sábado, novembro 05, 2005

A VIAGEM DE SOPHIE

Considerado por muitos o mestre do cinema de animação nipónico, Hayao Miyazaki criou já múltiplas obras capazes de conquistar adeptos dos 7 aos 77, casos de “A Viagem de Chihiro”, “A Princesa Mononoke” ou a mítica série “Conan, o Rapaz do Futuro”.

“O Castelo Andante” (Hauru no ugoku shiro / Howl`s Moving Castle), o seu filme mais recente, é mais uma viagem por mundos de fantasia, decorrendo em cenários imaginativos e contando com personagens larger than life, propondo uma aventura intrincada que mescla romance, acção, humor e suspense, condimentos que já se revelaram bem geridos em títulos anteriores do cinesta.

Fábula que entrecruza o amor, a amizade, o envelhecimento e a guerra, “O Castelo Andante” baseia-se no romance de Diana Wynne-Jones e assenta nas atribuladas peripécias de Sophie, uma jovem tímida e pacata que, devido ao seu breve contacto com o atraente e audaz feiticeiro Howl, é alvo de um feitiço lançado pela Bruxa do Nada, que a transforma numa idosa.
De forma a reverter esta maldição, Sophie torna-se na mais nova habitante do intrigante castelo andante de Howl, mas antes de voltar ao estado anterior terá de sobreviver ao inquietante clima de guerra que se mostra cada vez mais assustador.

Embora seja uma fábula interessante e a espaços inventiva, “O Castelo Andante” é também uma obra desigual, uma vez que o seu minucioso trabalho a nível visual – que revela o estado de vitalidade criativa de Miyazaki – não tem contraponto no argumento, demasiado desconexo e arbitrário.
Com uma narrativa fragmentada e um ritmo nem sempre bem gerido, o filme convence sobretudo pelas deslumbrantes imagens, que geram alguns pequenos prodígios memoráveis e inspirados (recorrendo sempre à animação tradicional).

Contudo, isso é o mínimo que se espera do realizador, e aqui acaba por ser pouco, uma vez que as personagens não são especialmente cativantes e apresentam uma escassa complexidade. Pontualmente há momentos divertidos (em particular aqueles com o demónio de fogo Calcifer) ou mesmo comoventes (algumas cenas entre Sophie e o pequeno Markl, por exemplo), mas durante a maior parte do tempo a carga dramática é bastante reduzida, e ainda que o filme tente gerá-la recorrendo a diversos simbolismos, o contributo destes é nulo.

A segunda hora do filme é especialmente sintomática do desregramento da narrativa, enveredando por uma lógica onde a magia parece justificar qualquer reviravolta, ignorando assim a continuidade ou plausibilidade (que, mesmo numa fábula, tem de existir, ou então o espectador perde-se perante tanta descoordenação).

Possuindo ainda uma dose suficiente de sequências vibrantes e encantatórias, “O Castelo Andante” é um filme curioso e simpático, mas que infelizmente não consegue ir além de uma esforçada mediania. Uma obra meritória, mesmo assim, ainda que fique abaixo do seu potencial...
E O VEREDICTO É: 2,5/5 - RAZOÁVEL

20 comentários:

Gustavo H.R. disse...

Sendo que até hoje não entendi a comoção criada em torno de SEN TO CHIHIRO NO KAMIKAKUSHI (é assim que se escreve?), não me surpreede a falta de foco do novo trabalho de Miyazaki.
Cumps.

Anónimo disse...

o hype em volta de Chihiro foi o reconhecimento internacional depois de Mononoke (este sim é muito bom). Em relação a Howl, penso que não é dos melhores trabalhos mas como a animação de Miyazaki sempre me fascinou, gostei imenso do filme.

gonn1000 disse...

Gustavo: Esse não vi, mas "O Castelo de Andante" não me surpreendeu por aí além...

membio: Tem os seus momentos, mas não me convence por completo.

Spaceboy disse...

Fiquei interessado quando vi o trailer, mas ainda não tive opurtunidade em ver o filme. Mas adoro «A Viagem de Chihiro»...

gonn1000 disse...

Não tenhas muita pressa lol

Francisco Mendes disse...

Hayao Miyasaki é um cartógrafo da alma, colorindo a paisagem da essência humana com pinceladas de puro encanto. No entanto, este novo filme não explana as suas reais potencialidades... De qualquer forma, o pior de Miyasaki é algo de muito superior.

gonn1000 disse...

Pois eu não achei superior, apenas mediano, embora ainda tenha algumas "pinceladas de puro encanto". Não as suficientes, infelzmente...

Nic disse...

Do Miyazaki, recentemente vi "Nausicaa of the Valley of the Wind e "Laputa, Castle in the Sky" e tambem nao fiquei fa!

Nic disse...

comentario off-topic:
ontem fui ver Prime
http://www.imdb.com/title/tt0387514/

o filme contem tem bom material para as tuas habituais boas analises!

gonn1000 disse...

Não vi nenhum desses filmes, embora ambos despertem alguma curiosidade. Obrigado e bons filmes ;)

Anónimo disse...

A ver brevemente...

Abraço

gonn1000 disse...

Bom filme, então :)

gonn1000 disse...

É uma série emblemática, sim, mas não marcou a minha infância porque não cheguei a vê-la.

susana disse...

Não percebo gonçalo..tinhamos gostos tão parecidos e agora não acertamos uma.Depois do "castelo andante" é que vi a Viagem de chihiro", e achei ambos muito interessantes.Dizes que as personagens não são cativantes, mesmo velha sophie consegue cativar, pela sua preseverança e força de vontade.E a história era complexa que chegue, levando-nos a interrogar várias vezes se a estaríamos a intrepretar bem.A cena das escadas é o ponto alto da história, foi a mais divertida e a mais dramática.Ela consegue ter pena da bruxa do nada que foi quem a transformou numa velha!Achei as imagens de uma magia e beleza fascinantes!!

gonn1000 disse...

Ainda bem que gostaste, então. Eu esperava mais, mas enfim pode ser que da próxima resulte comigo...

Anónimo disse...

Eu discordo que o filme perca sua diretriz ou sentido, e que tudo se justifique forçadamente por meio da magia. É um filme que não tem intenção de engolir o espectador, o que já é um grande ponto de respeito à platéia. Os orientais não pensam como nós, por isso o filme não tem de ter um foco (neste caso, se pensarmos bem, a guerra não é discutida com mais importância do que o amor), além das personagens terem muito mais características humanas do que a maior parte dos filmes de hoje, ou seja, não há mocinho ou vilão. Quanto à estética, poucas cenas computadorizadas aparecem (ao contrário dos desenhos de hoje) e quando se usa animação gráfica é da forma mais discreta possível.
E, além disso, não vejo porque as personagens não são cativantes.É um filme que não tem aquelas velhas e medíocres lições de moral dos filmes americanos (como aqueles filmes em que a família sempre se une no final, mas tudo da forma mais forçada).
E, se as personagens são demasiado complexas, é porque permitem leituras em vários níveis. Não têm comprometimento com faixa etária.
Bom, é só.

gonn1000 disse...

Achei que tinha algum interesse e muita descoordenação, mas respeito o teu ponto de vista. Obrigado ;)

Anónimo disse...

eu amei o filme o castelo andante tenho-o e não páro de o ver é um máximo vejam o filme

Anónimo disse...

O filme é espectacular eu adoro o realizador ele é um máximo
o filme é espectacular

Anónimo disse...

É um bom filme este filme e outro que também já vi a viagem de CHIHIRO