terça-feira, junho 19, 2007

OS FUGITIVOS

Filmes ambientados em prisões não são propriamente uma novidade, assim como o não são os que assentam em rocambolescas conspirações governamentais, onde nem tudo é o que parece. Ao repisar estes domínios, não era fácil que “Prison Break” conseguisse impor-se enquanto um objecto particularmente digno de nota, sobretudo por investir neles não através de um filme mas como série televisiva, onde o desafio de enfrentar o desgaste caracterizado por lugares-comuns seria ainda mais exigente.

No entanto, a julgar pela primeira temporada, os seus criadores – Paul Schering e uma equipa de produtores executivos que inclui, entre outros, Brett Ratner - foram francamente bem sucedidos, já que esta história – a de um engenheiro de estruturas que assalta um banco de forma a ser enviado para uma prisão de alta segurança e daí tenta libertar o seu irmão, injustamente condenado à morte - é um feliz exemplo de como um produto televisivo pode ser capaz de atingir um público relativamente vasto sem deixar de ser inteligente e bem estruturado.

Fruto de um argumento de precisão milimétrica, de uma realização ágil e de um elenco consistente, “Prison Break” decorre a um ritmo acelerado, embora não hiperactivo, oferecendo muitos picos de intensidade em cliffhangers estrategicamente colocados mas dando sempre espaço para que as personagens vão ganhando densidade, até porque se estas não tivessem espessura o plano de fuga do protagonista dificilmente se tornaria tão empolgante.

A energia narrativa e a contínua disseminação de intrigantes subplots quase disfarçam os ocasionais buracos no argumento, coincidências demasiado convenientes ou atitudes algo improváveis de algumas personagens, e em muitas situações o sistema de vigilância das prisões de alta segurança não ficará muito bem visto dada a facilidade com que os reclusos escapam ao controlo dos guardas. Felizmente, mesmo com estes pontuais ataques à verosimilhança, a série desenvolve-se com uma tensão crescente e não demora muito para que nasça a ânsia de ver mais do que um episódio de seguida.

Constituída maioritariamente por nomes desconhecidos, “Prison Break” contribuiu já para que muitos se candidatassem a estrelas em ascensão, como é o caso do protagonista, Wentworth Miller, com um underacting perfeito na pele do circunspecto e perspicaz Michael Scoffield, uma das melhores personagens a surgir na televisão nos últimos anos.
Com outro desempenho subtil e convincente, Sarah Callies interpreta a enfermeira que se tornará no interesse amoroso de Scoffield e a química entre ambos gera alguns dos momentos mais emotivos da série, bem distintos daqueles vividos por T-Bag, um melindroso assassino e pedófilo (encarnado sem reparos por Robert Knepper) ou Abruzzi, um não menos ameaçador recluso com ligações à máfia (interpretado pelo veterano Peter Stormare).

Ancorada em personagens suficientemente ambíguas, a série resulta numa sólida combinação de thriller, drama e suspense, e ainda que geralmente não ultrapasse um profissionalismo e eficácia inatacáveis, suportados por sólidos valores de produção e uma escrita atenta aos pormenores, “Prison Break” deixa a milhas muitos objectos similares que chegam às salas de cinema (Steven Soderbergh, por exemplo, bem podia aprender aqui umas coisinhas que o ajudassem no sonolento “Ocean’s 11” e respectivas sequelas).
Só é pena o desfecho tão frustrante, não por estar mal conseguido – antes pelo contrário, nunca é minado pela previsibilidade - mas porque os últimos episódios colocam os nervos em alta e o final acaba por ficar em aberto, sem que nenhum dos arcos da narrativa tenha resolução. Nada que não se perdoe caso a segunda temporada mantenha os mesmos níveis de adrenalina e entusiasmo em estado puro.


E O VEREDICTO É:
3,5/5 - BOM

12 comentários:

Anónimo disse...

tinha bastantes reticências em relação a esta série, principalmente pelas razões que apontaste, uma história aborrecida num lugar aborrecido, mas surpresa, estou a gostar e bastante... A segunda época já nem se passa na dita prisão, veremos agora a terceira e suposta última época se fecha em grande...

já agora a terceira do "lost" tb gostei ;)

Loot disse...

Vá Gonçalo não sejas forreta dá lá um 4 completo ao prison break :P

Só uma correcção a Sarah Callies interpreta uma médica e não enfermeira. E gosto imenso dela (lá está novamente o cabelo ruivo como te tinha dito)

Aproveito pa te dizer que te nomeei um blog com tomates

Cumprimentos

gonn1000 disse...

membio: Também comecei a vê-la com desconfiança mas não demorou muito para que me rendesse. Estou a gostar da segunda época, que ainda não vi toda.

_Loot_: 4 é capaz de já ser demais, talvez à segunda temporada :P
Obrigado pela correcção e nomeação.

Anónimo disse...

nos últimos tempos não tenho seguido séries, o "boom" de séries televisivas de que se falou e fala passou-me ao lado. mas vi um episódio disso e gostei bastante, acho que dos primeiros. eventualmente arranjarei maneira de ver os restantes.

gonn1000 disse...

Também não consigo ver todas as que quero, não há tempo nem as encontro todas, mas lá arranjei esta e vi-a de seguida em poucos dias.

Carlos Pereira disse...

Prison Break é genial. Melhor só Twin Peaks, LOST, e Six Feet Under (esta última talvez a minha favorita). Grande abraço Gonçalo ;)

J G disse...

Que coincidência!

Acabei de ver a série 6 do 24, e agarrei-me à box de dvds da série 1 do Prison Break.

Comecei a verno sábado, e ontem à noite já tinha visto tudo!
Adorei a série.

Gostava de arranjar a série 2...

gonn1000 disse...

Carlos Pereira: Não diria genial, mas é bastante eficaz. E sim, também prefiro "Lost" e "Six Feet Under", esta última talvez a melhor de sempre (exagero? talvez, mas não andará longe). "Twin Peaks" não vi, é mais uma falha a colmatar.

J.G.: Também a vi num instante, vi uns 4 ou 5 episódios de seguida, é viciante. A "24" não me agarrou nos primeiros episódios, talvez volte a ela.

Maria Felgueiras disse...

Tenho visto episódios soltos da série e preferi os passados na prisão. A segunda parte fora da prisão começou a aborrecer-me e perdi o interesse.

Mas sem dúvida que temos ali um leque de personagens bem interessantes e algumas situações bem escritas e interpretadas.

Num registo completamente diferente prefiro, de longe, Spooks (Dupla Identidade).

gonn1000 disse...

O que tenho visto da segunda série não me aborreceu nada, e vá lá que até agora ainda não despacharam as personagens que mais me interessam. "Spooks" não conheço.

Maria Felgueiras disse...

Olha, nem a propósito, referes no teu último post o Raza Jaffrey que faz parte do elenco de Spooks. :D

Pessoalmente considero-a uma das melhores séries da BBC dos últimos tempos. Já vai na 5ª temporada e nunca vi a 1ª que conta apenas com 6 episódios.

Para meu espanto há uma semanas estavam as 4 primeiras temporadas à venda na FNAC mas a preços verdadeiramente obscenos!

Quanto ao "aborrecimento" acho que é tudo uma questão de gosto. Eu por exemplo não gosto de Lost. Aborrece-me tanto mistério. :D

Lembrei-me entretanto que gosto mais de Oz se voltarmos ao contexto prisional.

gonn1000 disse...

Parece que é mais uma série a procurar, então - como se já fossem poucas as que estão em lista de espera :P
Pois, longe vão os tempos em que a FNAC tinha quase só preços convidativos, há artigos a preço verde mas são praticamente sempre os mesmos...
"Oz" é outra série que nunca vi :(