quarta-feira, março 02, 2005

LAR DOCE LAR (?)

Mais conhecido - até agora - como protagonista da divertida série "Scrubs - Médicos e Estagiários", Zach Braff assinala a sua estreia na realização com "Garden State", um dos mais refrescantes e calorosos filmes do início de 2005.

Andrew Largeman (Zach Braff) é um actor de escasso sucesso que vive em Los Angeles um pouco aliciante dia-a-dia, marcado pela rotina e pelo alheamento em relação aos que o rodeiam. Devido a um trágico acontecimento, o jovem regressa à sua terra-natal após nove anos de ausência, e aquilo que aparentava ser uma breve e previsível estadia torna-se num período determinante e surpreendente. Regressando às suas raízes, Andrew recupera amizades estagnadas, trava novos conhecimentos e, aos poucos, vai re-equacionando as suas experiências, objectivos, medos, sonhos e motivações.

Se a premissa poderia originar um banal e estereotipado filme assente num processo de auto-descoberta recheado de clichés, Zach Braff - para além de realizador e actor, assina ainda o argumento - consegue inserir subtis variações e detalhes que tornam "Garden State" numa obra que conquista progressivamente.

As atmosferas discretas e lo-fi deixam espaço para as personagens brilharem, com evidente destaque para o trio composto por Zach Braff (num inesperado, mas convincente, registo introspectivo), Peter Sarsgaard (sempre com uma presença marcante e envolvente, mantendo o óptimo nível visto em "Shattered Glass - Verdade ou Mentira") e, sobretudo, a reluzente e deliciosamente irrequieta Natalie Portman (que, mais uma vez, dá provas de forte carisma e versatilidade). O veterano Ian Holm, no papel do pai do protagonista, oferece também uma interpretação meritória, gerando alguns dos momentos de maior tensão dramática.

Apresentando, de forma credível, uma história assente no quotidiano, "Garden State" aborda questões como o processo de crescimento, a falta de comunicação, a recuperação da amizade, a depressão e os laços emocionais, evidenciando alguns dos dilemas que caracterizam as vidas de muitos jovens que nem sempre se adaptam aos primeiros dias da idade adulta.

Braff proporciona uma galeria de personagens com as quais é fácil estabelecer empatia e foca as suas experiências - estranhamente verosímeis - num filme com um ritmo apropriadamente apaziguado mas nunca aborrecido.
Entre o drama e a comédia - dramedy, esse género híbrido tão emblemático do cinema independente norte-americano -, traça-se um possível retrato de uma geração em busca de coordenadas, onde os momentos de melancolia e de optimismo se misturam de forma imprevisível.
A muito adequada banda-sonora vinca os ambientes agridoces, contendo canções de recomendáveis projectos como os The Shins (determinantes na deliciosa cena boy-meets-girl), Coldplay, Thievery Corporation, Iron & Wine, Simon & Garfunkel ou Frou Frou (a inebriante "Let Go", perfeita para o desenlace), numa das mais belas colecções de canções do início de 2005.

Quando encarado com uma perspectiva consideravelmente cínica e desconfiada, "Garden State" pode ser considerado uma obra algo ingénua e imberbe, mas a óbvia e sentida entrega de Braff ao projecto permitem que a visível sensibilidade, encanto e carácter lúdico se sobreponham a um ou dois passos em falso (de resto, naturais numa primeira-obra).

Embora algo eclipsado e subvalorizado, tendo em conta a forte concorrência candidata aos Óscares presente nas salas, "Garden State" não é uma obra menos interessante do que essas - bem pelo contrário -, e destaca-se como uma das melhores propostas indie do início de 2005. Não é uma obra-prima nem um golpe de génio, muito menos um filme revolucionário, mas é dos mais bonitos e emotivos que se têm visto por cá ultimamente...

E O VEREDICTO É: 3,5/5 - BOM

5 comentários:

Unknown disse...

É isso mesmo...eu não diria melhor! Belo filme.

gonn1000 disse...

Pois, também já tinha visto no teu blog que tinhas gostado ;)

Nuno disse...

Também eu gostei

gonn1000 disse...

:)

João Carlos Silva disse...

Sem duvida que o colocava no top10 de 2005