sexta-feira, abril 15, 2005

DO 8 AOS 80

Uma das bandas-revelação de 2004, os norte-americanos The Killers conseguiram, com o seu disco de estreia, "Hot Fuss", gerar um dos pequenos grandes fenómenos do ano, fazendo a ponte entre esferas alternativas e áreas assumidamente mainstream. Parte da responsabilidade foi do single "Somebody Told Me", uma carismática canção que une o apelo da pop e a energia do rock.

Presença inesperada - ou nem por isso, tendo em conta o refrão catchy e viciante - nas playlists mundiais e com destaque assegurado na MTV, o tema de apresentação do álbum gerou curiosidade em torno destes quatro rapazes de Las Vegas.

"Hot Fuss", para muitos um dos discos indispensáveis dos últimos tempos, é um curioso melting pot de referências e sonoridades, onde há espaço para o indie rock, new wave, pós-punk, (brit) pop e mesmo algumas piscadelas de olho ao gospel.

Devedor de marcantes projectos de inícios dos anos 80, como os New Order, The Cure, Duran Duran ou The Smiths, o debute dos The Killers consegue, no entanto, apresentar alguns traços próprios da banda, não obstante as influências.

Expondo uma aura retro, mas não excessivamente nostálgica, o disco pisa territórios próximos dos dos Franz Ferdinand, Interpol, The Faint, Yeah Yeah Yeahs, The Strokes ou TV on the Radio, entre outros, salientando-se, tal como estes, como uma peça representativa do que de mais interessante se faz no rock actual (particularmente da facção inspirada na alvorada da década de 80).

Embora meritório, o álbum fica uns furos abaixo de obras de eleição como "Turn on the Bright Lights" ou "Franz Ferdinand", uma vez que, apesar de ser um trabalho intrigante, é também demasiado irregular.

Há em "Hot Fuss" canções portentosas como o já referido "Somebody Told Me" ou outros eficazes singles - o melancólico "Smile Like You Mean It" ou o resplandecente "Mr. Brightside" -, mas estes temas convivem com alguns episódios menos envolventes, de que é exemplo o redundante "All These Things That I've Done" (cuja letra inclui banalidades forçadas como "I've Got a Soul but I'm Not a Soldier").

A ousadia de momentos como o inebriante "Andy You're a Star" – tema onde os sintetizadores se mesclam eficazmente com a cativante voz de Brandon Flowers - não ocorre tão frequentemente como se esperaria, tendo em conta a formatação e convencionalismo de algumas composições, tornando "Hot Fuss" num disco satisfatório mas que só consegue brilhar a espaços. Nada que impeça, no entanto, que esta seja uma das boas surpresas de 2004, revelando mais um promissor projecto.

E O VEREDICTO É: 3/5 - BOM

10 comentários:

Daniel Pereira disse...

Também penso que o álbum é desiquilibrado. As primeiras 6 faixas são mesmo brilhantes, mas há, a aprtir daí, uma queda em termos qualitativos que não o fazem aguentar até ao fim. Mas a realçar que as primeiras 6 são talvez do melhor que há no indierock actual.

gonn1000 disse...

Sim, o disco começa muito bem com os três bilhantes singles. Depois disso há alguns altos e baixos, mas ainda é um disco que vale a pena...

Gustavo H.R. disse...

Não percebo muito de CDs que não sejam bandas sonoras, mas curto música "dance". Esse álbum, não conheço.

gonn1000 disse...

Este não é "dance" (embora recorra a sintetizadores), mas é um dos bons discos de rock de 2004. Experimenta :)

O Puto disse...

É um disco engraçado, mas não lhe dava este destaque. Os primeiros temas são bons. mas a qualidade é irregular. É apenas a minha modesta opinião.

gonn1000 disse...

Também não o considero tão marcante como alguns defendem, mas ainda assim é um disco com interesse. Irregular, mas mostra uma banda com potencial q.b....

l.s. disse...

Eu gosto de dois ou três músicas, ouvir o álbum todo é uma autêntica seca, e acho que se os ditos mocinhos fossem portugueses, eram apadrinhados pelo Tony Carreira. Para mim, o indie rock and roll que eles cantam não passa por eles.

gonn1000 disse...

Tony Carreira? Também não sejas mázinha :)
O disco é um bocado linear, mas ouço-o com agrado do princípio ao fim e não creio que tenha nada de muito mau, apenas alguns momentos um pouco medianos. Mas pronto, pelo menos concordamos quanto ao Billy Corgan ;)

Lid disse...

É um disco bom de se ouvir. De colocar no som do carro e sair dirigindo e cantando bem alto. rs

gonn1000 disse...

Nesse tipo de contexto resulta bem :)