O grupo de Michael Stipe, Peter Buck e Mike Mills já tinha passado por palcos portugueses em 1999, mas as recordações de quem os viu nessa altura, também no Pavilhão Atlântico, não são as mais reluzentes.
Muitos afirmaram que a banda apresentou um concerto morno e desinspirado, efectuando uma estreia pouco auspiciosa e memorável em território luso.
Com um novo disco, "Around the Sun", editado em Outubro de 2004, os R.E.M. regressaram na passada sexta-feira a Lisboa para realizar o primeiro espectáculo da mais recente digressão europeia.
Embora o álbum não seja uma amostra da fase mais surpreendente do grupo, a banda é, ainda, um dos nomes mais emblemáticos do pop-rock actual e uma das poucas que tem conseguido manter um difícil equilíbrio entre o sucesso comercial e a liberdade criativa.
O trio efectuou uma dinâmica e eficaz entrada em palco, interpretando temas enérgicos como "Wake Up Bomb" ou "Animal" e registando, desde logo, um considerável acolhimento por parte dos mais de 15 mil espectadores do Pavilhão Atlântico.
Michael Stipe, empenhado e incansável, comprovou a sua boa forma vocal, e os seus companheiros de palco exibiram semelhantes níveis de competência.
Apesar de escorreita e convincente q.b., a primeira metade do concerto não foi, contudo, tão entusiasmante como a segunda, que proporcionou muitos dos picos de intensidade da noite.
Tendo em conta que os R.E.M. são uma banda com mais de 20 anos de carreira, o leque de potenciais canções a constar no alinhamento de um concerto é inesgotável, por isso a selecção final dificilmente gerará o consenso. Todavia, há temas quase obrigatórios, como os muito bem recebidos "Everybody Hurts" (a hiperbalada que não dispensou um ambiente devoto com os essenciais isqueiros), "One I Love", "Losing My Religion" ou "Man on the Moon" (que fechou a noite com chave de ouro).
Entre outros hits carismáticos, a banda apresentou ainda o inquietante "Drive", o saudavelmente poppy "Imitation of Life" ou "What's the Frequency, Kenneth?", outro momento alto do espectáculo.
Mesmo com uma considerável carga de temas clássicos, a noite não foi montra de um mero best of ao vivo, uma vez que ainda houve espaço para composições menos mediáticas como alguns excertos de "Around the Sun" (com uma recepção morna, excepto o single "Leaving New York") ou canções quase esquecidas como a soberba "Walk Unafraid" (muito provavelmente o melhor tema do álbum "Up").
Entre as surpresas do encore, registou-se a interpretação de duas canções quase inéditas, "Permanent Vacation", uma das mais antigas do grupo, e "I'm Gonna DJ”, uma das mais recentes.
Para além de um consistente cardápio musical, o trio de Athens exibiu uma refrescante componente visual, com um excelente trabalho de iluminação e a projecção de imagens de um DVD ao vivo num ecrã colocado no topo do palco.
Numa era em que a imagem parece valer mais do que a música (o que, nos R.E.M., nunca foi o caso), o grupo mostra-se atento às potencialidades que a vertente visual possibilita. Assim, as canções foram complementadas por tonalidades que auxiliaram a criação de atmosferas específicas, ora mais melancólicas, ora mais efusivas, despoletando belos momentos como "Electron Blue" (a canção, um dos pontos altos de "Around the Sun", tornou-se ainda mais cativante com um acompanhamento de luzes em apropriados tons de azul).
O aspecto cénico foi mais equilibrado do que o sonoro, dado que se registaram, a espaços, quebras de ritmo entre as canções.
Como parece ser moda nos dias de hoje, também os R.E.M. inserem alguma dose de política na sua música, ou não fosse "Around the Sun" um álbum sobre o actual cenário norte-americano.
Segundo Michael Stipe, não é fácil ser cidadão nos EUA actuais, e talvez por isso o novo disco contenha uma aura de desencanto tão acentuada.
Nos momentos finais do concerto, o vocalista não dispensou um elogio a Lisboa e o tradicional "obrigado", mostrando-se afável e modesto mas não muito comunicativo.
Tendo em conta as memórias pouco positivas de parte do público que viu a banda em 99, pode dizer-se que, no caso dos R.E.M., “à segunda foi de vez”, pois o trio proporcionou, no passado dia 7, um espectáculo profissional e convincente (e não será fácil conseguir suportar mais de 20 anos de carreira com tamanha sobriedade aliada ao apelo comercial).
Antes das duas horas de concerto dos R.E.M., a noite começou com Joseph Arthur, um dos muitos cantores/compositores que possui mais mérito do que fama (com uma discreta, mas recomendável discografia, de que são exemplo álbuns como "Come to Where I'm From" ou "Redemption's Son").
O problema é que as composições do músico, entre o indie rock e a folk, não serão as mais apropriadas para um espaço dedicado a "bandas de estádio" como o Pavilhão Atlântico.
A recepção do público não foi propriamente negativa, mas também não exibiu grandes marcas de entusiasmo. Ficamos, por isso, à espera de uma actuação de Joseph Arthur em salas como as do Coliseu ou da Aula Magna, mais propícias à criação de uma atmosfera intimista.
Michael Stipe, no entanto, reconheceu os méritos do cantor, convidando-o para a interpretação de dois temas do encore dos R.E.M. e demonstrando, mais uma vez, uma saudável relação entre o mainstream e o underground.
E O VEREDICTO É: 3,5/5 - BOM
5 comentários:
Sim, percebi que em alguns momentos as imagens eram mesmo do concerto, mas noutros casos não era tão óbvio. Além disso, passaram também alguns excertos de videoclips.
Obrigado pelo esclarecimento...
sim...adorei os ecrans e aquelas luzes. o jogo de imagens - imagens em directo da banda, publico, videoclips etc - era brilhante e conferia outra dimensão às musicas. mas acima de tudo gostei da energia que a banda transmitiu. da alegria e da confiança que vinha daquele palco. quanto ao alinhamento...sendo alguém que conhece a discografia dos r.e.m. de trás pra frente e da frente pra trás....acho que foi um bom alinhamento (mas claro que me conseguia lembrar de dezenas de musicas que queria ouvir e ficaram por ouvir)
Pois, a discografia deles é longa, mas acho que dosearam bem canções mainstream com outras não tão mediáticas...
penso que não era mal pensado se tivessem apostado num pouco mais de "Reveal" e de "Up", além de alguns eighties. Isso sim, seria perfeito.
Sim, o "Up", em particular, foi muito ignorado (excepto "Walk Unafraid")...
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