quinta-feira, junho 21, 2007

TEORIA DA CONSPIRAÇÃO

Nos últimos tempos, filmes dedicados ao 11 de Setembro têm surgido com alguma recorrência, contando com maiores ou menores doses de ficção e investindo nos motivos que levaram aos atentados ou nas consequências destes. Do docudrama "Voo 93", de Paul Greengrass, ao thriller "Alguns Dias em Setembro", de Santiago Amigorena, passando pela crónica de "World Trade Center", de Oliver Stone - e estes são só os casos em que as referências aos eventos são mais directas -, o cinema tem sido uma hipótese de catarse face às memórias de um dia trágico e determinante.

"Infinite Justice" não será dos mais mediáticos, o que é pena, uma vez que o paquistanês Jamil Dehlavi apresenta aqui uma visão interessante do contexto geopolítico actual sem cair em simplismos ou maniqueísmos, gerando um thriller carregado de nervo e intensidade que evita pirotecnias hollywoodescas e demais ataques à plausibilidade.
Parcialmente inspirado na história de Daniel Pearl, repórter capturado e assassinado por terroristas islamitas, o filme segue as investigações de um jornalista cuja irmã foi vítima da tragédia ocorrida no World Trade Center e que, determinado a encontrar respostas para o sucedido, inicia uma busca onde vai acumulando informação que poderá funcionar como rastilho para dinamitar algumas entidades do sistema.
Partindo de uma reportagem sobre a rede financeira da Al Quaeda, a pesquisa de Arnold Silverman acaba por levá-lo a deparar-se com uma das figuras-chave da organização, Kamal, um britânico de ascendência paquistanesa e educação universitária com um papel decisivo nos incidentes do 11/9.

Intrincada mistura de realidade e ficção - sendo por vezes arriscado discernir onde acaba uma e começa a outra -, "Infinite Justice" é especulativo mas não histérico, contendo um equilíbrio assente no olhar tridimensional e complexo que Dehlavi oferece. Explorando com solidez as motivações dos dois protagonistas através de flashbacks oportunos e bem geridos, o filme desenvolve-se sempre a um ritmo escorreito, sem palha narrativa, e mesmo que por vezes seja demasiado cerebral, obrigando o espectador a digerir grandes doses de informação sem muitas pausas, mantém-se absorvente e a espaços desconcertante.

Os praticamente desconhecidos Kevin Collins e Raza Jaffrey expõem carisma na liderança de um elenco competente e a realização, de origem digital e low budget, não deixa de ser segura e elegante, e se não proporciona grandes momentos de cinema aproxima-se da eficácia de algumas (boas) séries televisivas policiais recentes, servindo bem a história que tem para contar.
"Infinite Justice" é por isso uma obra que não merece passar despercebida, abordando com subtileza e perspicácia uma temática com forte tendência para descarrilar para perspectivas tendenciosas, previsíveis ou estridentes. A sua descoberta justifica-se e recomenda-se.

E O VEREDICTO É: 3/5 - BOM

"Infinite Justice" integra a programação do Lisbon Village Festival e é exibido hoje à meia-noite no cinema São Jorge, em Lisboa

4 comentários:

Flávio disse...

Ainda não consegui perceber O QUE É o Lisbon Village Festival.

Maria Felgueiras disse...

Vejo todas as semanas o Raza Jaffrey em Spooks. ;)

Este filme promete. Fiquei curiosa.

gonn1000 disse...

Flávio: Er, pois... É um festival de cinema digital, embora pareça mais uma mostra, que até tem alguns filmes interessantes - e outros nem por isso -, mas a julgar pelo que vi na edição do ano passado e deste as sessões só esgotam nas sessões especiais (caso de "Volver" em 2006 e "I Will Never Be Your Woman", que curiosamente não são filmados em digital).

Velvetsatine: Ele está bem no filme, acho que não o conhecia.

gonn1000 disse...

Er... ok :/