Com o seu filme anterior, “Nos Meus Lábios”, Jacques Audiard já tinha provado que era um cineasta a seguir com atenção, capaz de proporcionar uma narrativa envolvente recorrendo a actores e personagens tridimensionais e bem construídos.
“De Tanto Bater o Meu Coração Parou” (De Battre Mon Coeur S`Est Arre) vem confirmar essas qualidades, apresentando mais um interessante olhar sobre o quotidiano urbano que aqui é filmado de forma ainda mais tensa, áspera e agarrada aos actores.
Debruçando-se sobre o dia-a-dia de Tom, um jovem agente imobiliário que vive uma difícil rotina devido à conturbada relação com o pai e às atitudes algo dúbias que adopta na sua profissão, o filme apresenta um protagonista repleto de convulsões internas que se intensificam quando um dos seus sonhos, quase esquecidos, o encoraja a tentar dar um novo rumo à sua vida.
Redescobrindo a sua paixão pelo piano, de resto um dos elementos que o interliga à sua falecida mãe, Tom começa a perseguir cada vez mais afincadamente o desejo de se tornar num pianista profissional, ambição que é recebida com desagrado ou mesmo desprezo por aqueles que o rodeiam. Tentando escapar a uma realidade dura, violenta e sem perspectivas, encontra assim um escape que lhe permite conseguir aproximar-se de uma vida mais auspiciosa e da sua realização pessoal.
Realista, imprevisível e verosímil, “De Tanto Bater o Meu Coração Parou” é uma obra ousada e efervescente, muito por culpa do protagonista, ou melhor, do actor que o encarna, o excelente Romain Duris, que embora não seja propriamente um estreante – participou, por exemplo, no muito recomendável “A Residência Espanhola”, de Cédric Klapisch -, evidencia aqui, como nunca antes, as suas enormes potencialidades, estando à altura de uma personagem exigente e desafiante.
A interpretação de Duris é tão convincente – seguramente uma das melhores de 2005 - que sustenta o interesse pelo filme mesmo quando o argumento nem sempre entusiasma, uma vez que há algumas cenas demasiado longas e dispensáveis.
Contudo, seria injusto considerar “De Tanto Bater o Meu Coração Parou” apenas mais um one-man show, pois Jacques Audiard expõe também os seus méritos enquanto realizador e é capaz de gerar uma atmosfera crua e claustrofóbica, muito adequada ao trepidante dia-a-dia de Tom.
A ecléctica banda-sonora e o minucioso cuidado com o trabalho de fotografia e iluminação são outros trunfos do filme, mas infelizmente há aspectos que causam um certo desequilíbrio, como o subaproveitamento de algumas personagens secundárias ou a fragmentação narrativa, dado que apesar de vários momentos de considerável carga dramática há tantos outros desprovidos de vibração.
Mesmo sendo um filme irregular, “De Tanto Bater o Meu Coração Parou” consegue superar alguns dos seus entraves, tornando-se numa das boas surpresas do ano, com (pontuais) cenas de uma visceralidade emocional muito conseguida e próximas de domínios de Scorsese, Eastwood ou Iñarritu (essa semelhança com algum cinema americano derivará, pelo menos em parte, do facto do argumento ser baseado em “Fingers”, película de culto de 1978 realizada por James Toback e protagonizada por Harvey Keitel). Não é uma obra tão brilhante como poderia, mas é suficientemente sólida para se adicionar à lista de filmes a descobrir.
E O VEREDICTO É: 3/5 - BOM
6 comentários:
Scorsese com três "s" e só com um "c"... Até me dói a alma...
Huh...são coisas que acontecem :P
Mas realmente já não é a primeira vez que me dizes isso, vamos lá ver se é a última :S
grande título tem este filme.
bom registo.
abraço
Concordo, mesmo não sendo um grande filme...
Obrigado e fica bem ()
Hum...já li críticas muito positivas em relação a este filme!
Cumps. cinéfilos
Vai vê-lo, é daqueles que vale o preço do bilhete...
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