Uma atenta análise aos hábitos alimentares das sociedades ocidentais ou uma mera arma de arremesso contra a McDonald`s? O documentário "Super Size Me - 30 Dias de Fast Food" divide-se entre estas duas vertentes.
Num período em que o cinema documental tem recebido uma crescente atenção mediática (comprovado pelo sucesso de eventos como o doclisboa), "Super Size Me - 30 Dias de Fast Food", de Morgan Spurlock, é mais um dos exemplos do género que chega a salas nacionais em 2004. Vencedor do Prémio de Melhor Realizador no Festival de Sundance, o documentário tem gerado alguma polémica devido à abordagem dos malefícios da fast-food, traçando um retrato negro dos restaurantes que oferecem este tipo de alimentação (com um olhar particularmente incisivo e acusador sobre a McDonald`s).
Recentemente, cineastas que se movem dentro do género documental como Nicolas Philibert (Ser e Ter), Agnès Varda (Os Respigadores e a Respigadora) ou Catarina Mourão (Desassossego) têm tido algum sucesso junto de um público de considerável dimensão, mas o estilo de Morgan Spurlock assemelha-se mais ao tipo de discurso cáustico do controverso Michael Moore (Bowling for Columbine, Fahrenheit 9/11), uma vez que o realizador partilha da mesma apetência por uma componente lúdica caracterizada por algum humor negro e ironia.
Este aspecto faz com que "Super Size Me - 30 Dias de Fast Food" não se deixe levar muito a sério, começando logo pela premissa, onde o realizador se torna cobaia de uma experiência através da qual se alimentará exclusivamente de fast-food durante um mês. Os resultados desta dieta não são os mais saudáveis, minando a saúde de Spurlock a vários níveis - enjoos constantes, aumento do colesterol, obesidade, perturbação da potência sexual- e o realizador utiliza esses efeitos nocivos para criticar os malefícios do consumo deste tipo de comida (recorrendo, também, a testemunhos de médicos especializados).
Se o alerta para os cuidados a ter na alimentação é útil e necessário, o comportamento algo irresponsável Spurlock para o demonstrar - a McDonald`s é quase identificada como um alvo a abater e o realizador dá seguimento à sua dieta apesar dos avisos dos médicos e dos múltiplos vómitos - acaba por retirar alguma da força da análise.
De resto, muitos dos elementos do documentário apenas fazem sentido dentro da população dos EUA - o tão falado menu Super Size nem existe em Portugal -, embora o desvio dos princípios que orientam uma alimentação saudável ocorra a nível bem mais alargado. "Super Size Me - 30 Dias de Fast Food" revela-se mais pertinente quando aborda o tipo de refeições servidas nas escolas, já que, em momentos como esse, consegue afastar-se da lógica excessiva próxima dos postulados de Michael Moore ou de um formato parente dos reality-shows.
Contendo mais estilo do que substância, este projecto de Morgan Spurlock não deixa de fornecer algumas bases de reflexão acerca de questões relevantes das sociedades contemporâneas, mesmo sendo um pouco enjoativo e indigesto a espaços.
E O VEREDICTO É: 2,5/5 - RAZOÁVEL
2 comentários:
Por falar em documentários recentes, não esquecer o melhor de todos: Os Friedman.
Pois, também ouvi falar muito bem desse, mas infelizmente não cheguei a vê-lo...Mais um para a lista...
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