sexta-feira, julho 15, 2005

O REGRESSO DO CAVALEIRO DAS TREVAS

Nos últimos anos, o universo da banda-desenhada tem servido de fonte de inspiração para múltiplos filmes, desde mediáticos super-heróis – “Homem-Aranha”, “X-Men” – até referências mais marginais – “Sin City – A Cidade do Pecado” ou “Ghost World – Mundo Fantasma”.

Num perído onde adaptações de ícones dos comics germinam como cogumelos, uma das personagens essenciais desses domínios teria de ser (re)aproveitada para mais um novo olhar cinematográfico.
“Batman: O Início” (Batman Begins) assinala o regresso do alter-ego de Bruce Wayne a territórios da sétima arte depois das visões de Tim Burton (que criou os aclamados “Batman” e “Batman Regressa”) e Joel Schumacher (responsável pela ridicularização do defensor de Gotham City em “Batman Para Sempre” e, sobretudo, “Batman e Robin”).

Tendo em conta os resultados desequilibrados dos filmes anteriores, esta nova aventura do homem-morcego era aguardada com expectativa e alguma relutância, mas as probabilidades do resultado ser competente aumentaram quando Chris Nolan, realizador do interessante filme de culto “Memento” e do curioso, mas mais convencional policial “Insónia”, assumiu a direcção do projecto.

Embora Nolan não se tivesse responsabilizado por um blockbuster até agora, a sua primeira experiência num filme desta dimensão não só é bem sucedida como proporciona o seu melhor filme até à data.

Criando uma atmosfera apropriadamente soturna e inquietante, o cineasta oferece em “Batman: O Início” uma obra que, mais uma vez, demonstra o seu rigor e equilíbrio visual que ajudaram a que os seus títulos anteriores se tornassem tão emblemáticos.
Longe da vertente bizarra e onírica de Burton e do desbragamento carnavalesco de Schumacher (que conseguiu ser mais camp do que a série televisiva dos anos 60), Nolan origina uma perspectiva densa, crua e mais realista, apostando num registo sóbrio e sofisticado.

Mais centrado na dicotomia Bruce Wayne/Batman do que no carácter dos seus antagonistas (contrariando, assim, a tendência das adaptações anteriores), “Batman: O Início” explora o homem por detrás da máscara (ou a máscara por detrás do homem?), debruçando-se sobre as tensões e fragilidades do protagonista e evidenciando os motivos que suscitaram que um playboy milionário se tornasse num super-herói repleto de contrariedades.

Nolan constrói aqui uma obra inspirada, mas ainda assim irregular, uma vez que o olhar sobre o lado psicológico de Batman nem sempre é convincente (os momentos iniciais, repletos de frases feitas pseudo-profundas da filosofia oriental, são esteriotipados e insípidos) e a envolvente aura intimista que o filme vai desenvolvendo é subitamente interrompida quando o argumento cede, nos últimos momentos, aos lugares-comuns de um banal blockbuster (não é que Nolan não seja competente nas cenas de acção, mas as doses de adrenalina do desenlance são pouco espontâneas e demasiado formatadas).

Mesmo com essas limitações, “Batman: O Início” impõe-se como um filme sólido e adulto, com personagens estimulantes e notáveis interpretações de todo o elenco.
De resto, outra coisa não seria de esperar com actores do nível de Christian Bale (que compõe um intrigante e enigmático Batman, provavelmente o melhor que já se viu no grande ecrã), Katie Holmes (segura como advogada idealista, dando continuidade à promissora interpretação de “Pedaços de uma Vida”), Liam Neeson (competente, apesar da personagem mal explorada), Michael Caine (profissionalíssimo como sempre), Morgan Freeman (igual a si próprio, mas irrepreensível) ou Cillian Murphy (arrepiante como Scarecrow, num excelente desempenho que confirma a sua versatilidade ao distanciar-se dos papéis de “28 Dias Depois” ou “Intervalo”).

Não sendo uma obra-prima, “Batman: O Início” é, contudo, um dos melhores blockbusters do Verão de 2005 e vai além dos requisitos mínimos de um filme-pipoca, contendo substrato dramático, intensidade visual e um realizador que soube compreender o universo do protagonista.
Espera-se que, na inevitável sequela (que a última cena sugere descaradamente), os resultados sejam igualmente convincentes e estimulantes.
E VEREDICTO É: 3,5/5 - BOM

15 comentários:

Gustavo H.R. disse...

Uma crítica bem positiva! Estranhou-me a nota não ser mais alta. O bom "word-of-mouth" é o meu combustível em relação a esse novo BATMAN, já que não sou fã do personagem. Mas digo desde já que prefiro os filmes de Schumacher a BATMAN RETURNS.

kimikkal disse...

Até este Batman o único interesse que tinha encontrado nos filmes do homem-morcego era a estética quase gótica de Tim Burton. O resto eram pipocas.

Este tem um argumento digno desse nome. Como referiste, o filme não deixa de ser um filme-pipoca para multidões suburbanas. No entanto, consegue ser mais que ecercício de estética, algo onde os filmes anteriores de Batman falhavam.

The Stranger disse...

É um excelente filme este "Batman Begins". Se todos os blockbusters fossem assim...

Mas não é o melhor filme do Nolan. Não exageremos !!! O "Memento" é o..."Memento". Mas até agora o seu percurso tem sido impecável. Uma grande carreira em perspectiva.

gonn1000 disse...

Gustavo: Eu acho que este "Batman" é provavelmente o melhor já feito, mas os do Schumacher, especialmente "Batman e Robin", estão entre os piores.

Kimikkal: Sim, este vale como um todo e não só pelas atmosferas. Merece ser visto no cinema.

Duarte: O "Memento" tem um ponto de partida interessante, mas achei a execução demasiado repetitiva e circular. Acho que o "Insónia" foi um ligeiro passo atrás, não evitando domínios dos thrillers mais rotineiros, por isso este "Batman: O Início" é, para mim, o filme mais convincente do Nolan.

Daniel Pereira disse...

Como já disse no meu blog, é um filme muito fraquinho. Aliás, discordo de dois dos três pontos positivos que mencionas: boas interpretações do elenco e competente nas cenas de acção. O outro ponto, o desenvolvimento da personagem existe mas a meio desaparece, não tendo o filme onde se agarrar.

gonn1000 disse...

Das cenas de acção ainda percebo que não gostes, mas as interpretações pareceram-me todas bastante sólidas, e acho que o desenvolvimento do protagonista melhora progressivamente. Gostos...

Anónimo disse...

Decididamente não é o meu tipo de filme, mas se o morgedo n me morder ate que posso dar uma espreitadela.

gonn1000 disse...

Podes avançar que não morde, pelo menos eu não me queixei...

Anónimo disse...

é verdade, é um filme competente, com uma bastante boa 1ª parte com um Bruce Wayne excelentemente interpretado por Bale (aliás todos os restantes actores se comportaram bem :) Apesar de as cenas de acção serem um pouco confusas e um Batman demasiado frio para o meu gosto, será um filme que será relembrado com o passar dos anos. Eu gostei apesar dos pontos menos positivos. Houve uma mensagem que tentou ser passada e o realizador conseguiu-a.

Anónimo disse...

Também gostei :). Para quem nem aprecia Batman acho que é um filme interessante. Análise em breve.

Cumps. cinéfilos

Gustavo H.R. disse...

Também concordo com você no que se refere a AMNÉSIA (MEMENTO), que é um filme de estrutura intrigante mas nunca transbordante de genialidade, na minha opinião.

Flávio disse...

Para mim, o melhor do filme foi o Michael Caine: what an actor!

gonn1000 disse...

membio: Sim, as cenas de acção podiam ser melhores, mas ainda assim acho que Nolan fez um trabalho competente...

André Batista: Obrigado

SOLO: Também não é dos meus super-heróis preferidos, mas foi uma boa surpresa...

Gustavo: Sim, vale mais pelo conceito do que pelo resultado final.

Flávio: Esteve bem, realmente...

brain-mixer disse...

O que vai para ái de Batman 4 é melhor que o 2º é ridículo! Só os diálogos das gajas do filme dão-me vontade de rir. parece que estava a ver um porno-movie com efeitos especiais. Este Batman Begins ainda não vi, mas estou curioso de saber se o tornam mais humano ou mais violento.


brain-mixer.blogspot.com

gonn1000 disse...

Também acho que o 4º é o pior, mas isso é subjectivo. O novo é mais humano, e talvez um pouco mais violento do que os anteriores. Fica bem...