sexta-feira, maio 11, 2007

VIVA A FESTA!

São apenas três mas ofereceram uma actuação que irradiou tanta energia como se fossem mais de uma dezena. Marina Ribatski, Rodrigo Gorky e Pedro D’Eyrot, os Bonde do Rolê, levaram ontem à Galeria Zé dos Bois, em Lisboa, as canções do seu álbum de estreia, "With Lasers", e convidaram à festa durante um concerto que, embora breve - durou pouco mais de quarenta minutos -, foi decorrendo com um considerável crescendo de intensidade.

Em disco, as experiências deste trio de Curitiba raramente convencem, assemelhando-se mais a devaneios com tanto de curioso como de inconsequente do que a canções bem esculpidas, mas ao vivo o grupo confirmou os elogiosos epítetos que circulam na Internet e fora dela e que identificam no projecto uma sólida proposta de desafio dançante e hilariante.



Não convém, no entanto, ir para um espectáculo da banda sem se deixar qualquer noção de bom gosto à porta, pois quem se levar demasiado a sério poderá não partilhar do entusiasmo pelo desconcertante caldeirão de referências proposto.

Tendo como tronco estrutural as matrizes do baile funk, evidentes nos infecciosos beats que marcaram toda a actuação, os Bonde do Rolê cruzaram essas sonoridades de rua com riffs de heavy metal de não muito boa memória ou versões bastante livres de canções emblemáticas de outros domínios. Assim, não é de estranhar que pelo mesmo espectáculo tenham passado um excerto do famigerado "The Final Countdown", dos Europe, uma adaptação de "The Model", dos Kraftwerk, ou melodias herdadas de canções da banda-sonora de "Febre de Sábado à Noite" ou dos Alice in Chains.

Estas pilhagens musicais foram entrecruzadas com quase todos os temas de "With Lasers", que em palco receberam um tratamento ainda mais cru e directo do que no disco, gerando momentos de desvairadas rajadas sónicas. Foi o caso de "Office Boy", "Solta o Frango", "James Bonde" ou "Quero te Amar", esta última candidata a tomar o lugar de "Superafim", dos Cansei de Ser Sexy, como a mais recente canção brasileira que insiste em não se descolar dos ouvidos.



O trio, que ao longo da actuação pareceu querer suplantar os constantes picos de adrenalina, cedo convenceu uma sala esgotada e que não hesitou em aderir à desbragada montanha russa musical. A vocalista foi especialmente dinâmica, dançando e gritando com uma atitude despudorada que já não reservou energia para um regresso no muito pedido, mas algo desapontante encore, que deixou em ponto morto um concerto que até aí decorreu em crescendo.

Antes da actuação, foi exibido o documentário "Tá Tudo Domindo", de Roberto Maxwell, pobre em meios mas eficaz na abordagem das origens e conceito do baile funk, movimento musical que emergiu das favelas para se disseminar para outros contextos, como os Bonde do Rolê agora o comprovam.


E O VEREDICTO É: 3/5 - BOM


Bonde do Rolê - "Office Boy"

2 comentários:

Unknown disse...

Se as CSS não me convenceram de todo, estes BdR muito menos. Esta espécie de funk carioca de trazer por casa roça um pouco na piroseira.

gonn1000 disse...

No caso dos Bonde do Rolê piroseira é mesmo a palavra de ordem, mas se em disco não resulta muito bem ao vivo até convence. Também prefiro CSS, tanto em álbum como ao vivo.