segunda-feira, janeiro 31, 2005

AS PRINCESAS DA (INDIE) POP

Quem disse que não há girls band criativas e profícuas? Após apostar na coolness do funk e do hip-hop em "Natural Ingredients", no início da década de 90, e de continuar com o indie pop atmosférico e sedutor de "Fever In Fever Out", o trio nova-iorquino Luscious Jackson voltou a surpreender em 1999 com "Electric Honey".

O facto de terem sido "apadrinhadas" pelos Beastie Boys e participado na banda-sonora de "O Bom Rebelde" (Good Will Hunting), de Gus Van Sant, ao lado de nomes como Elliot Smith ou Dandy Warhols, tornou-as ligeiramente mediáticas, mas não o suficiente para que muitos tenham reparado na dissolução do projecto.

"Electric Honey" é, no entanto, um digno álbum de despedida, evidenciado o eclectismo que a banda demonstrou desde o início. Praticando um rock alternativo não muito distante das Breeders ou Veruca Salt, as Luscious Jackson destacaram-se destas pelo apelo pop das suas composições, com sonoridades que, apesar de acessíveis, continham também consideráveis doses de inventividade e experimentalismo. "Electric Honey" atesta bem esta vertente do grupo, proporcionando um melting pot festivo e contagiante que evita a formatação de uma pop menos exigente.

"Nervous Breakthrough" e "Ladyfingers", os temas de abertura, são dois exemplos de energia e vibração irresistível, que certamente seriam singles de rotação privilegiada nas rádios se estas ainda se preocupassem em divulgar nova música (há, no entanto, raras excepções que sempre promoveram a banda). O intrigante breakbeat de "Christine" origina atmosferas mais soturnas, que se mantêm na pop extraterrestre de "Alien Lover". Mais calorosos, os ambientes de "Summer Daze" destilam a sensualidade e subtileza que grupos como os Texas gostariam de ter, e caso alguém ainda duvide que este é um respeitável party album, as Luscious Jackson convidam Debbie Harry, dos Blondie, para "Fantastic Fabulous".

A combinação das vozes de Jill Cunniff e Gabby Glaser permite uma eficaz alternância entre tons mais doces e traços de maior aspereza, e a oferta sonora consegue ser versátil e abrangente - funk, pop, r&b, electrónica, rock alternativo- sem perder a coesão. Há alguns momentos com quantidades de açúcar um pouco acima do recomendável ("Friends" e "Beloved"), e por vezes é melhor não pensar muito acerca da relevância das letras, mas estes são pontuais episódios que não retiram o hipnotismo de temas como "Gypsy" ou a carga encantatória e absorvente de "Fly" (uma das melhores canções do disco, cuja apaziguada sonoridade western/mariachi não destoaria na banda-sonora de um filme de Quentin Tarantino ou num álbum dos Calexico).

Melódico, lúdico, dançável e com uma boa-disposição contagiante (mas não estupidificante), "Electric Honey" não chega a ser um álbum essencial ou particularmente inovador - não há aqui nada de revolucionário, apenas (indie) pop bem confeccionada - mas é um dos discos mais saborosos para afastar a depressão e o mau-humor. Faz jus ao título, portanto.

E O VEREDICTO É: 3,5/5 - BOM

5 comentários:

O Puto disse...

Eu acho o "Fever In Fever Out" fabuloso!
Este não cheguei a ouvir.

O Puto disse...

Dizes que andas a ouvir o "Satan's Circus". Que tal?

gonn1000 disse...

Também gostei do "Fever In Fever Out", embora prefira o "Electric Honey".

Quanto ao "Satan's Circus", a reacção está a ser um bocado ambivalente: a contínua repetição de sons tem tanto de hipnótico como de aborrecido. Talvez mais algumas audições desfaçam as dúvidas...

Planeta Pop disse...

Grande disco, yes sir! Bem lembrado!
Na verdade, para mim, qualquer disco desta senhoras é bom! Infelizmente, nunca tiveram o reconhecimento e o sucesso que mereciam...

gonn1000 disse...

Pois, mas isso levava-nos a outras conversas...Não foi certamente por falta de canções com potencial radiofónico...