sexta-feira, abril 20, 2007

MAGIA SEM ACIDENTES

A propósito da edição do seu terceiro disco, o recente “The Magic Position”, Patrick Wolf actuou na passada quarta-feira em Lisboa pela primeira vez, no Lux, e se o concerto não chegou a esgotar – ao contrário do ocorrido com os dos Cansei de Ser Sexy há poucos dias no mesmo espaço – também não se pode dizer que a adesão tenha sido escassa.

O cantor e multi-instrumentista, apenas com 23 anos, exibiu uma maturidade e segurança atípicas, já denunciadas nos discos mas que, noutros casos, nem sempre têm reflexo nas actuações ao vivo. Wolf, contudo, não desiludiu, e pareceu sentir-se em casa tanto pelo à-vontade que revelou perante um público sempre entusiasmado como pelas suas notáveis capacidades interpretativas.
Dono de uma voz possante e magnética como poucas, o músico irlandês tem o mérito de a usar em canções que cruzam registos que tanto vão da pop mais infecciosa e trauteável a paisagens de uma dolente melancolia com pronunciada herança da folk ou da música clássica.
O espectáculo demonstrou essa versatilidade, alternando momentos intimistas e recatados com outros que convidaram à festa, sendo estes últimos os mais frequentes ou não tivesse grande parte do alinhamento incidido em “The Magic Position”, o disco onde Wolf revela uma faceta mais optimista e esperançosa.

O início, com “Overture”, encantou pelas belíssimas melodias não só do violino, presença habitual nas composições do cantor (e tocado pelo próprio), mas também pelo acompanhamento da banda de suporte que incluiu um contrabaixista, outra violinista, um baterista e um manipulador de elementos electrónicos. “Get Lost”, efusiva q.b., deu continuidade a um arranque conseguido, e a visceral “Tristan” regressou a “Wind in the Wires”, o segundo álbum do músico.
Sem canções menores, o concerto viveu tanto da energia e intensidade destas como dos interlúdios em que Wolf se dirigiu ao público para relatar episódios de actuações anteriores ou da sua adolescência, tentando animar os espectadores e sendo sempre bem-sucedido nesse propósito, nem que para isso tivesse de gozar com a sua imagem (dizendo, por exemplo, que a sua roupa – umas calças de lycra de tons zebra, uma t-shirt de alças e umas meias rotas – tinha sido comprada numa loja para raparigas adolescentes).

Entre as palminhas durante os temas – e houve muitas em Accident and Emergency” ou “The Magic Position” – houve espaço para momentos de considerável introspecção em “To The Lighthouse”, do disco de estreia “Lycantrophy”; “The Stars”, inesperadamente interligada com uma versão de “Moon River”, ou o cativante díptico “The Bluebell”/”Bluebells”.
Os dois encores também registaram essa dualidade de atmosferas, uma vez que o primeiro, uma cover do hit 80s “Feels Like I’m in Love”, de Kelly Marie, extravasou uma hipnótica pujança disco que uns Scissor Sisters gostariam de atingir (irresistíveis, as constantes acelerações e desacelerações), e o segundo, “Magpie”, terminou com Wolf ao piano e com um precioso complemento vocal (gravado) de Marianne Faithful.

Como tudo o que é bom dura pouco, o concerto mal chegou aos 60 minutos de duração, deixando de fora várias canções que teriam sido muito bem-vindas (a ausência de “The Libertine” é quase imperdoável). E apesar da solidez do espectáculo, foram poucos os temas que registaram diferenças face às versões dos discos, o que não é necessariamente mau – pelo menos quando as canções, como é o caso, sobrevivem bem a isso -, mas também não gera grandes doses de surpresa. De qualquer forma, os recorrentes aplausos foram merecidos e o jovem músico provou que, se continuar neste nível, será sempre uma presença acolhedora a não perder no palco mais próximo.

E O VEREDICTO É: 3,5/5 - BOM


Patrick Wolf - "The Magic Position" (ao vivo, via Randomtypes)

4 comentários:

Anónimo disse...

hey.
fui ao concerto, os momentos que gostei mais: overture, a interligação à breve cover de moon river, tristan (não é uma canção que me entusiasme muito, mas gostei ao vivo), e os encores, aquela cover dos 80s, electrónica ao rubro, e magpie.

gonn1000 disse...

Gostei disso tudo, em especial da "Overture" e da cover, esta um dos poucos momentos inesperados. E acho que teria gostado muito da "The Libertine".

Unknown disse...

Muito bom o concerto e óptima review, Gonn. Ainda naum fiz a minha mas fiquei satisfeito em ver que lhe atribuiste mais 0,5 de pontuação :P

Hugzz!

gonn1000 disse...

Eheh, estive indeciso, mas aquela cover fez-me ser um mãos largas :P
Cya