quarta-feira, agosto 16, 2006

SE É INDIE, É BOM (?)

Outrora percursor de novas linguagens, formatos e experiências, o cinema independente norte-americano tem vindo, nos últimos anos, a cristalizar códigos que, apesar de muito próprios, já não possuem a capacidade de surpreender que distinguiu alguns dos exemplos desses domínios marginais.

Continuam a haver excepções, é certo, mas "Eu e Tu e Todos os Que Conhecemos" (Me and You and Everyone We Know), primeira longa-metragem de Miranda July, não é uma delas.
Enésimo exemplo de um olhar agridoce sobre o quotidiano dos subúrbios, dominado por personagens à deriva que se entrecruzam acidentalmente, o filme é uma obra curiosa, a espaços inspirada, contudo demasiado irregular, gerando simpatia mas ficando aquém do burburinho internacional que tem suscitado (Grande Prémio da Semana da Crítica, Câmara de Ouro, no Festival de Cannes, e Prémio Especial do Júri em Sundance, em 2005).

Se por um lado tem boas ideias, sobretudo na exploração das personagens mais jovens (o mais novo dos dois irmãos é um achado) e em algumas doses de equilibrada ousadia, "Eu e Tu e Todos os Que Conhecemos" falha quando tenta injectar doses de poesia urbana de cinco em cinco minutos, onde a boa vontade do espectador vai ficando saturada perante certas sequências forçadas ou mesmo constrangedoras (casos da cena "queridinha" do peixinho dourado, da dos sapatos com legendas ou da do beijo no jardim).

O par amoroso que interliga as restantes personagens, e a quem July dedica boa parte do tempo de antena, também não ajuda, já que nem a artista restraída estereotipada (interpretada pela realizadora) nem o vendedor de sapatos em crise existencial são especialmente intrigantes, e muitos dos seus diálogos convidam ao bocejo.

Um mau filme? Não, apenas desequilibrado por tentar parecer ser mais do que aquilo que é, mas que ainda assim vai seduzindo pelo elenco consistente e por algumas cenas menos arty e óbvias, confirmando que July é uma realizadora com potencial.
No entanto, dentro da mesma linhagem indie, os também recentes "Finais Felizes" ou "Os Amigos de Dean" salientam-se como propostas mais prioritárias e conseguidas, assim como mais recomendáveis tanto a idealistas como a cépticos.

E O VEREDICTO É: 2,5/5 - RAZOÁVEL

8 comentários:

Anónimo disse...

Adorei a tal poesia urbana que dizes excessiva. Adorei o universo e as personagens de Miranda July. A sua coragem em ser lamechas sem subterfúgios e a sua subtileza ao ser provocadora. Basicamente, adorei o filme. Já o tinha visto no Indie mas revi-o qdo estreou nas salas. Não me cansou nada nada...
E achei bem mais "equilibrado" que Os Amigos de Deans ;)

gonn1000 disse...

Não o vi no Indie, por isso quando estreou tinha algumas expectativas pois quase só tinha ouvido coisas boas. Infelizmente ficou aquém das expectativas, mas não digo que a July não seja capaz de surpreender no futuro.

iLoveMyShoes disse...

:) Olha pois eu gostei... gostei da subtileza, gostei daquele ambiente "leve"... e estava de rastos, depois de um dia de trabalho intenso e acabei por nem dar pelo tempo do filme a passar. E o encontro do puto com a directora da galeria de arte... lindo!

gonn1000 disse...

Acho que há ali bons momentos, mas no geral fiquei desapontado e esperava maior subtileza. O encontro que referes foi, quanto a mim, das cenas mais fracas.

Ricardo disse...

Olá amigo gonn1000, tens certeza que viste o mesmo filme do que eu? Falta-te sensibilidade :) talvez aí gostes do filme... eu adorei. É um filme subtil, bonito que ao mesmo tempo é um pouco chocante. A Miranda July surpreendeu-me à "bruta", sabe escrever, realizar e contracenar.

gonn1000 disse...

Se calhar o peso das expecativas acabo por jogar contra o filme, mas não vi ali nada de tão original, inspirado ou transcendente (gostei muito mais d' "As Crónicas de Nárnia" eheheh :P).

not_alone disse...

Lool, As Crónicas de Narnia??? :P Eu consigo perceber como é que grandes expectativas podem influenciar a experiência do filme, mas de qualquer forma gostei bastante do filme.

gonn1000 disse...

Sim, acho-o mais refrescante do que este "Eu e Tu e Todos os Que Conhecemos", que pouco acrescenta a "n" filmes indie.