sexta-feira, setembro 07, 2007

SUAVIDADE NÓRDICA

Embora os Röyksopp e os Kings of Convenience tenham sido os principais responsáveis pela difusão da nova pop oriunda de solo norueguês no início da década, coube aos conterrâneos e menos mediáticos Flunk a autoria de alguns dos álbuns mais interessantes aí revelados, caso do registo de estreia, “For Sleepyheads Only” (2002), e do seu sucessor, “Morning Star” (2004).

Assente na voz envolvente e por vezes encantatória de Anja Øyen Vister, a música do grupo percorreu aí domínios reminiscentes do trip-hop, aceitando cruzamentos com a dream pop e com uma escrita de canções herdada da tradição folk, elemento reforçado no segundo disco.

Em “Personal Stereo”, o terceiro álbum de originais, a sonoridade da banda permanece quase intacta, não acolhendo novas influências e evidenciando que, para além da menor carga electrónica que cede agora mais espaço à guitarra acústica, pouco mudou.
A considerável estagnação não leva a que o disco resulte numa desilusão, já que o apelo da maior parte das suas canções é ainda significativo, mas torna-o num registo menos estimulante e diversificado do que os antecessores, mostrando uns Flunk demasiado iguais a si próprios.

Não falta sequer a já habitual versão de um hit dos anos 80, desta vez “See You”, dos Depeche Mode, que é alvo da mesma receita plácida e minimalista que surpreendeu nas releituras de “Blue Monday” e “True Faith”, dos New Order, nos álbuns anteriores, e que aqui é já feita em piloto-automático, caindo no comodismo e mediania de uns Nouvelle Vague.

O recurso a canções de terceiros repete-se no mais apelativo tema-título, cuja letra evoca a de “The One I Love”, dos R.E.M., ainda que integrada numa atmosfera etérea e serena que já se tornou na linguagem de marca dos Flunk. Em “Personal Stereo” o grupo encontra-se mesmo mais apaziguado do que nunca, sendo raros os momentos de aceleração rítmica - o nebuloso e sedutor “Keep On” e o mais luminoso “Two Icicles” são os únicos que se aproximam de domínios minimamente dançáveis.

Com tanto de reluzente como de melancólico, os temas não arrebatam por uma carga criativa notável mas conseguem ser cativantes e contornar quase sempre a monotonia, seja no romantismo enigmático de “If We Kiss”, na agradável canção de embalar “Heavenly”, na hipnótica “Diet of Water and Love” ou no belo momento pop que é “Sit Down”, onde a voz de Anja divide o protagonismo com a de Ulf Nygaard, o programador da banda (a inspiração falha, apesar de tudo, na redundante “Change My Ways”).

“Personal Stereo” não é então daqueles discos que saciará melómanos obcecados pela última novidade, contudo quem procurar um conjunto de canções electroacústicas intimistas e acolhedoras encontra aqui uma proposta consistente de um grupo que, ao contrário de outras referências comparáveis – Zero 7, Imogen Heap, Blue States, Sia ou Thievery Corporation –, continua recomendável e por vezes irresistível.

E O VEREDICTO É: 3/5 - BOM

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