sexta-feira, setembro 28, 2007

CRIAÇÃO INDIVIDUAL

“We Can Create” é o primeiro álbum do britânico James Chapman, que assina o seu projecto musical como Maps, resultado de investidas laboratoriais de criação e manipulação de som num computador.
Aliando a sua voz de registo tranquilo a um intrincado novelo de texturas predominantemente electrónicas, desenha aqui um conjunto de canções que aliam experimentalismo a um demarcado apelo melódico, embora o segundo aspecto se sobreponha quase sempre ao primeiro.

Caracterizado por atmosferas doces, sedutoras e luminosas, “We Can Create” consegue um saudável equilíbrio entre minimalismo e grandiosidade, fruto de um design sonoro apurado e preciso, evidenciando que Chapman é um das boas revelações oriundas de domínios brit.
Os temas movem-se entre a dream pop de Maximillian Hecker, o travo shoegaze dos Chapterhouse e o corta-e-cola cenográfico de Four Tet, incorporando ainda uma carga contemplativa próxima das paisagens de Ulrich Schnauss ou da placidez cristalina dos Sigur Rós (cujo produtor, Valgeir Sigurdsson, colaborou no disco).

A construção de ambientes é envolvente e gera belos episódios oníricos como “Elouise” (um dos melhores do ano) ou “You Don’t Know Her Name”, mas percorrendo o álbum parte do encanto que emana dos momentos iniciais acaba por se perder, já que “We Can Create” é mais bonito do que arriscado.

Mesmo não tendo temas fracos, ganharia se apostasse num maior contraste de camadas, acentuando a sujidade das paredes de som que se entrecruzam e, assim, injectando maiores doses de surpresa a uma sucessão de canções demasiado confortáveis, que quando ouvidas de seguida arriscam-se a funcionar enquanto (muito) agradável som de fundo em vez de composições que justificam maior atenção.

Além desta homogeneidade excessiva, também ainda não se acentua aqui uma marca pessoal que distinga muito Maps de outros projectos comparáveis, o que não chega a comprometer, contudo, que “We Can Create” figure entre as boas surpresas de 2007, contendo algumas das pérolas pop mais uplifting e convidativas dos últimos tempos. Uma bela promessa a confirmar.

E O VEREDICTO É: 3,5/5 - BOM


Maps - "It Will Find You"

5 comentários:

A disse...

Um belo disco, Gonçalo. Apesar de comportar pouco risco e inovação, tem referências da década passada, muito pessoais para mim.
Seguramente, é uma das boas supresas do ano e, tens razão, é uma surpresa que estejamos a destacar o mesmo disco...ao mesmo tempo. Ainda bem. :)
Um abraço, bom fim de semana.

gonn1000 disse...

Sim, é verdade que adapta bem essas referências, só acho que com mais algumas doses de risco poderia ter sido um grande álbum... talvez o próximo o seja.
Obrigado, bom fim-de-semana para aí também :)

extravaganza disse...

Bom, mas mesmo bom! :))

extravaganza disse...

Olha e já fiquei a saber um pormenor no blog do k (vénia) que é o álbum só agora ser lançado em Portugal. Desconhecia pois comprei o meu exemplar em Maio aquando da incursão a Glasgow para ver os Editors! ;)

A ver se apareces na minha próxima (pseudo)sessão sonora. Maps é presença garantida na playlist!

gonn1000 disse...

Também julguei que já tivesse sido lançado por cá, embora não o tenha comprado (*coff coff*).

Ultimamente não tenho muitas vezes ao bairro, mas a sugestão fica anotada ;)