Com "Herói", o realizador chinês Zhang Yimou efectuou um desvio considerável relativamente aos seus trabalhos habituais, debruçando-se pela primeira vez sobre o filme de artes marciais - com fulgurantes cenas de acção exemplarmente coreografadas - e afastando-se assim das obras e teor mais intimista e sóbrio que marcaram o início da sua filmografia (como "Milho Vermelho" ou "Esposas e Concubinas").
"O Segredo dos Punhais Voadores" (House of Flying Daggers) está bem mais próximo de "Herói" do que dos primeiros títulos do cineasta, apresentando um misto de romance, suspense e acção centrado na dúbia relação de dois guerreiros da Dinastia Tang, na China do século IX. Um jovem capitão, Jin (Takeshi Kaneshiro), tem a missão de conquistar a confiança da espia rebelde Mei (Zhang Ziyi) e de a seguir até ao quartel-general da suposta organização desta, "O Segredo dos Punhais Voadores", uma das forças que mais ameaça o poder totalitário do governo. Contudo, o plano não corre como era esperado e a relação entre os dois jovens adquire contornos bem mais ambíguos e imprevisíveis, fazendo com que o amor se insinue em conturbados tempos de guerra.
"O Segredo dos Punhais Voadores" recicla ideias e atmosferas que vão desde "O Tigre e o Dragão", de Ang Lee (uma das obras que mais contribuiu para conceder um novo fôlego aos filmes de artes marciais) até ao clássico "Romeu e Julieta", passando por por uma energia visual não muito distante das sagas "Matrix" (pelo recurso ao bullet time, sobretudo) e "Kill Bill" (o remix de influências e o flirt com o kitsch). Devido a este conjunto de referências, poderia pensar-se que o novo filme de Yimou é demasiado derivativo (e é-o de facto), mas o minucioso e inatacável rigor estético do cineasta consegue cativar de forma a que essas "pilhagens" sejam relativamente desculpáveis.
A verdade é que não há muitos filmes que apresentem uma exuberância cénica tão irrepreensível como os deste realizador chinês, e "O Segredo dos Punhais Voadores" é mais uma prova da sua singularidade.
Sim, a narrativa força os limites da verosimilhança - ainda se aceita que as técnicas de combate das personagens contrariem as leis da gravidade, mas as múltiplas reviravoltas do argumento chegam a ser exaustivas - e o seu desenvolvimento é demasiado linear e até maniqueísta, mas Yimou faz com que a película resulte devido a uma minuciosa direcção artística, com uma sumptuosa fotografia (nomeada para os Óscares) e uma deslumbrante diversidade cromática (recorrendo a uma larga paleta de tonalidades, texturas e ambientes).
"O Segredo dos Punhais Voadores" tenta gerar uma intensa densidade dramática através de protagonistas larger than life e de uma história de contornos quase míticos e carregados de romantismo, mas o resultado é desequilibrado, uma vez que as situações nem sempre suscitam empatia e envolvência. As esforçadas e intrigantes cenas finais possuem uma vibração emocional considerável, mas pecam por se estenderem demasiado e não resistem ao recurso a twists pouco conseguidos.
Se fosse tão absorvente no argumento como o é na fulgurante componente visual, "O Segredo dos Punhais Voadores" destacar-se-ia como uma imponente tour-de-force a caminho de se tornar num clássico. Assim, é uma interessante e a espaços muito inspirada obra - vejam-se os episódios do desafio à dançarina "cega" ou as perseguições na floresta de bambus - que, apesar das vastas doses de pompa e circunstância, agrada e seduz mas não esmaga.
E O VEREDICTO É: 3/5 - BOM
2 comentários:
alô... fui ver o filme faz uma semana... ainda estou a digerir os últimos 10/15 min...
nos entretantos fui ver OldBoy... mto mto mto bom recomendo!
aquele abraxu
m3aNt2b3
Sushimi: Não é so no trailer :)
m3aNt2b3: "Old Boy" ainda não vi, mas sei que promete muito...
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