Uma das boas surpresas do cinema francês recente, "Nos Meus Lábios" (Sur Mes Lèvres) apresenta uma bem conseguida mistura de drama e policial, desenvolvendo atmosferas de suspense sem nunca subvalorizar a complexidade das personagens.
O ponto de partida desta película de Jacques Audiard é a relação de Carla, uma secretária parcialmente surda de uma empresa de construção, e Paul, um ex-condenado que tenta reorganizar a sua vida e vai auxiliar Carla no emprego.
Solitários e com um dia-a-dia pouco próspero, os protagonistas de "Nos Meus Lábios" geram uma ligação que os faz adoptar uma postura menos individualista e, aos poucos e em conjunto, conseguem ir superando alguns obstáculos.
Assim, Carla vai ultrapassando a sua timidez e insegurança, características que levam a que os outros a subestimem, e Paul vê reduzida a sua esfera de inadaptação e desvio.
Seguindo estas duas personagens de perto, "Nos Meus Lábios" é um filme intimista que entrecruza eficazmente tensão dramática com as inquietações próprias de um thriller, proporcionando um interessante olhar sobre o amor, a solidão, os laços de confiança ou o ostracismo visível nas relações sociais contemporâneas.
Jacques Audiard ofecerece um seguro trabalho de realização, apostando num realismo lacónico, num estilo sóbrio e num ritmo astuto e envolvente. A direcção de actores é igualmente sólida, com destaque para o par central, composto por Emmanuelle Devos (apropriadamente frágil e relutante) e Vincent Cassel (em mais um desempenho viril e carismático).
Longe de revolucionário, mas quase sempre entusiasmante - excepto no dispensável subplot sobre o desaparecimento da esposa do polícia - "Nos Meus Lábios" é uma obra intrigante, sensível e absorvente, mais um exemplo da versatilidade da cinematografia francesa actual.
E O VEREDICTO É: 3/5 - BOM
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