O cinema independente norte-americano tem, nos últimos anos, desenvolvido muitos e diversos olhares sobre a adolescência, tema que proporcionou alguns dos seus melhores filmes, quase todos ambientados, também, nas realidades suburbanas. Sejam mais crus ("Bully - Estranhas Amizades", de Larry Clark), bizarros ("Donnie Darko", de Richard Kelly), etéreos ("As Virgens Suicidas", de Sofia Coppola) ou ácidos ("Ghost World - Mundo Fantasma", de Terry Zwigoff), revelam ou confirmam cineastas que propõem novas visões sobre o processo do crescimento e amadurecimento, tendo em comum as dores impostas pela auto-descoberta e solidão.
"L.I.E. - Sem Saída", que em 2001 deu a conhecer Michael Cuesta, é mais um exemplo de um consistente retrato coming of age, centrado no quotidiano de um adolescente de Long Island.
Através das experiências de Howie, um tímido, solitário e culto jovem de 15 anos, Cuesta propõe uma história atravessada pela dissolução familiar, a descoberta (e questionamento) da sexualidade ou a criação e quebra de laços de amizade, levantando questões acerca de temáticas actuais como a delinquência juvenil ou a pedofilia.
"L.I.E. - Sem Saída", que em 2001 deu a conhecer Michael Cuesta, é mais um exemplo de um consistente retrato coming of age, centrado no quotidiano de um adolescente de Long Island.
Através das experiências de Howie, um tímido, solitário e culto jovem de 15 anos, Cuesta propõe uma história atravessada pela dissolução familiar, a descoberta (e questionamento) da sexualidade ou a criação e quebra de laços de amizade, levantando questões acerca de temáticas actuais como a delinquência juvenil ou a pedofilia.
Esta última tornou o filme numa obra algo controversa, não por cenas rudes e graficamente ousadas típicas da escola Larry Clark, mas antes pela perspectiva atípica que traça de um pedófilo de meia idade com quem o protagonista acaba por sentir afinidade. Recusando estereotipar a caracterização de Big John, Cuesta não cede a condenações morais nem à histeria fácil e apresenta-o como uma figura tridimensional e credível, atormentada por conflitos internos com os quais se debate há muito.
A opção por este tipo de abordagem é corajosa e coloca o espectador perante sequências inquietantes, mas "L.I.E. - Sem Saída", apesar de ser uma primeira obra, consegue manter até ao fim um difícil equilíbrio livre de lugares-comuns, convidando à reflexão sem forçar defesas ou acusações das condutas das suas personagens.
Grande parte da solidez da película deve-se à apurada escolha do elenco, onde constam o veterano e habitualmente excelente Brian Cox, que faz de Big John um pedófilo sem quaisquer clichés, ou os jovens Billy Kay, que encarna o melhor amigo do protagonista com uma rara desenvoltura, e Paul Dano, capaz de tornar Howie numa personagem verosímil e sensível pela qual é quase impossível não sentir empatia.
Igualmente sedutor é o trabalho de realização de Cuesta, que emana um rigor e sofisticação assinaláveis. Conseguindo imprimir uma palpável atmosfera realista ao filme, proporciona momentos vincados por uma absorvente energia visual, sejam os dos fugazes planos da auto-estrada - Long Island Expressway, cuja sigla motivou o título do filme (por corresponder também à palavra "mentira" em inglês) - assim como os de outros espaços exteriores (como os jardins, com tons verdes estranhamente hipnóticos) ou interiores (a envolvente casa de Howie, em particular a carga sensorial resultante das tonalidades azuis do seu quarto).
Mesmo sendo marcada por algumas limitações - a personagem do pai de Howie poderia ser mais desenvolvida, o desenlace é algo abrupto e talvez não o mais interessante -, "L.I.E. - Sem Saída" é uma impressionante obra de estreia, que prova que o cinema indie, mesmo quando repisa as mesmas temáticas, ainda é capaz de oferecer surpresas muito recomendáveis. E esta tem lugar cativo entre as melhores dos últimos anos.
A opção por este tipo de abordagem é corajosa e coloca o espectador perante sequências inquietantes, mas "L.I.E. - Sem Saída", apesar de ser uma primeira obra, consegue manter até ao fim um difícil equilíbrio livre de lugares-comuns, convidando à reflexão sem forçar defesas ou acusações das condutas das suas personagens.
Grande parte da solidez da película deve-se à apurada escolha do elenco, onde constam o veterano e habitualmente excelente Brian Cox, que faz de Big John um pedófilo sem quaisquer clichés, ou os jovens Billy Kay, que encarna o melhor amigo do protagonista com uma rara desenvoltura, e Paul Dano, capaz de tornar Howie numa personagem verosímil e sensível pela qual é quase impossível não sentir empatia.
Igualmente sedutor é o trabalho de realização de Cuesta, que emana um rigor e sofisticação assinaláveis. Conseguindo imprimir uma palpável atmosfera realista ao filme, proporciona momentos vincados por uma absorvente energia visual, sejam os dos fugazes planos da auto-estrada - Long Island Expressway, cuja sigla motivou o título do filme (por corresponder também à palavra "mentira" em inglês) - assim como os de outros espaços exteriores (como os jardins, com tons verdes estranhamente hipnóticos) ou interiores (a envolvente casa de Howie, em particular a carga sensorial resultante das tonalidades azuis do seu quarto).
Mesmo sendo marcada por algumas limitações - a personagem do pai de Howie poderia ser mais desenvolvida, o desenlace é algo abrupto e talvez não o mais interessante -, "L.I.E. - Sem Saída" é uma impressionante obra de estreia, que prova que o cinema indie, mesmo quando repisa as mesmas temáticas, ainda é capaz de oferecer surpresas muito recomendáveis. E esta tem lugar cativo entre as melhores dos últimos anos.
E O VEREDICTO É: 4/5 - MUITO BOM
4 comentários:
Eu gosto do Michael Cuesta dirigindo séries também. Como "Six Feet Under" e , a nova, "Dexter"; Vou ver se consigo assistir esse L.I.E. também. ;)
Sim, depois do "L.I.E." realizou alguns episódios de "Six Feet Under", o que só lhe fica bem, e mais recentemente a sua segunda longa-metragem "Twelve and Holding", que também vale a pena (crítica aqui muito em breve). "Dexter" não conheço.
Curioso que depois de L.I.E. outros filmes "indie norte-americanos" abordaram a temática, "Mysterious Skin", de 2004 e "Hard Candy", o ano passado. Nenhum lhe chega aos pés, ainda que a abordagem do tema seja diferente em todos eles.
Para além desses houve "The Woodsman", "Birth" e até mesmo "Mystic River" acaba por incidir sobre isso. O "Mysterious Skin" nunca tive oportunidade de ver, mas tenho curiosidade.
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