domingo, março 19, 2006

THE SHOW MUST GO ON

Embora raramente proporcione obras excepcionais, o britânico Stephen Frears também quase nunca gera filmes desprovidos interesse, possuindo uma filmografia marcada pela versatilidade de géneros e pela considerável competência com que trabalha cada um deles.

“Mrs. Henderson” (Mrs. Henderson Presents), a sua proposta mais recente, é mais uma prova da sua eficácia, baseando-se em factos verídicos para contar uma história ambientada na Londres de finais dos anos 30, em particular na compra de um teatro por parte de uma abastada viúva de meia idade, que o torna num dos centros culturais mais emblemáticos da cidade.

Misto de musical, drama e comédia, o filme ancora-se na relação que se estabelece entre Laura Henderson, a viúva aristocrata, e o especialista por si contratado para dirigir o recém-adquirido teatro, Vivian Van Damm.
Conjugando empatia e conflito, a parceria profissional da dupla protagonista acaba por resultar e leva a que a partilha de ideias e o empenho mútuo torne o Teatro Windmill num local fervilhante e muito concorrido, fruto dos seus espectáculos musicais inovadores e ousados (e vincados por um polémico recurso a cenas de nudismo).

O rigor dos cenários e do guarda-roupa, de um profissionalismo inatacável, não esconde o apoio da BBC, uma referência na produção de filmes de época, que a par das atmosferas marcadas por traços do realismo britânico (já habitualmente desenvolvidas por Frears) contribui para que “Mrs. Henderson” apresente uma reconstituição credível do período em que decorre.

A consistência da película deve também muito ao elenco, pois tanto os actores principais como os secundários brilham e conquistam. Judi Dench faz da protagonista uma personagem irresistível, com uma deliciosa excentricidade e energia, e Bob Hoskins, embora menos irreverente, encarna um sólido e carismático Mr. Van Damm.
Do leque de secundários, Kelly Reilly volta a insinuar-se como uma das mais talentosas jovens actrizes britânicas (depois de ter dado nas vistas em “A Residência Espanhola”, “As Bonecas Russas” ou “Orgulho e Preconceito”), interpretando a bailarina Maureen de forma hábil e comovente.

Tal como na maioria das suas obras, Frears desenvolve aqui um satisfatório equilíbrio de humor e carga dramática, iniciando “Mrs. Henderson” de forma leve mas inserindo-lhe depois uma progressiva tensão, ou não fosse boa parte da segunda metade do filme assombrada pelos conflitos da Segunda Guerra Mundial.
Esta combinação nunca soa a falso e o duo protagonista abandona, aos poucos, os traços caricaturais mais imediatos para revelar a sua espessura emocional, nunca deixando, no entanto, de encetar divertidíssimos diálogos que expõem a fricção constante dos seus temperamentos.

Com condimentos destes, a que pode adicionar-se o cativante genérico inicial, bastante apropriado à época em questão, ou o cuidado trabalho de fotografia, não surpreende que “Mrs. Henderson” resulte num entretenimento conseguido e aprazível, que mesmo sem acrescentar muito ao Cinema é um título recomendável e merecedor de atenções.
E O VEREDICTO É: 3/5 - BOM

3 comentários:

Anónimo disse...

Este fica para DVD :). Mas gostei de ler a análise.

Abraço

gonn1000 disse...

Parece-me que ficará mesmo, porque acho que já saiu das salas lol

gonn1000 disse...

Ficou mesmo pouco tempo nas salas, é pena, não que seja um grande filme mas não merecia passar despercebido.