sábado, março 26, 2005

FECHADO PARA FÉRIAS

Daqui a poucas horas parto para o Brasil para passar lá uma aguardada semana de férias :D, por isso este blog não será actualizado nos próximos dias...Mas nada de desesperos, porque em breve estarei de volta. Até ao meu regresso e tenham uma Boa Páscoa ;)

CINEMA E MÚSICA DE 2004

Pois é, não é habitual fazer as viciantes listas de melhores do ano nesta altura, mas como ainda estou a absorver discos e filmes de 2004 achei mais apropriado deixar passar uns meses acerca das minhas escolhas de final de ano. Claro que, mesmo assim, ficou muita coisa por ver e ouvir, mas se espero mais um trimestre não tarda apresento os melhores de 2004 no final de 2005 :S Por isso, aqui ficam os meus filmes, discos e concertos preferidos do ano passado...
Enjoy, I know I did...;)

O CINEMA EM 2004

2004 foi um ano intenso para o cinema em Portugal, dado que em raras ocasiões terão estreado tantos filmes por semana (por vezes, com 10 títulos inéditos). No entanto, mais do que a quantidade de obras em cartaz, o que mais de destacou foi a qualidade, ou pelo menos uma saudável diversidade, com películas das mais variadas origens.

Em 2004 chegaram a salas nacionais exemplos do cinema americano (não só os típicos blockbusters mas também uma respeitável selecção de obras independentes), francês, asiático, italiano e até mesmo de áreas mais inesperadas como o Médio Oriente ou a Islândia, proporcionando uma ecléctica e entusiasmante oferta. Lamenta-se, contudo, que em termos promocionais muitos desses títulos não tenham sido alvo de grande atenção, o que leva a que grande parte tenha passado despercebida de uma considerável faixa do público.

Manifestou-se também uma maior proliferação de festivais dedicados à sétima arte, com casos tão bem sucedidos como o primeiro Indie LX, a quinta Festa do Cinema Francês (que revitalizou o Cinema S. Jorge, embora apenas temporariamente) ou o DocLisboa, que apresentaram novas propostas, formatos e autores.

O DocLisboa é sintomático de uma nova fase para o cinema documental, um género cada vez mais bem aceite pelo grande público, o que se comprovou não só na massiva adesão a esse festival mas também no mediatismo dos emblemáticos "Fahrenheit 9/11", de Michael Moore, ou "Super Size Me - 30 Dias de Fast Food", de Morgan Spurlock" (houve também espaço para exemplos oriundos de esferas mais marginais, como "Os Friedman", de Andrew Jarecki).
2004 foi ainda o ano do polémico "A Paixão de Cristo", de Mel Gibson, um dos títulos simultaneamente mais amados e odiados do ano e que, para todos os efeitos, fica como um dos mais marcantes, sobretudo devido às várias faixas de público que conseguiu reunir e pela discussão que despoletou.

Dos blockbusters, os mais mediáticos foram tendencialmente as sequelas - "Homem-Aranha 2", "Kill Bill: A Vingança - Vol. 2", "Shrek 2", "Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban" -, ainda que "O Dia Depois de Amanhã" também tenha sido um dos filmes-pipoca de grande produção, "The Incredibles - Os Super Heróis" tenha trazido novo fôlego ao cinema de animação digital e "Alexandre, o Grande" tenha marcado pelo seu monumental "fracasso".

"Lost in Translation - O Amor é um Lugar Estranho", "O Despertar da Mente", "21 Gramas", "A Vila" ou "Antes do Anoitecer", na fronteira entre territórios independentes e mainstream, marcaram o ano com a aclamação da crítica e uma considerável adesão do público.

No cinema português, títulos como "A Costa dos Murmúrios", "André Valente" ou "O Milagre Segundo Salomé" trouxeram algum sangue novo, e "Noite Escura", de João Canijo, foi uma das melhores surpresas dos últimos anos. Ainda assim, não foi desta que o público se converteu definitivamente ao cinema nacional...

CINEMA - TOP 10 2004

10) "Antes do Anoitecer" - disponíveis para amar?
Richard Linklater, Ethan Hawke e Julie Delpy voltam a juntar-se depois de "Antes do Amanhecer" e demostram que os anos passaram mas a magia manteve-se. A sequela de um dos filmes indie mais emblemáticos dos anos 90 é um genuíno labour of love e um dos mais cativantes dramas de 2004. Uma pequena pérola.

9) "Noite Escura" - terna é a noite
Um murro no estômago é o que se pode dizer do pujante filme de João Canijo sobre o Portugal rural perdido na angústia de uma casa de alterne. Um visceral drama familiar de contornos trágico e uma obra maior do cinema português recente.

8) "Shattered Glass - Verdade ou Mentira" - quanto vale uma boa história?
Um bom filme sobre os meandros do jornalismo e uma interessante oportunidade para ver Hayden Christensen sem o ar baço da sua interpretação na saga "Guerra das Estrelas", esta primeira obra de Billy Ray é um dos mais recomendáveis filmes independentes norte-americanos que passou (despercebido, e é pena) por salas portuguesas em 2004.

7) "Desencontros" - maridos e mulheres
Laura Dern, Mark Ruffalo, Naomi Watts e Peter Krause: quatro dos mais interessantes jovens actores norte-americanos, protagonizam este intenso drama de John Curran sobre o conturbado quotidiano conjugal. Sóbrio e silencioso, é um forte candidato a filme de culto.

6) "A Vila" - espíritos inquietos
M. Night Shyamalan apresenta aqui o seu filme mais conseguido, aliando um irrepreensível elenco a um argumento engenhoso e gerando uma das películas mais inclassificáveis de 2004. É uma história de amor? Uma parábola? Um filme de terror? Não interessa, é um grande momento de cinema, singular e encantatório.

5) "Má Educação" - entre a realidade e a ficção
Negro, denso e perturbante, "Má Educação" é um dos filmes mais obscuros de Pedro Almodóvar, que aqui se centra no universo masculino para proporcionar uma estória de amor, desejo, vingança e obsessão. O resultado é forte e poderoso, e ninguém sai da sala de cinema da mesma forma que entrou…

4) "Kill Bill: A Vingança - Vol. II" - die hard
O segundo episódio da muito amada saga de Quentin Tarantino e Uma Thurman é mais um concentrado de energia cinética, múltiplas referências da cultura pop e, claro, uma inegável coolness. O primeiro filme já continha esses elementos, mas a sequela supera-o ao acrescentar uma vital carga emocional, transformando este segundo tomo num vibrante épico sobre a vingança e a maternidade.

3) "O Homem-Aranha 2" - nas teias de um bom blockbuster
Um dos melhores filmes baseados no universo dos comics, a nova aventura cinematográfica que junta Sam Raimi e Tobey Maguire situa-se muito acima da concorrência e ganha o título de blockbuster do ano. Um delicioso filme-pipoca e um entretenimento de grande nível.

2) "Os Sonhadores" - quando o sonho, através do cinema, comanda a vida
Bernardo Bertolucci regressou e trouxe consigo um dos seus melhores filmes. Absorvente visão sobre o fim da adolescência, o Maio de 68 e a paixão pelo cinema, "Os Sonhadores" é uma obra intemporal e viciante, um dos títulos essenciais de 2004. A (re)descobrir.

1) "O Despertar da Mente" - O FILME DO ANO
O papel da vida de Jim Carrey? Não andará longe disso, já que na segunda obra de Michel Gondry o actor apresenta uma das suas interpretações mais contidas, envolventes e prodigiosas. Contudo, apesar do excelente elenco (com obrigatório destaque para Kate Winslet), o que torna "O Despertar da Mente" num filme tão refrescante é o surpreendente argumento de Charlie Kaufmann aliado às pequenas subtilezas da muito apropriada realização. A resposta emocional é fortíssima, o que só acontece nos grande filmes (como é o caso). Inventivo, delirante, profundo e brilhante...o filme do ano.

POSTO DE ESCUTA: MÚSICA DE 2004

DISCOS:

Não foi, confesso, um ano de grandes descobertas, por isso quase todos os álbuns que destaco aqui são de velhos conhecidos. Enfim, não se pode desbravar novo território todos os anos, e em 2004 dediquei-me mais ao cinema...

Air - Talkie Walkie

Da Weasel - Re-Definições

Elliott Smith - From A Basement On The Hill

Franz Ferdinand - Franz Ferdinand

Gomo - Best Of

Interpol - Antics

Melissa Auf Der Maur - Auf Der Maur

Mirah - C' Mon Miracle

PJ Harvey - Uh Huh Her

Placebo - Once More With Feeling Singles 1996 - 2004

R.E.M. - Around the Sun

The Gift - AM/FM

The Killers - Hot Fuss

The Prodigy - Always Outnumbered, Never Outgunned

X-Wife - Feeding the Machine

CONCERTOS:

Elysian Fields - Santiago Alquimista

Jay Jay Johanson - Aula Magna

Magnetic Fields - Aula Magna

Moloko - Optimus Hype @Meco

Múm - Aula Magna

Peaches - Optumus Hype @Meco

Rufus Wainwright - Aula Magna

The Gift - Teatro S. Luiz

Tim Booth - Aula Magna

Yann Tiersen - Centro Cultural de Belém

BLINKS & LINKS

Aproveito para agradecer ao Skizo, do blog No Sofá Laranja, por me ter blinkado :)

quinta-feira, março 24, 2005

O TEMPO REENCONTRADO

Antoine (Gérard Depardieu) e Cécile (Catherine Deneuve) partilharam a decisiva fase do primeiro amor em conjunto, mas acabaram por distanciar-se e nunca mais voltaram a contactar-se nos trinta anos que se seguiram. No entanto, Antoine nunca conseguiu esquecer aquela que, para todos os efeitos, ficou sempre como a única mulher que jamais amou, e por isso pretende reencontrá-la em Tânger, onde Cécile vive há anos com o marido. Apesar de ir supervisionar a construção de uma obra em Marrocos, a verdadeira motivação de Antoine ao aceitar essa responsabilidade não foi profissional, uma vez que o protagonista pretende sobretudo reconquistar a sua ex-amante.

Com base nesta premissa, André Techiné proporciona um drama assente nas vicissitudes das relações humanas, gerando uma perspectiva sobre a forma como a passagem do tempo molda os laços afectivos e afecta as ligações amorosas. A dupla central do filme, Depardieu e Deneuve, é um dos mais emblemáticos pares românticos do cinema francês, e contracena aqui pela sétima vez, 25 anos depois da primeira colaboração em "O Último Metro", de François Truffaut. No entanto, "Os Tempos que Mudam" (Les Temps qui Changent) não foca apenas estas duas personagens, antes oferece um retrato de várias figuras que influenciam o quotidiano dos protagonistas.

A Techiné é reconhecido o mérito de saber contar estórias credíveis, complexas e tridimensionais, talento que se evidenciou em títulos determinantes como "O Local do Crime" ou "A Minha Estação Preferida". Contudo, as mais recentes obras do cineasta - "Alice e Martin", "Longe" e "Os Fugitivos" - apresentaram um considerável declínio qualitativo, onde se manifestava ainda alguma competência e savoir faire mas as abordagens eram cada vez mais insípidas, rotineiras e insípidas.

"Os Tempos que Mudam" ainda não é o filme que promove a revitalização do cineasta, mas em alguns momentos há um certo fôlego criativo que recupera a energia e envolvência de películas como "Os Juncos Silvestres" (o último filme verdadeiramente recomendável do realizador, gerado há mais de dez anos). Este olhar sobre amores desencontrados contém já alguma tensão dramática e afasta-se da letargia emocional que contaminou as películas mais recentes de Techiné, aproximando-nos das personagens e dos seus dilemas.

Há actores consistentes e um apropriado tom realista/naturalista (o recurso à câmara à mão é recorrente), assim como uma eficaz criação de atmosferas, mas Techiné dispersa-se por demasiadas personagens e nem sempre consegue encontrar tempo suficiente para permitir que estas se revelem. O ritmo da narrativa é um pouco irregular e o argumento contém algumas pontas soltas, o que torna "Os Tempos que Mudam" numa obra desequilibrada que aponta em várias direcções mas nem sempre convence.

Sami, o filho de Cécile (excelentemente interpretado por Malik Zidi), é uma das personagens com maior potencial, um jovem sexualmente ambivalente dividido entre a lealdade à namorada Nadia e o desejo pelo marroquino Bilal, mas a sua tensa esfera emocional carece de maior desenvolvimento, e aqui o filme desaproveita uma boa ideia, descartando personagens que poderiam ir mais longe.

Tal como as últimas obras de Techiné, "Os Tempos que Mudam" falha por ser demasiado fragmentado, embora seja globalmente mais coeso do que os títulos que o cineasta tem criado recentemente. Mesmo assim, não deixa de ser um filme interessante de seguir, e a espaços apresenta cenas inspiradas, ainda que não ultrapasse a fasquia de uma mediania competente mas pouco memorável.

E O VEREDICTO É: 2,5/5 - RAZOÁVEL

quarta-feira, março 23, 2005

ÍDOLOS

Vencedor do Grande Prémio do Júri do Festival Sundance de 2004, “DiG!” é um documentário que se debruça sobre a história de duas bandas do rock alternativo norte-americano, os Dandy Warhols e os Brian Jonestown Massacre, focando os seus primeiros passos e os rumos divergentes que acabariam por adoptar.
A realizadora Ondi Timoner passou sete anos a registar em vídeo algumas das experiências dos grupos, desde os ensaios iniciais, na recta final dos anos 90, passando pela gravação dos discos de estreia e o modo como ambos os projectos lidaram com o estrelato (ou ausência deste), até 2003.

Noutras mãos, “DiG!” poderia ser mais um episódio de um “Behind the Scenes” da VH1 ou de qualquer programa semelhante, expondo o percurso de uma banda de forma cronológica e recorrendo a uma estrutura mais ou menos convencional, abordando o período conturbado dos primeiros dias e a fase áurea da ascensão do grupo. Embora estes elementos também estejam presentes no documentário, a perspectiva de Timoner vai mais longe e não se limita a gerar mais um retrato estereotipado.

“DiG!” começa por entusiasmar ao centrar-se em dois grupos em paralelo que provêm da mesma cidade, Portland, no estado de Oregon, partilham uma sonoridade semelhante – amálgama de indie rock, folk e pop, claramente assente em sonoridades retro mas reformulando-as e adaptando-as ao presente - e cujos membros estabelecem laços de amizade e companheirismo, influenciando-se mutuamente. Essa proximidade reflecte-se sobretudo na química partilhada pelos seus vocalistas – e líderes – Courtney Taylor, dos Dandy Warhols, e Anton Newcombe, dos Brian Jonestown Massacre, que forjam uma complexa relação de amor-ódio, capaz de despoletar uma sincera admiração a par de uma não menos intensa inveja e desdém.
Este relacionamento conflituoso provém das opções contraditórias que ambos os músicos defendem para as suas bandas, uma vez que Taylor não hesita em negociar com grandes editoras e Newcombe adopta uma obstinada postura individualista assente no do-it-yourself, recusando que os Brian Jonestown Massacre se sujeitem a qualquer pressão externa.

Assim, a ligação dos dois vocalistas – e, consequentemente, dos seus grupos – torna-se mais dúbia e nebulosa à medida que os Dandy Warhols iniciam um percurso rumo a um sucesso moderado – primeiro através de um contrato com a Capitol Records, posteriormente com uma inesperada aclamação no Reino Unido ou pela cedência da canção “Bohemian Like You” para uma emblemática campanha publicitária -, enquanto que os Brian Jonestown Massacre se mantêm como um nome praticamente desconhecido fora da sua terra-natal devido à atitude auto-destrutiva de Anton Newcombe (figura onde a genialidade convive de perto com a auto-indulgência e o narcisismo, desencadeando uma série de episódios conturbados que vão minando os sonhos dos seus colegas e suscitando convulsões internas na banda).

Ondi Timoner apresenta alguns momentos elucidativos da tensão que se vai insinuando entre os dois grupos ao longo dos anos, originando uma subtil animosidade que tem expressão máxima na canção “Not If You Were the Last Dandy on Earth”, a “resposta” dos Brian Jonestown Massacre a um dos temas mais mediáticos da fase inicial dos Dandy Warhols, “Not If You Were the Last Junkie on Earth”. Este é um dos diversos casos em que Anton Newcombe lança ácidas considerações acerca das opções artísticas do seu (ex?) amigo, acusando-o de perda de genuinidade e amor à música em prol de uma conversão às oportunidades do sucesso comercial (que Newcombe abomina e rejeita).

Curiosamente, apesar destas atitudes - não muito distantes da “mítica” rivalidade Blur/Oasis, como chega a ser comentado a certo ponto - Courtney Taylor (que faz a voz off do documentário) não deixa de elogiar os traços de criatividade e singularidade da música de Newcombe, defendendo-o como um dos mais inspirados artistas contemporâneos e demonstrando assim um considerável fair-play.

“DiG!” é um vibrante olhar sobre a juventude, o universo do rock, a ambição, o sonho e o sucesso, um profícuo documentário que aposta mais numa bem arquitectada tensão dramática do que em domínios contemplativos ou demonstrativos.

Ondi Timoner consegue proporcionar uma obra suficientemente intrigante, recusando eventuais lugares comuns que poderiam tornar o projecto num inócuo concentrado de “sexo, drogas e rock n’ roll” com muita irreverência mas pouca substância. Felizmente isso não acontece, e o resultado final tem densidade q.b., focando os músicos com uma crueza assinalável, para o bem e para o mal (se Newcombe é alvo de maior atenção, protagonizando uma espiral descendente vincada pelas drogas e um individualismo exacerbado, Taylor também não é poupado, pois a realizadora inclui algumas cenas com os seus caprichos de drama queen, como no episódio da gravação de um videoclip).

Uma boa surpresa e uma das provas de vitalidade do género documental proveniente de esferas mais alternativas, à semelhança dos igualmente recomendáveis “Os Friedman”, de Andrew Jarecki, ou “Tarnation”, de Jonathan Caouette. A ver (e ouvir).

E O VEREDICTO É: 3,5/5 - BOM

BLINKS & LINKS

Fui blinkado no Portugal Musical, no Pinko e no Suspended Comfort. Obrigado aos responsáveis por estes espaços virtuais pelo destaque :)

domingo, março 20, 2005

You see her, you can't touch her

You hear her, you can't hold her

You want her, you can't have her

You want to, but she won't let you

You see her, you can't touch her

You hear her, you can't hold her

You want her, you can't have her

You want to, but she won't let you

She's not so special so look what you've done, boy

She's not so special so look what you've done, boy

She's not so special so look what you've done, boy

She's not so special so look what you've done

Now you wish she'd never come back here again

Oh, never come back here again

You see her, you can't touch her

You hear her, you can't hold her

You want her, you can't have her

You want to, but she won't let you

You see her, you can't touch her

You hear her, you can't hold her

You want her, you can't have her

You want to, but she won't let you

She's not so special so look what you've done, boy

She's not so special so look what you've done, boy

She's not so special so look what you've done, boy

She's not so special so look what you've done

Now I'm nailed above you

Gushing from my side

It's with your sins that you have killed me

Thinking of your sins I die

Thinking how you'd let them touch you

How you'd never realise

That I'm ripped and hang forsaken

Knowing never will I rise

Again

You still see her

Oh, you hear her

You want her

Oh, you want to

You see her

You still hear her

You want her

You still want to

"Auf Achse"

Franz Ferdinand

A recordação de uma das melhores canções de um dos melhores discos do ano passado (o que me lembra que não cheguei a fazer as típicas listas de melhores do ano...ainda irei a tempo???). "Michael" também é um grande tema, e com uma letra bastante...curiosa :P

É bom ver uma boa banda receber o destaque que merece (e parece que estão confirmados para a primeira parte dos U2...assim já valia a pena ir ao concerto)...

BLINKS & LINKS

Obrigado ao responsável pelo blog Wasted Blues por me blinkar ;) Volta sempre...

quinta-feira, março 17, 2005

MEGALOMANIA

Com "Herói", o realizador chinês Zhang Yimou efectuou um desvio considerável relativamente aos seus trabalhos habituais, debruçando-se pela primeira vez sobre o filme de artes marciais - com fulgurantes cenas de acção exemplarmente coreografadas - e afastando-se assim das obras e teor mais intimista e sóbrio que marcaram o início da sua filmografia (como "Milho Vermelho" ou "Esposas e Concubinas").

"O Segredo dos Punhais Voadores" (House of Flying Daggers) está bem mais próximo de "Herói" do que dos primeiros títulos do cineasta, apresentando um misto de romance, suspense e acção centrado na dúbia relação de dois guerreiros da Dinastia Tang, na China do século IX. Um jovem capitão, Jin (Takeshi Kaneshiro), tem a missão de conquistar a confiança da espia rebelde Mei (Zhang Ziyi) e de a seguir até ao quartel-general da suposta organização desta, "O Segredo dos Punhais Voadores", uma das forças que mais ameaça o poder totalitário do governo. Contudo, o plano não corre como era esperado e a relação entre os dois jovens adquire contornos bem mais ambíguos e imprevisíveis, fazendo com que o amor se insinue em conturbados tempos de guerra.

"O Segredo dos Punhais Voadores" recicla ideias e atmosferas que vão desde "O Tigre e o Dragão", de Ang Lee (uma das obras que mais contribuiu para conceder um novo fôlego aos filmes de artes marciais) até ao clássico "Romeu e Julieta", passando por por uma energia visual não muito distante das sagas "Matrix" (pelo recurso ao bullet time, sobretudo) e "Kill Bill" (o remix de influências e o flirt com o kitsch). Devido a este conjunto de referências, poderia pensar-se que o novo filme de Yimou é demasiado derivativo (e é-o de facto), mas o minucioso e inatacável rigor estético do cineasta consegue cativar de forma a que essas "pilhagens" sejam relativamente desculpáveis.

A verdade é que não há muitos filmes que apresentem uma exuberância cénica tão irrepreensível como os deste realizador chinês, e "O Segredo dos Punhais Voadores" é mais uma prova da sua singularidade.

Sim, a narrativa força os limites da verosimilhança - ainda se aceita que as técnicas de combate das personagens contrariem as leis da gravidade, mas as múltiplas reviravoltas do argumento chegam a ser exaustivas - e o seu desenvolvimento é demasiado linear e até maniqueísta, mas Yimou faz com que a película resulte devido a uma minuciosa direcção artística, com uma sumptuosa fotografia (nomeada para os Óscares) e uma deslumbrante diversidade cromática (recorrendo a uma larga paleta de tonalidades, texturas e ambientes).

"O Segredo dos Punhais Voadores" tenta gerar uma intensa densidade dramática através de protagonistas larger than life e de uma história de contornos quase míticos e carregados de romantismo, mas o resultado é desequilibrado, uma vez que as situações nem sempre suscitam empatia e envolvência. As esforçadas e intrigantes cenas finais possuem uma vibração emocional considerável, mas pecam por se estenderem demasiado e não resistem ao recurso a twists pouco conseguidos.

Se fosse tão absorvente no argumento como o é na fulgurante componente visual, "O Segredo dos Punhais Voadores" destacar-se-ia como uma imponente tour-de-force a caminho de se tornar num clássico. Assim, é uma interessante e a espaços muito inspirada obra - vejam-se os episódios do desafio à dançarina "cega" ou as perseguições na floresta de bambus - que, apesar das vastas doses de pompa e circunstância, agrada e seduz mas não esmaga.

E O VEREDICTO É: 3/5 - BOM

quarta-feira, março 16, 2005


PRELÚDIOS NOCTURNOS

Criar um sucessor para o muito elogiado, amado e aclamado "Mellon Collie and the Infinite Sadness" não era tarefa fácil, uma vez que as expectativas eram altíssimas e dificilmente os Smashing Pumpkins conseguiriam superar aquele que ficou, a par de "Siamese Dream", como o seu álbum mais emblemático. Por isso, quando o muito aguardado "Adore" foi editado, em 1998, grande parte da crítica e dos fãs da célebre banda de Chicago não soube como reagir perante um registo com atmosferas tão distantes daquelas que marcaram o determinante álbum duplo do grupo.

Vincado por tons intimistas, sóbrios e delicados, "Adore" envereda por domínios bem diferentes da megalomania e intensa vibração de "Mellon Collie and the Infinite Sadness", apostando em ambientes mais serenos, contemplativos e soturnos e rompendo com a considerável teen angst presente nos trabalhos anteriores dos Smashing Pumpkins. Menosprezado e subavaliado no período da sua edição, "Adore" é um daqueles discos que não se revela totalmente de forma imediata, embora contenha um incomum e subtil talento na composição.

Gravado sem o baterista Jimmy Chamberlin - reduzindo a banda a um trio composto por Billy Corgan, James Iha e D' Arcy -, "Adore" percorre áreas mais apaziguadas e melancólicas, e só a espaços exibe traços da visceralidade e energia que caracterizaram o grupo. Essa ausência de rebeldia e dinamismo permite apresentar uma composição mais subtil e madura, rompendo com as influências grunge/ indie rock/ heavy metal e seguindo áreas mais próximas de uma dream pop com contornos góticos, despoletando uma inebriante aura nocturna.

"Adore" contém um viciante e absorvente conjunto de baladas negras, onde os Smashing Pumpkins não se apoiam tanto na força e distorção das guitarras mas antes em densas e hipnóticas sonoridades electroacústicas. Foi uma aposta arriscada para a banda, que aqui se debruçou em territórios pouco habituais na sua discografia até então, mas o resultado final é plenamente conseguido.

A espaços as canções seguem formatos mais clássicos, sustentadas pela sobriedade da voz de Billy Corgan - que aqui brilha como nunca, libertando-se de registos mais excessivos e histriónicos - e pela serenidade do piano, enquanto que noutros momentos o grupo recorre à envolvência dos sintetizadores, gerando resultados com tanto de nostálgico como de inventivo.

Um dos pontos fortes dos Smashing Pumpkins sempre foram as letras, e em "Adore" Corgan volta a destacar-se como um notável escritor de canções, oferecendo mais uma série de inspiradas reflexões acerca da desilusão, amor, solidão ou desespero e consolidando um universo de referências complexas e profundas.

Embora aparente, às primeiras audições, ser mais modesto e minimalista do que os álbuns anteriores da banda, "Adore" convence pela sua maior sofisticação e densidade, proporcionando episódios de recorte superior como a aliciante dream pop de "Perfect" (de facto, um single perfeito), a excentricidade irresistível de "Pug", a sentida melancolia de "Daphne Descends", a comovente desolação de "Shame", a inquietude de "Crestfallen" ou a deliciosa electropop elíptica de "Appels + Oranges".

"Adore" pode não ter a grandiosidade e eloquência dos frequentemente elogiados "Siamese Dream" e "Mellon Collie and the Infinite Sadness", mas compensa esse aspecto através das peculiares e estranhamente contagiantes atmosferas que dissemina, salientando-se não só como um disco surpreendente mas também como uma obra-prima.

Não é o álbum mais emblemático, influente e marcante dos Smashing Pumpkins, mas é provavelmente o melhor que o grupo nos deixou. Fascinante e intemporal.

E O VEREDICTO É: 5/5 - EXCELENTE

terça-feira, março 15, 2005

SABER AMAR

Se ainda há filmes que valem sobretudo pela força dos diálogos e dos actores, então "Perto Demais" (Closer) é um desses casos, congregando um muito estimável elenco - Julia Roberts, Jude Law, Clive Owen e Natalie Portman - numa adaptação da premiada peça teatral homónima de Patrick Marber. Se a estes promissores condimentos adicionarmos Mike Nichols, um cineasta com provas dadas - desde os emblemáticos "Who's Afraid Of Virginia Woolf" e "The Graduate", passando pela mini-série "Angels in America" - e um considerável hype internacional, então "Perto Demais" tem tudo para se tornar numa aliciante proposta cinematográfica.

Abordando as ambivalências das relações humanas, sobretudo as fricções entre o(s resquícios de) amor e o sexo, o filme segue o percurso de quatro personagens à beira do abismo, hesitando entre a segurança e desconforto da solidão e a efervescência imprevisível e não raras vezes dolorosa de um contacto mais próximo - por vezes demasiado próximo - com o outro.

"Perto Demais" tem sido quase unanimemente incensado devido a à sua perspectiva supostamente perspicaz, densa e aprofundada sobre o complexo universo emocional humano, com um enfoque singular acerca das relações assentes no amor e/ou no sexo. De facto, Nichols apresenta um interessante olhar sobre essa temática, oferecendo um trabalho com alguma tensão dramática, apropriadas atmosferas realistas e assinaláveis doses de um cruel humor negro, mas o seu retrato aposta num abrupto niilismo que lança as personagens numa espiral descendente onde a ingenuidade é um mito e a redenção quase tão improvável.

Os protagonistas afastam-se da bidimensionalidade que marca muitas obras próximas destes domínios, mas a sua áspera ambiguidade nem sempre as torna em figuras que envolvam especialmente, uma vez que os ambientes do filme, carregados de frivolidade e cinismo, exageram nas doses de negritude e desolação. O trabalho dos actores é meritório, desde as estrelas em ascensão Clive Owen e Natalie Portman - ambos justamente nomeados para o Óscar de Melhor Actor e Actriz Secundários - até aos mais mediáticos Jude Law (ainda assim, o mais inconstante dos quatro) e Julia Roberts (segura e convincente), mas as suas personagens raramente geram empatia, arrastando-se numa avassaladora teia de infidelidade, mentira, ciúme e traição.

Muitos têm elogiado "Perto Demais" por ser um raro filme mainstream para adultos, a milhas das rotineiras comédias românticas estereotipadas que banalizam a temática das relações amorosas. Contudo, embora o filme de Mike Nichols trate o tema com inteligência e argúcia q.b., não é propriamente um achado nem uma obra tão ímpar como alguns sugerem. Recentemente, muitos outros títulos têm abordado a tensão conjugal de forma não menos subtil, como "5X2", de François Ozon, "Desencontros" (We Don't Live Here Anymore), de John Curran ou "Antes do Anoitecer" (Before Sunset), de Richard Linklater, comprovando que o género não está assim tão desfasado e não precisa de ser salvo por uma obra como "Perto Demais".

No entanto, se encarado com entusiasmo moderado, o filme de Mike Nichols possui, ainda assim, um boa dose de elementos recomendáveis - a acutilância dos diálogos, a entrega das interpretações, as cruas atmosferas urbanas, a música de Damien Rice - proporcionando uma experiência cinematográfica pertinente e interessante, mas sem o fulgor das obras geniais.

E O VEREDICTO É: 3/5 - BOM

OÁSIS CINEMATOGRÁFICOS

Já se sabe que a partir de Março as estreias cinematográficas não são as mais promissoras, oscilando entre comédias de segunda, filmitos de terror de terceira e pouco mais (sim, há algumas excepções, mas não muitas).
Mesmo assim, ainda há alguns locais com espaço para cinema recomendável, como o Ciclo "Os Melhores de 2004 Segundo a Critica", do Cinema Ávila - para a semana estão prometidos "A Vila" e "The Incredibles - Os Super Heróis" -, o 2º Ciclo de Cinema LGTB da Rede Ex-Aequo, na Videoteca de Lisboa (que apresentará obras inéditas entre nós, como os elogiados "Ma Vie en Rose", "The Laramie Project" ou "All Over Me") ou ilutres blogs sobre cinema que vão surgindo inesperadamente, como o concentrado girl power de Clarice had a little lamb.
Apesar de tudo, é bom ver que ainda há iniciativas refrescantes em esferas mais alternativas...

gonn3000 - DOS 3000 PASSARÁS

Pois é, este blog já teve mais de 3000 visitas, o que para muitos poderá não ser significativo mas para mim já é uma etapa relevante. Por isso, obrigado a todos os internautas que passaram e têm passado por aqui :)
E já agora, espalhem a palavra ;)

segunda-feira, março 14, 2005

ESTRANHA NUMA TERRA ESTRANHA

Nos últimos anos, o cinema português tem abordado frequentemente um tema central da História recente do país, e que permanece ainda como um capítulo envolto em alguma controvérsia: a guerra colonial.

"Os Imortais", de António-Pedro Vasconcelos, ou "Preto e Branco", de José Carlos de Oliveira, proporcionaram algumas perspectivas sobre esse episódio, e "A Costa dos Murmúrios", a primeira longa-metragem de Margarida Cardoso, é mais um exemplo que revisita ambientes desse período. Contudo, esta estreia não é apenas mais um filme centrado na guerra colonial, uma vez que oferece um inusitado, mas cativante desvio aos típicos formatos e estruturas do género, gerando um drama introspectivo e sereno que se desenrola numa época conturbada .

Baseado no romance homónimo de Lídia Jorge, "A Costa dos Murmúrios" foca as experiências de Evita, uma jovem recém-casada que viaja para Moçambique para acompanhar o marido, Luís, que cumpre aí o serviço militar. Pouco depois de chegarem, Luís parte para uma operação militar (que se prevê ser a última, finalizando a guerra) e Evita fica sozinha, deparando-se com um cenário entre o inquietante e o hostil, envolvendo-se numa atmosfera na qual não se revê e que frequentemente questiona.

Beatriz Batarda encarna a protagonista e torna Evita numa personagem não menos intrigante do que o ambiente que a cerca, apresentando uma interpretação contida e subtil e confirmando-se como uma das mais versáteis e credíveis actrizes portuguesas da actualidade (para eventuais cépticos, basta comparar o seu visceral desempenho em "Noite Escura", num registo em tudo distante da sobriedade de Evita). Através das peripécias de protagonista e da desolação com que esta se confronta, "A Costa dos Murmúrios" vai dando conta dos absurdos e contrariedades de uma guerra sem sentido (se é que alguma o tem) e das múltiplas ressonâncias que os seus trágicos eventos despoletaram.

Margarida Cardoso proporciona um retrato perspicaz e atento, recorrendo a uma cuidada reconstituição de época, uma sólida direcção de actores (além de Batarda, destaque para Filipe Duarte e Mónica Calle), uma apelativa fotografia, banda sonora apropriada e um ritmo lento e apaziguado, mas raramente enfadonho.

A realizadora consegue trabalhar o material literário (que serve de base ao argumento) de forma eficaz, adaptando-o à linguagem cinematográfica e sendo bem-sucedida na construção de absorventes climas e tonalidades. Por vezes, há traços de um cinema documental (o que nem é de estranhar, tendo em conta que a cineasta já teve alguns projectos nesses domínios), com estilhaços de um realismo cru e marcante, mas "A Costa dos Murmúrios" surpreende sobretudo pela aura brumosa, contemplativa, melancólica e estranhamente hipnótica que carrega, com certos momentos vincados por uma serenidade claustrofóbica. Essa amálgama de realismo com atmosferas inebriantes nem sempre é bem sucedida, mas é suficiente para tornar o filme numa obra singular, suscitando uma vibração rara no cinema português.

"A Costa dos Murmúrios" não se esgota na temática da guerra colonial, mas recorre a esta para percorrer um conjunto de questões como a solidão, a identidade, a confiança, a mentira, o amor, a condição feminina, a liberdade ou o choque de culturas. O resultado é profícuo e promissor, gerando um dos melhores filmes portugueses dos últimos anos, o que não faz de "A Costa dos Murmúrios" uma obra-prima mas chega para a tornar numa recomendável proposta cinematográfica.

E O VEREDICTO É: 3/5 - BOM

domingo, março 13, 2005

AMAR-TE-EI ATÉ TE MATAR

"Tesis", "Abre los Ojos" e "Os Outros" (The Others) já tinham sugerido que Alejandro Amenábar era um cineasta curioso e com uma forma peculiar de contar histórias, sobretudo em domínios do thriller com alguns elementos fantásticos. Apesar da sua curta filmografia se destacar como promissora, também era demasiado sobrevalorizada por quem viu na eficácia dos seus filmes traços de genialidade e inspiração superiores. É por isso que "Mar Adentro", o seu trabalho mais recente, é tão decisivo na sua obra, uma vez que efectua uma mudança de registo - trata-se de um seco e depurado drama familiar - e finalmente confirma Amenábar como um realizador a seguir com atenção.

O filme foca os esforços de Ramón Sampedro, tetraplégico há trinta anos, para colocar "termo à vida dignamente", ou seja, recorrendo à eutanásia, acabando assim com um quotidiano marcado por um desencanto recorrente e frustrante. A premissa de "Mar Adentro" baseia-se num caso verídico, e Amenábar apoiou-se no livro «Cartas desde el Infierno», escrito pelo próprio Sampedro, onde este narra todo o processo relacionado com a sua luta pelo direito à morte, desde o fatídico acidente no mar, que o vitimou aos 25 anos, até à polémica que o seu caso gerou nos media.

Um dos grandes trunfos de "Mar Adentro" é, indubitavelmente, o seu actor principal, Javier Bardem, uma presença carismática e convincente, capaz de tornar Ramón numa figura complexa e evitando os lugares comuns que geralmente marcam personagens deficientes no cinema. Ao contrário do que ocorre em muitos dramas (sobretudo nos de Hollywood), aqui não há uma abordagem que trate o tetraplégico como um "coitadinho" unidimensional e caricatural que envereda por uma constante auto-comiseração. Pelo contrário, Bardem encarna um Ramón subtil, inteligente e perspicaz, que tanto exprime uma arrepiante revolta como um irresistível sentido de humor, nunca recorrendo a tiques ou jogadas fáceis. As suas interpretações em títulos como "Em Carne Viva", "Antes que Anoiteça" ou "Às Segundas ao Sol" já eram impressionantes, e aqui o actor mantém o nível excelente que o tem distinguido, o que torna ainda mais incompreensível o facto de não ter sido nomeado para o Óscar de Melhor Actor, uma vez que estaria muito acima da concorrência.

Contudo, a direcção de actores de "Mar Adentro" distingue-se não só pela escolha do protagonista perfeito mas também por um notável acerto em todo o elenco, com secundários de excepção que conseguem transmitir a densidade emocional que um drama tão exigente como este requer. Os familiares e amigos de Ramón vivem numa tensão e preocupação constantes, expondo múltiplas opiniões acerca da controversa questão da eutanásia, e os actores conseguem inserir-lhes a tridimensionalidade necessária para que estas personagens não se reduzam a porta-estandarte de uma determinada perspectiva sobre esta temática. Pelo contrário, todos evidenciam que as suas decisões e tomadas de posição são motivadas pelo amor que sentem por Ramón, o que torna as suas decisões especialmente dolorosas.

Amenábar proporciona aqui o seu filme mais coeso e surpreendente, recorrendo a um argumento bem elaborado, a um ritmo pausado mas pleno de intensidade, a um brilhante trabalho de fotografia e a uma adequada banda-sonora. A realização oscila entre credíveis tons realistas, por vezes quase documentais, e pontuais momentos com atmosferas oníricas e etéreas (estas nem sempre interessantes, como a cena algo estereotipada do poético pôr-do-sol à beira mar). Pelo meio, há espaço para as deslumbrantes paisagens da Galiza e para um curioso olhar sobre a comunidade rural dessa zona, evitando traços de um pitoresco exagerado.

É certo que a perspectiva de Amenábar sobre a eutanásia é tendenciosa, elemento que se evidencia, por exemplo, no episódio da discussão entre Ramón e o bispo tetraplégico, que retrata a Igreja de forma um pouco simplista e plana. Os agonizantes momentos finais do filme, onde se revela o destino da advogada Julia (soberbamente interpretada por Belén Rueda), também deixam bem clara a postura do cineasta, embora "Mar Adentro" não seja prejudicado por essa opção, uma vez que a temática central é, ainda assim, abordada com considerável subtileza durante grande parte do filme.

Premiado com o Óscar de Melhor Filme Estrangeiro e distinguido com muitos outros galardões cinematográficos (pelo National Board of Review, Globos de Ouro, Festival de Veneza ou Prémios de Cinema Europeu), "Mar Adentro" justifica plenamente os diversos elogios que tem obtido, salientando-se como um sensível e comovente drama que recusa o facilitismo que mina muitos melodramas manipuladores. A par do igualmente belo e profundo "Maria Cheia de Graça", de Joshua Marston, este soberbo filme de Alejandro Amenábar é a melhor experiência cinematográfica do primeiro trimestre de 2005. Obrigatório e arrebatador.

E O VEREDICTO É: 4/5 - MUITO BOM

BLINKS E LINKS: THE QUEST CONTINUES

Obrigado aos responsáveis pelos blogs A Bomba, CineBlog, Filho do 25 de Abril e Realizador vs Cinema por me blinkarem...Parece que isto está a correr bem :D

sexta-feira, março 11, 2005

UMA AVENTURA COM OS FURSLIDE

Uma das muitas bandas que editou um álbum e não manifestou indícios de actividade desde então, os Furslide lançaram o primeiro - e único - disco de originais em 1998, propondo uma interessante pop de perfil mainstream com contaminações que vão da electrónica ao rock alternativo.

"Adventure", o registo de estreia, não desbrava novos territórios nem contém uma carga inventiva especialmente marcante - não se aventura tanto como o título poderá sugerir - mas consegue apresentar um resultado suficientemente sólido e coeso que o tornam num trabalho merecedor de atenção.

Produzido por Nellee Hooper - o que é logo um ponto que gera alguma curiosidade, dado que a lista de colaborações do produtor inclui Massive Attack, Madonna ou U2 -, o álbum oferece uma pop-rock relativamente versátil, que tanto envereda por ambientes indie como exibe traços electrónicos, não evitando também influências folk.
A espaços quase lo-fi, servindo-se da simplicidade acústica, noutros momentos mais atmosférico e etéreo, recorrendo a uma electrónica discreta e subtil, "Adventure" consegue abordar vários domínios com eficácia e sofisticação.

A vocalista Jennifer Turner ajuda a tornar o resultado convincente, transbordando elegância e carisma tanto num registo mais enérgico como em cenários de maior placidez e serenidade.
Embora a maioria das canções sejam entusiasmantes, raramente há, contudo, rasgos de inspiração superior, mas temas como o absorvente e sedutor "Love Song" (um belo single trip-pop de contornos góticos), o hipnótico "Skinny Girl" (com um fabuloso clímax de guitarras e electrónica) ou os delicados e harmoniosos "Hawaii" e "Faith" (duas baladas cristalinas) mostram que a banda é capaz do melhor. Noutros momentos, as cargas de criatividade não são tão elevadas, expondo episódios mais derivativos - o espectro vai de Fiona Apple a Garbage, passando pelas Breeders, Ani di Franco ou mesmo Sheryl Crow - e formatados.
No geral, o balanço não deixa de ser positivo, tornando "Adventure" num disco que, apesar de recomendável, foi praticamente ignorado. A (re)descoberta, essa, é sempre possível, e é uma aventura que vale a pena.

E O VEREDICTO É: 3/5 - BOM

quinta-feira, março 10, 2005

O AMOR E A CIDADE

Filme-sensação dos Césares de 2004, os mais importantes galardões cinematográficos franceses, “A Esquiva” (L’ Esquive) é um pequeno filme de baixo orçamento realizado pelo tunisino Abdellatif Kechiche e apresenta um olhar sobre um conjunto de jovens de um bairro social parisiense. Vencedora da cerimónia nas categorias de Melhor Filme, Melhor Realização e Melhor Esperança Feminina (para a muito promissora actriz Sara Forestier), a película combina drama e comédia para focar um quotidiano suburbano vincado pelo choque de culturas e tensões da adolescência.

“A Esquiva” insere-se na linha dos filmes sobre minorias étnicas – neste caso, a comunidade abordada é a islâmica – que tem dominado algum do cinema de domínios mais marginais nos últimos anos, mas aqui o retrato prefere adoptar tons mais leves e optimistas e não se debruça tanto num realismo cru e desencantado que domina alguns dos exemplos do género. Não é que os traços de realismo não estejam presentes, pelo contrário, dado que Kechiche recorre frequentemente a um tipo de realização próxima do registo documental, mas o ponto de vista do cineasta não aposta em atmosferas de considerável fricção ou visceralidade, frequentemente presentes em dramas urbanos, seguindo antes por domínios mais cândidos e esperançosos.

O ponto de partida é uma peça teatral baseada em "O Jogo do Amor e do Acaso", de Marivaux, trabalhada por um grupo de estudantes de liceu da periferia e cuja temática – desde o conflito e classes às vicissitudes amorosas – irá estabelecer relações próximas com as conturbadas peripécias dos jovens. A peculiar ligação de dois dos actores da peça – Krimo (Osman Elkharraz) e Lydia (Sara Forestier) – está na origem de uma série de episódios, geralmente divertidos e por vezes surpreendentes, que interligarão uma rede de personagens num intrincado jogo de equívocos e contradições.
Com este ponto de partida, Kechiche proporciona um filme que conquista pela eficaz e credível captação de ambientes e esferas urbanas, que servem de cenário a um curioso e sensível retrato da adolescência onde as referências culturais entram em colisão e tendem a reformular-se. Nesse sentido, “A Esquiva” percorre domínios não muito distantes de “Joga Como Beckham” (Bend it Like Beckham), de Gurinder Chadha, com o qual partilha um irresistível bom-humor quase omnipresente que molda as experiências de uma comunidade de imigrantes (a comédia britânica focava, no entanto, a cultura indiana).

O elenco, constituído por adolescentes de bairros sociais, é globalmente sólido e convincente, e as personagens geram doses suficientes de empatia para que o seu rumo cative e envolva. Contudo, é inevitável não verificar aqui uma abordagem demasiado simplista e reluzente de temáticas complexas e delicadas das comunidades islâmicas, mas essa escassez de complexidade é compensada pela vibrante genuinidade e honestidade do projecto, que apesar de contar com um orçamento reduzido consegue desenrolar-se com assinalável carisma e energia.

Há alguns passos em falso, como a pouco conseguida cena com os polícias (um promissor, mas mal aproveitado momento de tensão) ou mesmo o desapontante desenlace, mas ainda assim “A Esquiva” destaca-se acima da mediania e proporciona duas horas razoavelmente divertidas e que, a espaços, contêm questões pertinentes e actuais. Nada mau para um pequeno filme simpático…

E O VEREDICTO É: 3/5 - BOM

BLINKS E LINKS

Os meus agradecimentos ao Miguel Lourenço Pereira por me ter blinkado e destacado no seu blog Hollywood, uma das melhores fontes de informação sobre cinema da net tuga. Obrigado pela referência :)

quarta-feira, março 09, 2005

VERA CHEIA DE GRAÇA

Mike Leigh tem vindo a distinguir-se como um dos mestres do cinema realista britânico, e alguns títulos da sua filmografia – os emblemáticos “Nú” (Naked) ou “Segredos e Mentiras” (Secrets and Lies), por exemplo - atestam a sua capacidade para proporcionar credíveis e minuciosas atmosferas habitadas por um quase sempre notável e muito profissional elenco. Contudo, o cineasta acusava, no seu filme anterior, “Tudo ou Nada” (All or Nothing), sinais de algum esgotamento de ideias ao enveredar por uma pouco surpreendente auto-citação, repetindo os mesmos tipos de temas e personagens.

“Vera Drake”, a sua obra mais recente, mantém os tons realistas e os traços de drama familiar mas inova ao debruçar-se agora sobre uma temática específica, polémica e actual: o aborto. A película é já uma das mais elogiadas e premiadas de Leigh – conquistando as distinções de melhor filme e melhor actriz no Festival de Veneza e seis prémios da British Independent Film Awards, entre outros galardões e nomeações – e, por isso, suscitava expectativa q.b. e fazia prever uma perspectiva peculiar sobre um tema incontornável.

No entanto, e embora possua óbvios méritos, “Vera Drake” é um daqueles casos onde o burburinho que antecipou a sua estreia entre nós funcionou contra si, uma vez que o filme não apresenta assim tantas qualidades que o tornem num objecto tão único e marcante.

No cerne da acção encontra-se uma mulher de meia-idade, mãe, esposa e empregada de limpeza dedicada, proveniente de humildes meios londrinos do pós-Segunda Guerra Mundial. O que torna Vera diferente de tantas outras mulheres é o facto de praticar, desde há vários anos, abortos clandestinos a múltiplas jovens, elaborados em condições precárias e limitadas. Vera esconde este facto da própria família, embora seja já uma figura conhecida entre um restrito círculo de mulheres que a encaram como uma presença confiável, segura e com provas dadas dentro desates conturbados processos.

A realização destes actos, encarados como criminosos e moralmente condenáveis segundo a legislação da época, não é motivada por qualquer interesse económico – são feitos a título gratuito -, e derivam apenas das consideráveis doses de generosidade e altruísmo que Vera emana naturalmente (auxiliando assim, segundo ela, as atormentadas jovens na resolução dos seus problemas). Todavia, a situação torna-se mais tensa para a protagonista quando as autoridades tomam conhecimento dos seus actos, o que inicia um tumultuoso e abrupto processo de crise familiar e de desolação contínua.

Se por um lado Leigh nunca exagera na tentativa de veicular uma posição específica quanto à questão do aborto, evitando que “Vera Drake” se transforme em mais um panfleto filmado, o desenrolar da acção contém, ainda assim, alguns elementos de irregularidade que tornam o resultado final pouco convincente. As motivações nobres e dignas de Vera Drake são logo um dos pontos questionáveis do filme, não que a personagem seja inverosímil, mas porque dificilmente será representativa do conjunto de indivíduos que praticam semelhantes actos (legalmente condenáveis na sociedade da época).

É certo que Imelda Staunton é exímia na sua composição (justamente nomeada para o Óscar de Melhor Actriz Secundária), e a sua Vera Drake comove e enaltece, mas Leigh abusa do tom e transforma-a quase numa mártir, factor que se destaca, sobretudo, na segunda parte do filme, um cansativo concentrado de interminável sofreguidão e desencanto. Os ambientes crus e realistas são excelentes, assim como todo o núcleo de actores – dos principais aos secundários, todos demonstram entrega e empenho -, mas isso já não é novidade num trabalho de Mike Leigh, e é pena que estes sejam os únicos elementos realmente satisfatórios em “Vera Drake”. O ritmo da narrativa é, infelizmente, demasiado arrastado e pouco envolvente, não dispensando alguns episódios francamente redundantes e aborrecidos, e o argumento previsível e convencional também não contribui para que o filme consiga inquietar ou despertar especial interesse.

Em vez ser um absorvente e complexo drama sobre as ambiguidades e contradições humanas, que era o que se esperaria de um cineasta subtil e perspicaz como Mike Leigh, “Vera Drake” reduz-se aos domínios algo lineares e formatados de um esforçado, mas pouco consistente telefilme da BBC, com tanto de competente como de indistinto. Ainda assim, quem procurar ver uma actriz em pleno estado de graça não sairá da sala de cinema completamente defraudado...

E O VEREDICTO É: 2/5 - RAZOÁVEL

segunda-feira, março 07, 2005

SITESPOTTING

Recomendo a passagem pelo site do migueL12, que para além da habitual e consistente informação e crítica de cinema conta agora com a tabela de classificações onde constam alguns jovens cinéfilos da net tuga (eu incluído...). Obrigado pelo destaque, migueL :)

domingo, março 06, 2005

Be easy on me

I'm fragile

I'm easily

Broken

Be careful with me

I'm a fighter

And you're a cheat and

You're a liar

I don't need this anymore

This is not what I came for

I won't stand for this at all

I won't see you anymore

Be easy on me

Don't trip my wire

I'm a freak and

I'm on fire

Be easy on me

Trip my wire

I'm a freak and

I'm on fire

I don't need this anymore

This is not what I came for

I won't stand for this at all

I won't see you anymore

Be careful with me

I'm fragile

I'm a bitch babe

And I'm on fire

Be careful with me

I'm fragile

I'm a bitch babe

And I'm on fire

Be careful with me

Be careful with me

Be careful with me

I'm fragile

Don't you trip, tripping on my wire

I'm a freak, freak, freak but baby I'm on fire

I don't need this anymore

This isn't what I came here for

"Trip My Wire"

garbage

Já faltou mais, já...

ESTES DIFÍCEIS AMORES...

Bill Condon já tinha trabalhado nos domínios do biopic em "Deuses e Monstros" (Gods and Monsters), um olhar sobre James Whale, o realizador de "Frankenstein", e a sua abordagem convenceu ao fugir a alguns dos convencionalismos do rotineiro filme biográfico. Com "Relatório Kinsey" (Kinsey), o cineasta foca agora um dos mais controversos e marcantes nomes da investigação sexual, Alfred Charles Kinsey, que se debruçou sobre os hábitos, tendências e práticas sexuais da população norte-americana nas décadas de 40/50.

Condon proporciona uma absorvente perspectiva sobre o percurso pessoal e profissional do protagonista, caracterizando-o com os traços de complexidade e ambivalência que uma análise profunda e rigorosa exige (contemplando a sua estrutura familiar e vida conjugal, assim como as suas motivações, dúvidas e medos). Essencial para o projecto é a interpretação de um actor de inegáveis méritos como Liam Neeson, capaz de encarnar tanto a obstinação como a vulnerabilidade da personagem principal, mantendo sempre uma postura algo fria e obsessiva de um homem dedicado ao seu estudo.
Laura Linney, no papel da esposa de Kinsey, é igualmente subtil, confirmando-se como uma das mais versáteis actrizes norte-americanas da actualidade (justamente nomeada para o Óscar de Melhor Actriz Secundária por este desempenho).

Condon provou ser um óptimo director de actores em "Deuses e Monstros" - que tinha Ian McKellen e um surpreendente Brendan Fraser como dupla protagonista - e em "Relatório Kinsey" esse aspecto continua a manifestar-se não só nos nomes principais mas também no profissional elenco de secundários (Chris O`Donnell, Timothy Hutton e, sobretudo, Peter Sarsgaard, com mais uma soberba interpretação, tão intrigante como as de "Shattered Glass - Verdade ou Mentira" ou "Garden State").

Para além de um notável núcleo de actores, "Relatório Kinsey" sustenta-se num sólido e entusiasmante argumento, que se afasta da lógica de (tele)filme biográfico e não se limita a ilustrar a vida do protagonista como uma mecânica sequência de acontecimentos centrados em personagens unidimensionais. Embora exiba alguma linearidade a espaços, "Relatório Kinsey" mantém sempre uma visão atenta da complexidade das relações humanas e não rejeita exibir as zonas de sombra e de inquietação do protagonista.
Poder-se-á acusar Condon de adoptar um tom demasiado edificante, mais evidente na recta final do filme - como na cena em que uma mulher de meia idade encara Kinsey como um "salvador" -, mas mesmo assim o cineasta não rejeita o contraditório (as fragilidades das investigações, particularmente a abordagem excessivamente baseada em números e que não contemplava tanto a esfera emocional/afectiva dos indivíduos analisados).

Pertinente e estimulante, "Relatório Kinsey" oferece um interessante retrato de um homem e de uma época, centrando-se numa temática que ainda hoje despoleta as mais diversas discussões, teorias, juízos de valor e reacções: o sexo. Com o seu filme, Bill Condon relembra-nos, de uma forma sóbria e astuta, alguns dos elementos que possibilitaram que esse assunto se tornasse cada vez mais discutido e analisado - para o bem e para o mal -, tornando "Relatório Kinsey" num recomendável biopic acima da média.

E O VEREDICTO É: 3,5/5 - BOM

sábado, março 05, 2005

A CASA DOS ESPÍRITOS

Se com "O Aviso" (The Ring), remake norte-americano do filme de culto japonês "Ringu", o realizador Gore Verbinsky já tinha aguçado o interesse dos produtores ocidentais pelo cinema de terror nipónico, o cineasta Sam Raimi ("O Plano", a saga de "Homem-Aranha") dá continuidade a essa tendência ao incentivar o remake de "Ju-On", outro título de sucesso no mercado japonês.

Nesta nova versão, "The Grudge - A Maldição", Raimi assume a função de produtor e a realização é entregue a Takashi Shimizu, que já tinha dirigido o título original.
O filme é mais uma variação sobre mansões assombradas, e a mais recente vítima é uma estudante norte-americana que estuda no Japão e que, ao efectuar mais um serviço de auxílio social, apercebe-se que a casa onde cumpre o mais recente trabalho possui uma atmosfera estranhamente invulgar e sinistra. O panorama torna-se ainda mais inquietante quando se descobre que a casa está interligada a uma série de acontecimentos trágicos.

Os primeiros minutos de "The Grudge - A Maldição" apresentam o mote para uma proposta de terror e fantástico que, se não parte de ideias particularmente originais, pelo menos aparenta ser uma experiência competente dentro do género, com destaque para a eficaz utilização do som, alguns movimentos de câmara razoavelmente intrigantes e flashbacks estrategicamente colocados de modo a prolongar o suspense.
Contudo, depois desses primeiros momentos escorreitos, "The Grudge - A Maldição" torna-se num filme cada vez menos envolvente e criativo, apostando em estafados "clichés" que dominam muitos títulos semelhantes.

A protagonista, Sarah Michelle Gellar (vulgo Buffy, a caçadora de vampiros), já está habituada a este tipo de registos, mas a sua esforçada interpretação não consegue convencer dado que a jovem recorre à inexpressividade que a caracteriza. Os restantes elementos do elenco não são muito melhores, uma vez que nenhum deles apresenta um desempenho acima da média (nem mesmo Bill Pullman, que não se sabe ao certo o que está lá a fazer...). Parte do problema é que os actores não têm propriamente personagens para defender, apenas figuras sem densidade que se limitam a seguir os pré-requisitos de um cinema de terror convencional e nada surpreendente. O argumento também é banal e mal trabalhado, proporcionando uma revelação final estereotipada e um desenlace sem qualquer nexo, recorrendo aos piores lugares comuns do género sobrenatural.

"The Grudge - A Maldição" tenta assustar, arrepiar e perturbar, mas as tácticas utilizadas dificilmente fascinam um espectador que já esteja familiarizado com as fórmulas do cinema de terror mainstream norte-americano. O resultado é um objecto previsível e descartável, que serve para acompanhar as pipocas mas nunca ameaça a digestão.

Se pelo menos aliasse os (supostos) ambientes de terror a algum humor negro, talvez "The Grudge - A Maldição" se tornasse numa obra curiosa e tragável – como os recentes "A Cabana do Medo", de Eli Roth, ou “A Casa dos 1000 Cadáveres”, de Rob Zombie -, mas assim não passa de mais um filme plano e muito pouco estimulante. Não que isso impossibilite uma sequela, que já está a ser preparada e deverá chegar às salas no próximo ano...

E O VEREDICTO É: 1/5 - DISPENSÁVEL