quarta-feira, fevereiro 14, 2007

REQUIEM PARA UM SONHO

Parcialmente inspirada em factos reais, uma vez que se centra no assassinato de Robert F. Kennedy, "Bobby" revela como o dia de 6 de Junho de 1968, data em que ocorreu o crime, foi marcante para algumas das pessoas que, à semelhança do senador, também se encontravam no Hotel Ambassador, em Los Angeles.

Emilio Estevez oferece aqui uma obra que combina traços ficcionais e documentais, pois se as personagens do hotel são fictícias, as aparições de Kennedy são todas reaproveitadas de imagens de arquivo, gerando um misto singular que tem também como força inegável as muitas caras conhecidas de um cast de luxo.

Nomes como Laurence Fishburne, Anthony Hopkins, Helen Hunt, Joshua Jackson, Ashton Kutcher, William H. Macy, Martin Sheen ou Christian Slater, entre outros, aceitaram colaborar no projecto a troco de pequenas quantias, e ao alternar constantemente entre as inúmeras personagens "Bobby" traz à memória alguns trabalhos de Rober Altman. Apostando também nos moldes da narrativa em mosaico, o filme vai interligando as múltiplas figuras presentes no hotel, que em comum têm a expectativa pelas mudanças que a eleição de RFK poderá gerar.

Mais uma película recente de Hollywood a reflectir sobre a América de ontem e de hoje - à semelhança, por exemplo, de "Boa Noite, e Boa Sorte", de George Clooney, ou "As Bandeiras dos Nossos Pais", de Clint Eastwood -, "Bobby" deixa bem claro que se trata de um labour of love, pela forma como o senador concede alguma esperança aos que aguardam a sua visita, prometendo a hipótese de viragem de um contexto conturbado (vincado pelas brumas da Guerra do Vietname).
Se o tom inicial do filme é sóbrio, o desenlace peca pela falta de subtileza, apregoando um apelo pacifista de modo demasiado gritante, embora sincero. E há que reconhecer que esse final, apesar de previsível e um pouco ingénuo, tem um considerável impacto dramático, e sobretudo não deita a perder os bons momentos que o filme apresentou até aí.

É fácil acusar "Bobby" de ter demasiada ambição, desde logo pelo excessivo número de personagens e, principalmente, por deixar a maioria por desenvolver, mas essa diversidade de indivíduos focados também contribui para que Estevez capture aqui um zeitgeist muito específico com uma apreciável eficácia (a rigorosa montagem merece especial destaque).
A presença dos actores não é menos determinante, e há mesmo boas surpresas como uma cena entre as amarguradas Demi Moore (inesperadamente convincente) e Sharon Stone ou as dos jovens Elijah Hood e Lindsay Lohan, que contribuem para que o balanço destes retratos fugazes marque pela positiva, mesmo não sendo alheio a desequilíbrios.

Interessante, mas longe de brilhante, "Bobby" é então uma obra genuína, empenhada e pertinente, que permite adicionar Emilio Estevez ao grupo de realizadores com algo a dizer. Neste caso, pelo menos, vale a pena ouvi-lo.


E O VEREDICTO É:
3/5 - BOM

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