Depois de terem passado pelo Porto no dia 29 de Outubro, os Elysian Fields apresentaram, no dia 30, um concerto no café-teatro Santiago Alquimista, em Lisboa...E o público lisboeta rendeu-se à voz de Jennifer Charles.
Com uma discreta mas prestigiada carreira, os Elysian Fields têm criado, desde a década de 90, um pequeno fenómeno de culto entre os mais curiosos ouvintes de música. Os seus três discos de originais, "Bleed Your Cedar" (1996), "Queen of the Meadow" (2000) e "Dreams That Breathe Your Name" (2004) assinalam um interessante percurso assente na singular voz de Jennifer Charles e nas manobras de guitarra de Oren Bloedow.
Quem esteve presente no Santiago Alquimista no passado sábado pôde comprovar a carga hipnótica do duo nova-iorquino, num concerto que incidiu sobretudo em temas do álbum mais recente. Apesar do atraso no início da actuação - o concerto estava programado para as 23h mas só começou depois da 1h, após uma primeira parte a cargo do rock alternativo dos portugueses Rose Blanket -, a dupla proporcionou um espectáculo profissional e coeso, interpretando um conjunto de canções contidas e apaziguadas mas nem por isso desprovidas de intensidade e carisma.
A presença de Jennifer Charles e a sua voz enleante originaram um apetecível cardápio sonoro que oscilou entre o indie rock e a dream pop, e o espaço do Santiago Alquimista, propício à criação de um ambiente intimista, quase poderia ser confundido com um clube típico de histórias film noir (dada a carga cinemática das composições do grupo).
Nos momentos de maior sobriedade e sensualidade, as atmosferas sonoras dos Elysian Fields aproximaram-se de territórios dos Mazzy Star ou dos Shivaree, enquanto que nas canções de tonalidades um pouco mais rudes (ainda que sempre elegantes) a dupla entrou em domínios que lembram a vertente ríspida de PJ Harvey. Boas referências, portanto, mas esses elementos de ligação não implicam que a banda não tenha personalidade, pois essa foi já sedimentada em três discos que atestam a identidade e criatividade do projecto.
Quase sempre estimulantes, os Elysian Fields apresentaram, contudo, um espectáculo demasiado minimalista, calmo e pausado, que poderia ter sido mais convincente se contaminado com maiores doses de dinamismo e visceralidade. Não que o público tenha reclamado, pelo contrário, uma vez que não se cansou de requisitar os obrigatórios e muito bem-recebidos encores.
O duo fechou a noite, já pelas 2h30m, ao som da aguardada "Fountains on Fire", uma das suas canções mais antigas e certamente uma das mais conhecidas. Apesar de terem tirado, porventura, algumas horas de sono ao seu público, os Elysian Fields também provaram que, através da música, por vezes é possível sonhar acordado.
E O VEREDICTO É: 3/5 - BOM
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