quarta-feira, julho 20, 2005

NÃO ME CONSUMAS

Álex de la Iglesia é um cineasta espanhol que conta na sua filmografia com alguns títulos de culto, desde “O Dia da Besta” até “A Comunidade”, passando por “800 Balas”. O seu estilo, que combina humor negro com situações à beira do absurdo e marcadas pelo exagero, garantiu-lhe um fiel grupo de seguidores mas também alguns detractores que não se identificam com o seu cinema politicamente incorrecto.

“Crime Ferpeito” (Crimen Ferpecto) promete dar continuidade a esta tendência, apresentando mais situações vincadas por corrosivos episódios cómicos e por vezes delirantes. O filme centra-se em Rafael (interpretado por um carismático Guillermo Toledo, também presente em “Querida Família”) , responsável pela secção de senhora de uns grandes armazéns que vive uma vida desregrada, em que as únicas preocupações são a preocupação com o que vestir e a próxima mulher a conquisar, alimentando um ego que aumenta de dia para dia.

No entanto, o confortável quotidiano de Rafael, recheado de narcisismo e individualismo, é abalado quando o protagonista discute com um colega com o qual competia e gera, acidentalmente, a morte deste. Os problemas intensificam-se quando há uma testemunha do crime, Lourdes (Monica Cervera, num desempenho arrepiante), a empregada mais feia dos armazéns, que aproveita a oportunidade para se declarar a Rafael e exigir o ser amor...a bem ou a mal.

Álex de la Iglesia gera uma obra que foca as crescente revelância dada à imagem nos dias de hoje, elemento que exerce uma influência determinante nos comportamentos do dia-a-dia e nas relações pessoais e sociais, assim como nos media.
Leve e escorreito, “Crime Ferpeito” proporciona um entretenimento eficaz, com algumas doses de bizarria e demência, diálogos bem esgalhados e uma interessante atmosfera de desespero que atormenta a pacata vida do protagonista e o insere numa claustrofóbica espiral descendente devido às múltiplas chantagens de Lourdes.

A competência do filme é, no entanto, ameaçada pelas reviravoltas finais, onde o desenlace é resolvido de forma demasiado forçada e pouco plausível, e o argumento torna-se repentinamente pretensioso ao querer dar lições de moral ao espectador, o que faz com que a crítica ao consumismo, até então bem conseguida, se torne assim pesada e desajustada. Ainda assim, durante a maior parte da sua duração “Crime Ferpeito” consegue divertir, e isso justifica o visionamento de um filme desequilibrado, mas suficientemente intrigante.

E O VEREDICTO É: 2,5/5 - RAZOÁVEL

2 comentários:

Anónimo disse...

Excelente análise. Pena eu não ter visto o filme :| lol.

Cumps. cinéfilos

gonn1000 disse...

Obrigado. E não seja por isso, ainda estás a tempo :)