domingo, agosto 21, 2005

O ESTRANHO MUNDO DE WILLY

Um dos cineastas que, ao longo dos anos, tem definido e cimentado um universo próprio e repleto de sinais particulares, Tim Burton possui uma filmografia interessante mas também algo irregular, como as suas obras mais recentes – os pouco convincentes "O Planeta dos Macacos" ou "O Grande Peixe" - puderam atestar.

"Charlie e a Fábrica de Chocolate" (Charlie and the Chocolate Factory), a sua película mais recente, adapta o livro infantil homónimo de Roald Dahl e segue as peripécias de Charlie Bucket, um rapaz britânico pobre fascinado pela fábrica de chocolates Wonka (os melhores do mundo) e que ganha, numa tablete, um bilhete que lhe permite visitá-la.
Este prémio, partilhado por apenas mais cinco crianças em todo o mundo, abre-lhe as portas para um mundo envolto em mistério, uma vez que ninguém sabe como são os interiores da fábrica e o seu proprietário, Willy Wonka, é um multimilionário intrigante e atípico.

Misto de fantasia, drama familiar, comédia agridoce e mesmo algum suspense, "Charlie e a Fábrica de Chocolate" recupera a bizarria e excentricidade que tornaram Burton num realizador singular mas que já não se encontravam muito presentes nas suas últimas obras.
Felizmente, o cineasta reintroduz aqui a imaginação delirante, o desregrado humor negro e os envolventes ambientes góticos que o destacaram, tornando este no seu melhor filme desde o subversivo "Marte Ataca!".

Seguindo os modelos clássicos de uma fábula, onde o Bem triunfa sobre o Mal, sendo a virtude alvo de recompensa, "Charlie e a Fábrica de Chocolate" condimenta esta vertente algo maniqueísta com uma aura nonsense e ambígua que se encontra nas melhores películas de Burton.
Willy Wonka é um dos mais conseguidos elementos essa estranha peculiaridade, onde Johnny Depp compõe uma invulgar personagem cuja imagem contém tanto de Michael Jackson (!) como de José Castel-Branco (!!), escondendo-se por detrás de uma máscara de ironia que será derretida pelo calor emocional do jovem Charlie.

Apropriado para um público dos 7 aos 77, "Charlie e a Fábrica de Chocolate" é suficientemente ambivalente e ultrapassa territórios de um mero conto infantil, possibilitando mais do que uma leitura e focando temáticas que vão desde a desigualdade social às tensões das relações familiares, e Burton é especialmente incisivo na denúncia de alguns dos hábitos actuais das crianças (desde o egoísmo à excessiva competitividade, passando pela dependência de videojogos e da televisão).

Lúdico e pertinente, o filme cativa ainda pela soberba criatividade visual, especialmente inspirada nas surpreendentes atmosferas dos interiores da fábrica, propícios a uma imaginação sem limites que proporciona múltiplos pequenos prodígios.

Contudo, "Charlie e a Fábrica de Chocolate" possui também alguns elementos menos conseguidos, nomeadamente a construção das personagens, figuras demasiado lineares e esquemáticas, de escassa densidade emocional, onde apenas Willy Wonka e Charlie são a excepção (este último não tanto pela personagem - que não deixa de ser formatada - mas pela muito sólida e comovente interpretação de Freddie Highmore, ainda melhor do que a que o jovem actor tinha apresentado em "À Procura da Terra do Nunca").
Os números musicais dos Oompa-Loompas, embora contem com a composição do quase sempre recomendável Danny Elfman, são demasiado intrusivos e muitas vezes enfadonhos, e o músico sai-se francamente melhor nas partituras instrumentais.

Mesmo com estes factores que o desequilibram, "Charlie e a Fábrica de Chocolate" é ainda um título refrescante e um dos mais entusiasmantes do Verão de 2005, diluindo os limites entre o real e o onírico e gerando um saboroso blockbuster offbeat. Bem vindo de volta, Tim Burton.
E O VEREDICTO É: 3,5/5 - BOM

33 comentários:

Spaceboy disse...

Estou desejoso de ir ver este filme, sendo que o Tim Burton é para mim um dos melhores realizadores de sempre. Como amanhã vou para Lisboa (e vou aproveitar a minha estadia para ir a Corroios ver Blind Zero, Da Weasel..), de certeza que vou ao cinema ver este filme.
Não percebo porque é que há tanta gente que não gosta do «Planeta dos Macacos» e do «Big Fish» (que eu acho uma das obras-primas do Burton...), mas pronto, são gostos...

mr pavement disse...

em breve. espero um bom filme.

gonn1000 disse...

Spaceboy: Ah, vais a esses concertos? Também estou a pensar passar por lá (mas não nos dias de Bonga ou Roberto Leal :S).
Achei "Planeta dos Macacos" um blockbuster banal e "Big Fish" um filme demasiado açucarado e enfadonho, mas, como dizes, são gostos :)

FDV: Eu também esperava e não saí desiludido. Bom filme...

Spaceboy disse...

De certeza que não vou aparecer lá no dia de Bonga ou Roberto Leal, lol. Amanhã de certeza que vou ver Blind Zero, pode ser que te veja...Fica bem.

gonn1000 disse...

Também deverei estar por lá. Se me vires diz qualquer coisa, então :)

Francisco Mendes disse...

Altamente recomendável. É já um dos melhores do ano! Mas faltou um bocadinho para me arrebatar completamente... e aquelas musiquinhas dos Oompa Loompas... :\

No entanto será um filme recordado no futuro pela geração infantil. A ressonância moral e a panóplia visual fazem dele um Clássico instantâneo.

gonn1000 disse...

Sim, se limasse algumas arestas seria um grande filme, assim é "apenas" uma das boas surpresas do ano (se é das melhores ainda não sei, há que esperar até ao final de Dezembro para fazer o balanço).

brain-mixer disse...

Como tenho vindo a dizer, este faltou-me o visual mais negro e gótico de Burton, tornou-se demasiado infantil para o que esperava dele. E Big Fish não é pouco convincente, como aí escreves: Entre Big Fish e Forrest Gump, prefiro o Burton irrealista que ao Zemeckis lamechas...

Anónimo disse...

é verdade, como sendo um filme infantil, a linha de argumento torna-se demasiado linear, mas em compensação, toda a bizarria geral do filme é delirante.

gonn1000 disse...

Brain-Mixer: Não o acho muito infantil, mas um pouco linear demais... Achei "Big Fish" irrealista mas também um pouco lamechas, mas não posso compará-lo com "Forrest Gump" porque não vi o filme do Zemeckis (embora me tenham oferecido o VHS há anos, nunca cheguei a retirar o plástico lol).

membio: Sim, nota-se claramente - e ainda bem - a marca de Burton, algo que já não se via nas suas últimas obras...

Anónimo disse...

Para mim, é um dos filmes do ano...mas é apenas a minha opinião. Para saberes mais lê a minha análise.

Cumps. cinéfilos

gonn1000 disse...

Sim, já vi que gostaste mais do que eu. Do ano não diria, mas é dos melhores do Verão...

Daniel Pereira disse...

Muito a sério: dizer que "Big Fish" é um filme irrealista não é uma afirmação um bocado parva?

gonn1000 disse...

zaza: Então parece que diferes um pouco do resto dos comentadores deste post :)

Daniel: Não.

brain-mixer disse...

Quando digo que Big Fish é irrealista é no sentido de "surrealista". Olha para a cena das pipocas paradas no ar, as sereias e outras loucuras Burtonianas, não achas que são irrealistas? Isto não quer dizer que o filme não é mau, pelo contrário! Esta 'afirmação' foi para comparar com o Forrest Gump (que é um surrealismo hyper-realista :P )LOL

Daniel Pereira disse...

De irrealista a surrealista ainda vai um bom passo. Agora, chamar irrealista a um filme do Tim Burton só me dá vontade de rir. Aliás, de chorar. Pior quando se utiliza essa palavra para realçar algo negativo no filme. Tão ao lado...

gonn1000 disse...

Não creio que nem eu nem o brain-mixer tenhamos usado o termo com sentido pejorativo. E pior seria chamar "realista" a um filme do Tim Burton, porque isso é o que não são seguramente. De qualquer forma, não vale a pena chorares por causa disso :P

Daniel Pereira disse...

Para adjectivar o filme de realista era preciso ser completamente parvo. Mas adjectivá-lo de irrealista também não anda muito longe.

gonn1000 disse...

Lembra-me de não ir ao El Corte Ingles nos próximos tempos. Os efeitos colaterais de estar lá demasiado tempo parecem sinistros :S

Daniel Pereira disse...

Despedi-me Sábado. Será que o problema é de não estar lá?

Ass: Fundamentalista!

gonn1000 disse...

Obrigado pelo esclarecimento, zaza. Espero que desta vez o Daniel tenha ficado elucidado, porque "utópico", "idealista" e "sonhador" parecem-me adjectivos que têm tudo a ver com "Charlie e a Fábrica de Chocolate"...

Daniel Pereira disse...

Então é isso que significa irrealista. Xi, obrigado malta.

gonn1000 disse...

Eu não sei, o dicionário é que diz :P

brain-mixer disse...

Acabemos com esta conversa: Tim Burton é um GÉNIO!!

Todos de acordo?
Pronto!

gonn1000 disse...

Bem, tem dias. Neste filme não esteve mal...

Spaceboy disse...

Já vi o filme e adorei! Superou todas as minhas expectativas e só vem provar a minha teoria (que partilho com o brain-mixer): o Tim Burton é genial!

gonn1000 disse...

Ok, ainda bem... Não superou as minhas expectativas, mas valeu a pena.

Mafalda Azevedo disse...

Eu tambem adorei. Uma obra-prima comparavel a Ed Wood. Assim que vemos os primeiros minutos, parece que entramos num sonho... Absolutamente genial!

gonn1000 disse...

Bem, parece que só eu é que não me rendi completamente. Maybe next time...

Anónimo disse...

Willy Wonka, Willy Wonka...
The Amazing Chocolatier.
Willy Wonka, Willy Wonka...
Everybody give a cheer!

He's modest, clever, and so smart,
He can barely restrain it.
With so much generosity,
There is no way to contain it...
To contain...to contain...to contain...to contain.

Willy Wonka, Willy Wonka...
He's the one that you're about to meet.
Willy Wonka, Willy Wonka...
He's a genius who just can't be beat.
The magician and the chocolate wiz...
The best darn guy who ever lived.
Willy Wonka here he iiiiiiiiiiis!

Cumps. cinéfilos =P

gonn1000 disse...

Bem, gostaste MESMO do filme, hein???

telma disse...

O Charlie é sem duvida um grande filme! E foi dos melhores do ano..
E quanto ao big fish também o considero uma das onras primas do Burton ^^ ainda ontem estive a rever :D

gonn1000 disse...

Não acho assim tão bom, mas é um belo filme de Natal.