Centrado nas relações dos quatro elementos de uma família de classe média norte-americana, "Equal Affections" desenrola-se ao longo das últimas décadas do século XX e expõe algumas das mutações sociais que marcaram a vida urbana contemporânea, partindo de uma teia de complexas ligações familiares.
Louise Cooper, a matriarca, ultrapassa uma fase de solidão, amargura e frustração, geradas não só pelo cancro que ameaça o seu estado de saúde mas também pela tensão conjugal. Nat, o seu marido, recatado e distante, torna-se progressivamente menos paciente e tolerante, não suportando as constantes crises e oscilações emocionais de Louise. April, a filha do casal, vive uma próspera carreira de cantora rock através da qual dissemina os seus ideais feministas e Danny, o seu irmão, é um jovem advogado que tenta construir uma relação estável com o seu companheiro Walter.
Através de uma bem-conseguida narrativa não-linear, David Leavitt apresenta as atmosferas que marcam o âmago da família Cooper, estabelecendo portas de entrada para questões como a infidelidade, o companheirismo, a alienação, a confiança, a instabilidade conjugal, o surgimento da morte ou a ambivalência sexual.
Louise é a instigadora de grande parte do desencadear da acção e a personagem mais desenvolvida e intrigante do romance. Recorrendo a flashbacks, Leavitt explora o conflito interior da ousada e inquieta jovem que viria a tornar-se numa insegura esposa e mãe. A vida de Louise adquire tonalidades trágicas ao atingir a meia idade, e esses elementos geram situações de união familiar mas também de assinalável crispação entre as perspectivas de algumas personagens.
Embora possua protagonistas com potencial, esta obra de Leavitt não se debruça, contudo, num turbilhão emocional tão absorvente quanto os primeiros capítulos sugerem. A famíla Cooper tem tanto de disfuncional como de realista e é fácil sentir empatia com estas personagens, mas nem todas são igualmente surpreendentes. Nat carece de maior tensão interior, uma vez que a sua evolução ao longo da acção é diminuta, e April parece funcionar mais como um porta-estandarte de uma ideologia do que como uma personagem.
A relação de Danny e Walter também não chega a ter tempo de antena suficiente para alacançar grandes momentos de intensidade, tornando-se pouco aprofundada e memorável.
"Equal Affections" possui, no entanto, uma sólida interligação de ambientes dramáticos e melancólicos com episódios mais esperançosos e reconfortantes, oferecendo um subtil e credível retrato de família.
Ainda que possua atractivos suficientes - como a pequena surpresa no desenlace agridoce -, esta obra de David Leavitt não chega a arrebatar (contrariamente a "Enquanto a Inglaterra Dorme", por exemplo, um dos seus melhores livros), mas proporciona momentos de afeição q.b. que tornam a sua leitura mais do que justificável.
E O VEREDICTO É: 3/5 - BOM
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