Newton Howard, o resultado já tinha potencial, mas o intrincado argumento, a óptima fotografia e a soberba realização colocam "A Vila" num patamar superior.

E O VEREDICTO É: 4/5 - MUITO BOM

TES(X)T 2

2 teXtes sobre os mutantes mais famosos do planeta, em jeito de homenagem aos anos que passei a ler a BD. Acho que a descrição do Colossus tem mais a ver comigo, mas enquanto personagem prefiro o Nocturno/Nightcrawler...

Colossus


You are Colossus! Being a person of high
standards, you treat your friends fairly, and
stand for what's right. You may also find love
for the arts and appreciation for culture, but
at the same time may not be the best romantic.
Regardless of any faults, your friends know you
as strong-willed, and committed to justice.
Cyclops will treat you well, but watch out for
Gambit, who is often motivated by
self-interest.


Which X-Man Are You?
brought to you by Quizilla

COMICS GEEK TEST

NightCrawler


You're Kurt Wagner, Nightcrawler. You're really
really awesome! I mean, besides being a great
guy, and looking so cool, you can teleport. And
you're sweet and religious, and I want to have
your children. But I digress. Anyways, you've
been trying to find yourself lately. You're
having some little doubts on your faith and
etc. Don't worry, you'll get it all fixed, I
know it.


Which cool X-men character are you?
brought to you by Quizilla

domingo, novembro 21, 2004

1 MÊS E ALGUNS DIAS DE VIDA...

Parece que foi ontem, mas este blogzito já tem mais de um mês de vida...Ainda não sei muito bem o que irá sair daqui no futuro, mas por enquanto acho que não tem corrido mal...E ja´teve quase 700 visitas e mais de 1100 visualizações de páginas, o que não é excelente mas também não é péssimo...Vamos ver quantos meses aguenta...

sábado, novembro 20, 2004

PEQUENOS MILAGRES

Apesar de ter começado a fazer-se notar há poucos anos, Mirah gerou já dois muito recomendáveis discos, "You Think It's Like This But Really It's Like This", de 2000, e "Advisory Committee", de 2001, tendo colaborado de seguida noutros projectos musicais paralelos.

"C`Mon Miracle", de 2004, é a mais recente proposta da cantautora e dá continuidade às assinaláveis doses criativas dos primeiros projectos. Menos fulgurante do que os seus antecessores - não contém tantos picos emocionais, oscilações e texturas melódicas -, o disco demora mais tempo a revelar-se, adoptando tons mais apaziguados e calmos. Contudo, mantém-se ainda sóbrio acessível, com detalhes de produção minuciosamente trabalhados, ainda que discretos (elaborados pelo produtor Phil Elvrum, dos The Microphones).

Um dos grandes trunfos de "C`Mon Miracle" é a singular voz de Mirah, expressiva, fresca e cativante, adequada às suas canções agridoces e outonais que se inserem numa estranha fronteira entre a melancolia e a felicidade. Essa combinação ambivalente pode notar-se de forma mais vincada em "Jerusalem", tão delicada e cativante que ninguém diria tratar-se de uma crítica à política israelita. "The Light" e "Look Up" mantêm os mesmos ambientes, iniciando-se de forma ríspida e tornando-se cada vez mais serenas.

Geralmente curtos (a maioria ronda os 2 ou 3 minutos) mas incisivos e carregados de densidade, os temas do disco possuem um forte apelo pop sem cederem a formatos óbvios, tipificados e convencionais. Próximas de territórios indie/folk/lo-fi de nomes como Cat Power, Aimee Mann e Azure Ray ou mesmo Kings of Convenience e Beth Orton, as canções de "C` Mon Miracle" vão crescendo a cada audição, revelando zonas de luz e sombra anteriormente ignoradas.

"Nobody Has to Stay" ou "Promise to Me", dois dos episódios mais intimistas do álbum, são deliciosos testemunhos sobre a complexidade das relações humanas, e "The Dogs of B.A." surpreende pelas inesperadas influências latinas.

Apesar de demasiado curto (o que não é necessariamente mau, pois favorece audições repetidas), "C`Mon Miracle" é um dos mais belos discos indie de 2004, uma pérola discreta que, infelizmente, passou despercebida. Talvez seja descoberto por mais ouvidos curiosos através de um pequeno milagre...

E O VEREDICTO É: 3,5/5 - BOM

sexta-feira, novembro 19, 2004

YESTERDAY...

Um pouco atribulado o dia de ontem, já que passei a manhã toda a fazer testes psico-técnicos e depois ainda se seguiu uma entrevista...Vamos lá ver se é desta...Um pormenor curioso foi o facto do entrevistador ser praticamente uma fotocópia (tanto no aspecto físico como na atitude) do personagem David Fisher, da (recomendável) série "Sete Palmos de Terra" (Six Feet Under), LOL

Mesmo assim, durante a tarde consegui desforrar-me e assisti, pouco antes do anoitecer, ao novo filme de Richard Linklater. Se para muitos é já uma obra-prima e o filme do ano, não encontrei motivos que o colocassem numa fasquia tão alta. Apesar de tudo vale a pena e o Ethan Hawke e a Julie Delpy convencem. Em breve escreverei mais sobre este "Antes do Anoitecer" (Before Sunset)...

E logo depois desse vi ainda "Super Size Me - 30 Dias de Fast Food", o tal documentário de Morgan Spurlock sobre os malefícios da comida rápida (enfim, sobre a McDonald`s)...Diz aquilo que já se sabia, mas não está mal...Embora o filme apele aos perigos deste tipo de alimentação, acabei por jantar num desses restaurantes logo a seguir (sim, a esse mesmo, mas ao almoço a refeição foi macrobiótica, por isso dá para equilibrar...).

E no fim disto tudo ainda houve tempo para ver a peça "Celadon", com a Maria Rueff e a Ana Bola, no S. Luiz...E chega...

MOMENTOS MAIS SABOROSOS (?)


ESTREIAS DA SEMANA - 18 A 24 DE NOVEMBRO

"Imortal", "2046", "O Novo Diário de Bridget Jones", "RRRrrrr!!!", "Na Sombra de Um Rapto" e "Anacondas: Em Busca da Orquídea Maldita" são os novos filmes em cartaz esta semana.

"Imortal" (Immortel (ad vitam)) é uma aventura futurista realizada por Enki Bilal e inspira-se na trilogia de banda-desenhada criada pelo próprio: "A Feira dos Imortais", de 1980, "A Mulher Enigma", de 1991 e "Frio Equador", de 1994. Desenrolando-se numa Nova Iorque quase irreconhecível, esta história de ficção científica inclui criaturas mutantes, deuses e humanos entre a sua singular galeria de personagens, mesclando estilos que vão desde o filme de acção ao film-noir.

"2046" é o sucessor do muito elogiado "Disponível Para Amar" e funciona como uma sequela ou remix deste, onde Wong Kar-Wai apresenta um olhar sobre o amor e conturbadas relações humanas. Tal como o seu antecessor, "2046" centra-se no escritor Chow Mo Wan e explora as suas múltiplas experiências amorosas, construindo um ambiente de forte romantismo e alguma desolação. Com um universo visual criativo e singular, o mais recente filme de Wong Kar-Wai é um romance retro-futurista e uma das estreias mais aguardadas do final de 2004. Tony Leung, Maggie Cheung, Zhang Ziyi, Faye Wong e Gong Li são alguns dos nomes do elenco.

"O Novo Diário de Bridget Jones" (Bridget Jones: The Edge of Reason) é a nova adaptação ao grande ecrã das peripécias da trintona britânica. Depois de um aparente final feliz em "O Diário de Bridget Jones", dirigido por Sharon Maguire em 2001, a personagem interpretada por Renée Zellweger volta a enfrentar problemas amorosos e períodos de insegurança constante. Hugh Grant e Colin Firth, presentes no primeiro filme, regressam para acompanhar a protagonista. Esta popular comédia romântica, baseada no igualmente mediático livro de Helen Fielding, é realizada por Beeban Kidron.

"RRRrrrr!!!" assinala o regresso do realizador de "Astérix & Obélix: Missão Cleópatra" e apresenta uma aventura situada em ambientes pré-históricos. Combinando comédia e thriller, este filme de Alain Chabat foca o confronto de duas tribos que tentam descobrir o autor de um inesperado homicídio, o primeiro crime da história da humanidade. O elenco inclui Gérard Depardieu, Jean-Paul Rouve, Marina Foïs e Damien Jouillerot, entre outros.

"Na Sombra de um Rapto" (The Clearing), de Pieter Jan Brugge, retrata o rapto de um homem bem-sucedido (Robert Redford) por um indivíduo aparentemente vulgar (William Dafoe). O elenco desta obra de suspense contém ainda Helen Mirren e Alessandro Nivola.

"Anacondas: Em Busca da Orquídea Maldita" (Anacondas: The Hunt for the Blood Orchid) é a sequela de "Anaconda" e debruça-se sobre as aventuras de um grupo de exploradores numa selva que procuram uma incomum orquídea, capaz de retardar o envelhecimento. Dwight H. Little realiza.

quinta-feira, novembro 18, 2004

UMA HISTÓRIA SIMPLES

Baseado num caso real, "Terminal de Aeroporto" (The Terminal) narra a curiosa situação que envolve a chegada de Viktor Navorski (um convincente Tom Hanks), oriundo de um país do Leste Europeu, ao aeroporto JFK. Quando chega, Navorski apercebe-se que o seu país deixou de existir devido a uma conturbada guerra civil e, por isso, o seu passaporte é considerado inválido. Encontrando-se numa inusitada situação, o viajante é impedido de entrar nos EUA e acaba por se instalar, aos poucos, no terminal de aeroporto, fazendo desse espaço o seu novo lar improvisado.

Embora se inspire numa experiência verídica, o filme de Spielberg está mais próximo de uma fábula urbana do que de um drama realista, expondo algumas das marcas registadas do realizador. Apesar do caso de Navorski ser preocupante, o realizador opta sempre pelo optimismo e supremacia dos bons sentimentos, que permitem que o protagonista vá superando os entraves e adversidades. À medida que o filme decorre, essa vertente idealista (utópica?) e esperançosa intensifica-se cada vez mais, o que poderá causar arrepios aos espectadores mais cépticos (e encorajá-los a rotular, novamente, Spielberg como um cineasta "piegas" e "bem-comportado"). Mesmo assim, "Terminal de Aeroporto" desenrola-se com considerável fluidez e raramente se torna cansativo, sendo um filme agradável de acompanhar e seguir.

Por detrás da aparente simplicidade e leveza do argumento - a história centra-se nas peripécias que Navorski vive ao tentar subsistir no terminal - há algumas chamadas de atenção para a contraproducente burocracia das sociedades contemporâneas, apelos à quebra da intolerância e da xenofobia e uma tentativa de caracterização dos EUA como nação aglutinadora de povos e culturas. Pelo meio, privilegiam-se valores nobres como a justiça e a amizade e há ainda espaço para reflexões acerca da figura paterna (elementos intrínsecos às obras do realizador).

O filme mistura drama e comédia (romântica), alternado momentos melancólicos - o desenraizamento e procura de um lar, a solidão ou as falhas de comunicação geradas pelas diferenças culturais - com episódios mais espirituosos e reluzentes - a construção de laços de amizade, as recompensas resultantes de boas acções e a (re)descoberta do amor.

Não sendo uma obra particularmente surpreendente, "Terminal de Aeroporto" oferece diversos bons momentos e destaca-se como uma das películas mais refrescantes e lúdicas do ano, conciliando o entretenimento escapista com a discussão de temáticas actuais e incontornáveis nos dias de hoje.

O filme possui aspectos pouco conseguidos (a demasiado rápida adaptação de Navorski, a vertente caricatural das personagens secundárias, a previsibilidade do final) mas compensa-os ao apresentar também alguns dos pontos fortes do realizador (excelente realização, boa direcção de actores, emotividade genuína ou a sólida banda-sonora de John Williams).

Embora o cinismo tenha vontade de vir ao de cima a espaços, Spielberg proporciona uma bem-conseguida obra que consegue fazer-nos depositar alguma fé no american dream. "Terminal de Aeroporto" não representa um regresso aos grandes momentos do cineasta - fica uns degraus abaixo da sua última obra-prima, "Relatório Minoritário" -, mas não deixa de ser um dos estimáveis títulos cinematográficos de 2004.

E O VEREDICTO É: 3/5 - BOM

2 MANY REMIXES

Às vezes, as remisturas superam os originais...Aqui estão algumas em rotação frequente:

2 Many DJs


Ladytron - Evil (Tony Senghores Remix)

2 MANY DJs - Girls and Boys (Garbage vs Blur vs Prince vs Chemical Brothers vs Modjo)

Sneaker Pimps - Spin Spin Sugar (Armand Van Helden Mix)

Placebo - Taste in Men (Alpinestars Kamikaze Sky Mix)
dEUS - Everybody`s Weird (Soulwax Remix)
Kings of Convenince - I Don`t Know What Can I Save You From (Royksopp Remix)
Kylie Minogue - I Can`t Get You Out of My Head (Soulwax Elektronic Mix)
Muse - Muscle Museum (Soulwax Remix)

quarta-feira, novembro 17, 2004

(BOM) CINEMA NA TV

Tony Kaye gerou um dos melhores filmes dos últimos anos centrados na temática da intolerância. "América Proibida" (American History X) é uma obra a (re)descobrir hoje, pelas 23 horas, na RTP1, ou dia 27 às 18h15m no Cinema Atlântida-Cine, em Carcavelos, no âmbito do ciclo MICROSOCIEDADES, da Criativa.

JUVENTUDE INQUIETA

Um drama familiar urbano e portentoso, "América Proibida" (American History X) relata as experiências de Derek Vinyard (excelente interpretação de Edward Norton, que lhe possibilitou a justa nomeação para Óscar de Melhor Actor) e do seu irmão mais novo Danny (Edward Furlong, igualmente convincente).

Fruto de uma teia de conturbadas relações familiares marcadas pela morte da figura paterna, os dois jovens crescem numa atmosfera de constante tensão e intolerância, factor que leva a que Derek se torne membro de uma associação neo-nazi. Contudo, alguns acontecimentos levam a que o jovem reavalie o seu comportamento e refute a ideologia em que se baseou (ou através da qual foi manipulado?) durante a adolescência. Agora, Derek tentará evitar que o seu inquieto e relutante irmão Danny se insira na espiral descendente de ódio, violência e xenofobia que o marcou.

O cineasta estreante Tony Kaye consegue gerar uma intensa e verosímil perspectiva sobre a juventude urbana contemporânea, retratando os ambientes de inquietação dos subúrbios californianos e fornecendo um testemunho da alienação e paranóia que pode nascer nesses domínios (e em muitos outros). Contaminando o filme com um estilo visual duro e seco, da qual se destaca a fotografia de tons realistas e uma interessante coordenação de flashbacks, o realizador oferece imagens fortes e sequências de considerável densidade dramática.

Kaye merece referência por tratar questões tão polémicas e delicadas de forma pouco simplista, preocupando-se em construir personagens de carne e osso e não estereótipos ou caricaturas unidimensionais. No entanto, a súbita mudança do comportamento de Derek suscita algumas reservas, os episódios da prisão são demasiado previsíveis e o final do filme, didáctico e linear, poderia ser melhor resolvido (e não combina com os tons rudes e densos que vincaram a acção até então).

"América Proibida", apesar de algumas inconsistências, possibilita uma intensa visão sobre o fanatismo, a desagregação familiar, a manipulação, o descontrolo e o preconceito, abordando realidades actuais com complexidade e diversas texturas (tanto a nível narrativo como visual). Uma muito promissora primeira-obra.

E O VEREDICTO É: 3,5/5 - BOM

terça-feira, novembro 16, 2004

UMA VIDA A TRÊS

Hábil e perspicaz na captação das nuances e complexidades das relações humanas, Michael Cunningham prova que o seu talento como escritor não se esgota no célebre "As Horas" (o seu livro mais mediático, cuja fama foi auxiliada pela adaptação cinematográfica gerada por Stephen Daldry em 2002).

"Uma Casa no Fim do Mundo" (A Home at the End of the World) inclui retratos do turbilhão emocional de um trio de protagonistas, interligados através de laços de amor e amizade. A história centra-se na relação de Jonathan e Bobby, que forjam uma profunda amizade na infância e se reencontram ao entrarem na idade adulta. À conexão dos dois rapazes será adicionada a presença de Clare, o terceiro elemento deste triângulo, com quem os dois amigos partilharão o lar. Esta intrincada e pouco convencional relação será a base de um novo tipo de família que os três tentarão sedimentar, à qual se acrescenta ainda Alice, a mãe de Jonathan, e um inesperado bebé.

Narrado na primeira pessoa por Jonathan, Bobby, Clare e Alice, o percurso destas personagens colide em diversos momentos e toca em questões como as fronteiras entre a amizade e o amor, estilos de vida contraditórios, ambiguidade sexual ou tensão familiar.

Michael Cunningham convida-nos a entrar no universo interior de cada um dos protagonistas, encetando uma viagem pelas oposições e convulsões humanas, ambientes de solidão e processos de adaptação. Esta visão do âmago das personagens revela-se mais aprofundada na primeira parte do livro, quando Jonathan, vulnerável e indeciso, e Bobby, misterioso e circunspecto, se conhecem na entrada da adolescência e tentam descodificar o mundo em conjunto.

Essa riqueza emocional já não se encontra tão presente na descrição do reencontro dos dois amigos anos mais tarde, e a forte interligação de ambos é, infelizmente, relegada para segundo plano. É pena que o autor tenha seguido uma via menos arriscada e criativa na segunda metade do livro, uma vez que os relatos das experiências de Bobby, Jonathan e Clare em Nova Iorque seguem uma via mais convencional e não tão intrigante. Não é que a história não contenha ainda originalidade, mas adopta um tom mais linear e superficial, recusando mergulhar no abismo interior dos protagonistas e ficando uns furos abaixo das atmosferas iniciais da obra.

De resto, o desapontante final comprova essa perda de vitalidade da narrativa, não esclarecendo as motivações de algumas personagens e apresentando um desenlace inconclusivo. Não obstante, "Uma Casa no Fim do Mundo" situa-se acima da média e proporciona um interessante estudo de personagens, ainda que não seja a obra-prima cujo absorvente início parece prometer ("Enquanto a Inglaterra Dorme", de David Leavitt, percorre domínios semelhantes e atreve-se a ir mais longe).

O estilo de Cunningham, sóbrio, detalhado e tridimensional sem deixar de ser acessível, consegue catapultar o livro para a lista de obras recomendáveis e suficientemente viciantes, confirmando o autor como um dos nomes fortes da literatura norte-americana contemporânea. Agora só falta mesmo esperar pela adaptação cinematográfica de Michael Mayer (prevê-se a chegada a Portugal em 2005) e contrastar os resultados...

E O VEREDICTO É: 3,5/5 - BOM

FEIOS, PORCOS E MAUS

Dinâmico, cru e por vezes surreal, "Intervalo" (Intermission) segue as peripécias de múltiplas personagens dos subúrbios de Dublin, centrando-se num quotidiano desencantado e angustiante. Marcado por um ritmo frenético logo desde o abrupto início, o filme começa por seguir o percurso de Lehiff (interpretado por um convincente Colin Farrell), um desordeiro local, e reparte-se de seguida pelas experiências das restantes personagens, cujas histórias se entrecruzam.

John (Cillian Murphy, actor a ter em conta), um jovem empregado de supermercado, tenta aceitar o final do seu relacionamento com Deirdre (Kelly MacDonald), que entretanto iniciou um caso com Sam (Michael McElhatton), um homem casado. Na teia de personagens encontram-se ainda a instável esposa de Sam, as humildes irmã e mãe de Deirdre, um relutante produtor televisivo, um azarado condutor de autocarro e um vingativo detective (muito bem interpretado pelo veterando Colm Meaney), entre muitas outras.

Esta extensa galeria de figuras, se por um lado favorece o filme - a enérgica interligação dos sub-enredos não deixa que a narrativa caia na monotonia - acaba também por prejudicá-lo em certos momentos - alguns dos protagonistas carecem de densidade dramática e aproximam-se mais de caricaturas do que de indivíduos tridimensionais.

O argumento, apesar de incluir fragmentos das vidas de diversas personagens, não apresenta um desenlace tão surpreendente como a primeira parte do filme sugere, e a mistura de realismo, comédia negra, violência e drama que John Crowley proporciona é um pouco derivativa ("Trainspotting" de Danny Boyle ou "Snatch - Porcos e Diamantes" de Guy Ritchie, por exemplo, fizeram-no antes e melhor).

"Intervalo" foca o impacto do acaso e dos imprevistos nas relações humanas e nos rumos e escolhas de vida, mas nem sempre acerta no alvo e alguns episódios do filme são mais inconsequentes do que relevantes. Isso não impede, contudo, que a primeira obra de John Crowley proporcione um prometedor entretenimento com doses razoáveis de energia cinética e uma interessante mistura de humor corrosivo com momentos mais calorosos e emotivos. E apresenta, ainda, uma coesa e sólida direcção de actores, que faz esquecer algumas das limitações do filme e transforma "Intervalo" numa das boas surpresas de 2004.

E O VEREDICTO É: 3/5 - BOM

SATURDAY NIGHT FEVER

É verdade, a foto do post anterior não é do concerto de sábado, mas como a máquina fotográfica não funcionou foi o que se pôde arranjar...Mesmo assim, ainda espero receber uma ou duas fotos desse espectáculo de Rufus Wainwright em breve...

Como se já não bastasse o azar de não conseguir tirar fotos, quando cheguei à estação de comboio descobri que já não havia mais nenhuma viagem para a margem sul nessa noite...Tinham logo que começar as obras na linha no dia 14, e de repente lá estava eu sozinho na estação de Entrecampos à uma e tal da manhã quando o comboio seguinte partia às 6 ou 7...Se não tivesse pedido guarida ao meu colega de concerto, lá teria de acordar o meu pai a meio da noite, o que não era muito boa ideia...Obrigado pelo desenrascanço, P....

CONTA-ME HISTÓRIAS

Apesar de não ter sido a primeira vez que o cantautor canadiano Rufus Wainwright actuou em palcos portugueses (já passou pelo Festival Vilar de Mouros), o espectáculo de dia 13 na Aula Magna foi decerto aquele que mais convenceu e conquistou o público.

O espaço era apropriado para as atmosferas sonoras pessoais e intimistas de discos como "Poses" ou "Want One", e os elementos da plateia eram maioritariamente conhecedores e seguidores da obra do cantor/compositor/multi-instrumentista. Ainda que propícia à gestação de algum intimismo, a sala da Aula Magna encontrou-se surpreendentemente concorrida, congregando múltiplos fãs devotos a par de ocasionais curiosos e assinalando o processo de discreta ascensão de Rufus Wainwright. De resto, esta atenção especial do público português por alguns artistas de culto é já reconhecida (como os Lamb, Massive Attack ou Tindersticks podem atestar), e na noite de sábado encontrou-se - caso ainda restassem dúvidas - mais um nome a adicionar ao grupo de eleitos.

Saudando rapidamente os espectadores e iniciando "Harvester of Hearts" de forma repentina, Rufus Wainwright começou por interpretar algumas canções ao piano mas só levantou verdadeiramente os ânimos quando pegou na guitarra a acústica e anunciou "Let`s rock and roll". O tema que se seguiu foi o quase-hit "California", uma das suas composições mais conhecidas e o primeiro grande momento da noite. A partir daí, a actuação até então competente tornou-se algo mais e abriu espaço para uma crescente proximidade com o público e um redobrar de intensidade.

Intercalando as canções com curiosos relatos de experiências pessoais ou considerações sobre o mundo de hoje, o músico descobriu a chave para um espectáculo cativante, convincente e bem-disposto, que incluiu vários episódios interessantes. Entre estes, constaram as explicações para a atribulada escolha da capa do novo disco "Want Two" (com a Bela Adormecida, morte e violações à mistura) e observações acerca do contexto político actual ou das opções sexuais. Mais marcante ainda foi a homenagem que Wainwright prestou a Jeff Buckley (que até chegou a conhecer pouco antes da sua morte), dedicando-lhe um tema novo, "Memphis Skyline" (de "Want Two"), e interpretando "Hallelujah", de Leonard Cohen, um dos momentos de eleição da noite.

Explorando, ao longo da actuação, a sua faceta de hábil e carismático entertainer, Wainwright apresentou-se afável e espirituoso, o que não o impediu, todavia, de contaminar a interpretação das suas canções com inegável densidade, emoção, entrega e presença. O espectáculo seria porventura mais rico - pelo menos a nível instrumental - se o músico estivesse acompanhado pela banda, mas o trio constituído por piano, guitarra e voz (e que voz!!) foi mais do que suficiente para gerar uma noite apelativa e memorável.

Os temas do alinhamento percorreram todos os álbuns do cantor, desde o registo de estreia homónimo até ao recente (e inédito entre nós) "Want Two", passando pelo incontornável "Poses" e por "Want One". Assim, tanto houve espaço para a intensa "Vibrate" como para a sóbria "Greek Song" ou a canção interpretada em francês, "Compliante De La Butte" (esta da banda-sonora de "Moulin Rouge").

Os muito requisitados encores (porque foram 2) confirmaram a considerável devoção do público, que aplaudiu de pé, e também foram mais uma oportunidade para o músico elogiar a inesperada boa receptividade dos fãs portugueses (a alta percentagem de cabelo escuro, "muito sexy", foi outro ponto a favor da plateia lusa). Para a despedida Wainwright guardou a obrigatória "Cigarettes and Chocolate Milk" e "Poses", no primeiro encore, e o grande final foi marcado pelo improviso de "Foolish Love" e a sentida e envolvente "Go or Go Ahead", no segundo.

Apesar do desenlace com chave de ouro, sentiu-se a falta de canções como "Movies of Myself", "Evil Angel" e mesmo a excelente cover de "Across the Universe", mas o cantor afirmou que muitos dos seus temas não poderiam ser apresentados num concerto com as características do de sábado. Mas talvez tenha sido melhor assim, pois neste caso redobra-se o apetite para um novo concerto de Rufus Wainwright, que prometeu voltar (com banda!!) numa próxima oportunidade. Tendo em conta a sua estreia em palcos lisboetas, acredita-se que será muito bem-vindo.

E O VEREDICTO É: 3,5/5 - BOM

segunda-feira, novembro 15, 2004

A ADOLESCÊNCIA É UM LUGAR ESTRANHO

Realizadora de um dos filmes mais elogiados de 2004, "Lost in Translation - O Amor é um Lugar Estranho", Sofia Coppola estreou-se na realização há quatro anos com "As Virgens Suicidas" (The Virgin Suicides), um peculiar retrato da adolescência. Um objecto raro e atípico entre os muitos filmes sobre adolescentes que surgiram nos últimos anos, "As Virgens Suicidas" é a subtil e intrigante primeira-obra de Sofia Coppola. Inspirado no livro homónimo de Jeffrey Eugenides, o filme explora a entrada na adolescência e a interligação deste processo de mudança com o desejo, o sonho, a inocência, o sexo e a morte.

Situada nos anos 70, a obra segue as experiências das cinco irmãs Lisbon, reprimidas e controladas pelos pais. Simultaneamente encantadoras e sombrias, as cinco jovens irradiam uma carga etérea e hipnótica, apresentando um comportamento recatado e distinto do da maioria dos colegas. Escapando, na medida do possível, à pressão dos pais, as irmãs descobrem novas formas de perspectivar o mundo, um processo que tem tanto de surpreendente como de inquietante.

Ameaçadas pelo isolamento e falta de comunicação, as jovens criam escassos laços com o ambiente que as envolve, vivendo um quotidiano claustrofóbico onde tentam estabelecer pontos de evasão e fuga (e por vezes conseguem-no, como na brilhante cena da transmissão de música pelo telefone).

Sofia Coppola gera uma atmosfera absorvente, encantatória e enigmática, e apesar do ritmo da narrativa ser lento encontra-se carregado de intensidade e vibração. As subtis tonalidades do trabalho de iluminação, aliadas à insinuante música proporcionada pelo duo francês Air, suscitam adequadas doses de estranheza e fascínio, assinalando um crescendo emocional que conduz ao desconcertante (e inevitável?) desenlace.

O elenco está à altura da serenidade inebriante dos ambientes, com destaque para os meticulosos pais, interpretados por James Woods e Kathleen Turner, e para a mais rebelde e memorável das irmãs, a incandescente Kirsten Dunst.

Pode acusar-se o filme de não explicar as motivações de algumas personagens, deixando muitas questões em aberto, mas a insólita combinação de melancolia e cenários oníricos que caracteriza a aparente calmaria dos subúrbios é mais do que suficiente para conferir um universo próprio (e interessante) à primeira obra de Sofia Coppola.

E O VEREDICTO É: 3,5/5 - BOM

domingo, novembro 14, 2004

FRIDAY NIGHT FEVER 2

Cá está um snapshot de sexta-feira 12 (elaborado através das mais avançadas tecnologias cut n`paste), com alguns dos intervenientes do meu jantar de 23º aniversário...Optou-se pelos matrecos em detrimento do cinema, até porque o cartaz não era dos mais apelativos (e também já tinha visto os filmes que mais me interessavam...é o problema dos multiplexes...). Anyways, foi giro e para o ano há mais...

A PRENDA DA MODA

Pois é, mais tarde ou mais cedo este livro tinha de vir cá parar, já que parece estar em todo o lado...Não é que tenha grande curiosidade em lê-lo, mas como me foi oferecido pelo meu irmão (apesar de não constar na wish list que lhe entreguei, mas enfim...) é mais um a acrescentar à lista de espera...E aproveito para confirmar se tem tanto proveito como fama...

sexta-feira, novembro 12, 2004

O ROCK NÃO MORREU

Baixista das Hole durante a criação de "Celebrity Skin" e assumindo a mesma função na fase terminal dos Smashing Pumpkins - em "MACHINA: The Machines of God" e no álbum disponibilizado online, "Friends and Enemies of Modern Music" - Melissa Auf der Maur comprova que os seus méritos conseguem alargar-se através do lançamento de um disco a solo, "Auf der Maur".

O primeiro single, "Followed the Waves", já indiciava a manifestação de um rock clássico, directo e a espaços rude, exibindo paralelismos com algumas das composições das bandas em que Auf der Maur colaborou. O resto do álbum mantém-se no mesmo comprimento de onda, embora apresente alguns desvios e outras contaminações em certos momentos.

Ainda que esta seja uma aventura a solo, a cantora rodeou-se de companhias estimáveis, entre elas James Iha (que passou pelos Smashing Pumpkins e Zwan), Eric Erlanson (o excelente guitarrista das Hole) ou Josh Homme e Nick Oliveri, dos Queens of the Stone Age. Esta lista de colaboradores talvez ajude a explicar a solidez do álbum, marcado por um rock vigoroso, enérgico e apelativo, mesclando sonoridades do rock alternativo sem deixar de ser acessível para um público mais alargado.

Melissa Auf der Maur, para além de eficaz baixista (mas isso já se sabia), demonstra que está também em boa forma vocal, como pode ser confirmado em convincentes canções como a insinuante "Taste You" (que possui uma recomendável interpretação alternativa em francês) ou a efervescente "Real a Lie", os dois singles mais recentes e dois dos melhores momentos do disco.

Apesar de não trazer nada de realmente novo ou muito surpreendente ao universo musical actual, "Auf der Maur" inclui um conjunto de temas suficientemente fortes e bem estruturados, condensando referências rock, pop, indie, metal, grunge e até mesmo góticas. Afastando-se das tendências nu-metal que minam muitos dos projectos rock de hoje, o disco adquire um certo tom nostálgico, repisando alguns dos territórios semelhantes aos dos Smashing Pumpkins ou Hole.

Não é que o álbum não tenha a carga de inspiração e criatividade de registos como "Siamese Dream" ou "Live Through This", mas consegue equilibrar canções de considerável apelo melódico ("Would If I Could" ou "I`ll Be Anything You Want", não muito distantes dos ambientes pop do disco "Celebrity Skin") com episódios repletos de atmosferas de rudeza e tensão (a potente faixa de abertura "Lightning is My Girl" ou "My Foggy Notion"). E, ao contrário do igualmente recente “American Sweetheart”, a aventura a solo da ex-colega Courtney Love, Auf Der Maur consegue apresentar um trabalho coeso que não se limita a ser “mais do mesmo”.

Num contexto em que muitos acusam o rock de falta de vitalidade, Melissa Auf der Maur comprova que ainda é possível baralhar e voltar a dar através de um recomendável registo de estreia que, apesar de actual e portentoso, não esquece a herança do passado.

E O VEREDICTO É: 3/5 - BOM

OLD SCHOOL

Consta que Melissa Auf der Maur e Rufus Wainwright (ambos na foto acima, para a NERVE) foram colegas de escola. Já que o cantor/compositor/multi-instrumentista actua em Lisboa amanhã (na Aula Magna e, antes disso, na FNAC do Chiado), poderia convidar a amiga...Infelizmente, não me parece que nos reserve essa surpresa e terei de o ver só a ele...