quinta-feira, outubro 14, 2004

THE SHOW MUST GO ON...

A primeira aventura na realização do actor francês Guillaume Canet, conhecido de títulos como "A Praia" (The Beach) e "Vidocq", é uma insólita comédia dramática e uma lúcida sátira aos sistemas de poder dos dias de hoje. Num momento em que se manifesta, talvez como nunca antes, a procura da fama, o reconhecimento mediático e a busca de sucesso fácil, Guillaume Canet propõe em "O Meu Ídolo" (Mon Idole) uma pertinente e acutilante reflexão sobre o panorama do showbiz (especialmente o televisivo) actual.

Canet interpreta Bastien, um jovem animador de público de um populista programa de televisão que não se sente realizado com as funções que desempenha diariamente. Bastien pensa encontrar o caminho para a glória ao conseguir passar um fim-de-semana com o seu patrão Jean-Louis Broustal, um influente produtor (interpretado por um muito convincente François Berléand), durante o qual prepararão em conjunto um novo conceito de programa que aparenta possuir todos os elementos para o sucesso. No entanto, o ingénuo e inseguro Bastien apercebe-se, aos poucos, que o ansiado fim-de-semana apenas lança as bases para um vertiginoso jogo de ilusões e falsas promessas, despoletando uma série de situações inesperadas e surreais.
Guillaume Canet apresenta uma primeira obra interessante, mas irregular, pois dispara em várias direcções e nem sempre acerta no alvo. Inicialmente, o filme exibe traços de uma comédia ligeira, e algo convencional, que ataca o contexto televisivo contemporâneo, evoluindo depois para uma série de acontecimentos onde a veia cómica de Canet é desenvolvida através da sua azarada personagem. Pouco a pouco, essa vertente relativamente leve e simpática do filme dá lugar a um ambiente mais tenso e com algum suspense, gerando um clima claustrofóbico, caótico e soturno na recta final da acção.
"O Meu Ídolo" torna-se assim numa obra desiquilibrada, uma vez que Canet parece alterar os registos do filme de 20 em 20 minutos, alternado momentos originais e imprevisíveis com sequências desprovidas de chama e vitalidade. Apesar de desigual, a fita cria bases de reflexão acerca da efemeridade da fama e das relações humanas, analisando com ironia e perspicácia as tensões da vida urbana e as novas formas de solidão disfarçada.
Mesmo com algumas inconsistências, "O Meu Ídolo" consegue ser mais do que um entretenimento curioso, demonstrando que Guillaume Canet é um cineasta a acompanhar e um dos que tem algo para dizer.
E O VEREDICTO É: 2.5/5 - RAZOÁVEL

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