terça-feira, abril 04, 2006

VIGIAR E PUNIR

À semelhança dos seus conterrâneos Kim Ki-duk ou Park Chan-Wook, Kim Jae-woon é um dos realizadores que, nos últimos anos, mais tem contribuído para a divulgação do cinema sul-coreano além-fronteiras, como o atesta, sobretudo, “A Tale of Two Sisters”, de 2003, o seu filme mais mediático e aclamado.

“Doce Tortura” (Dalkomhan insaeng / A Bittersweet Life) é outro título que o coloca na lista de cineastas orientais do momento, uma história amarga sobre os dilemas de um reputado guarda-costas que não olha a meios para atingir os fins mas cujo profissionalismo é posto em causa quando se apaixona pela namorada do patrão, que se comprometeu a seguir e proteger.

À medida que vigia e interage com a cativante Heesoo, o frio e austero Sun-Woo toma contacto com as suas emoções, até então reprimidas, e não consegue matar a jovem quando descobre que esta trai o seu patrão com um amante. Tal atitude não passa despercebida perante o seu chefe e colegas e torna o protagonista num alvo a abater, despoletando uma espiral de tensão, perseguições, desilusões e algum sadismo.

Embora o ponto de partida do filme possa parecer simplista, Kim Jae-woon sabe como construir um vibrante retrato de sangue, suor e lágrimas, valendo-se de personagens que, sem fugirem muito aos estereótipos, são adequadas e razoavelmente trabalhadas, mas convencendo especialmente pela impressionante energia visual que insere tanto nas sequências de acção (e são muitas e bem coreografadas) como nas mais introspectivas e pausadas (relevantes para a exploração do conflito emocional de Sun-Woo).

Conciliando traços do thriller, film noir ou mesmo western, “Doce Tortura” nem sempre se desenvolve de forma interessante – a primeira das duas horas falha em conseguir envolver a espaços -, mas possui cenas muito inspiradas, como as do massacre do protagonista por parte de uma dezena de antagonistas, filmadas com um arrojo e um nervosismo de tirar o fôlego, assim como as do portentoso desenlace, outro requintado concentrado de energia cinética.

A acentuada estilização da violência tanto se aproxima da saga “Kill Bill - A Vingança”, de Quentin Tarantino, da trilogia “Infiltrados”, de Andrew Lau e Alan Mak, ou de “Oldboy – Velho Amigo”, de Park Chan-Wook, ainda que “Doce Tortura” contenha méritos próprios e consiga valer por si, fruto da criatividade da câmara de Jae-woon, das não menos hipnóticas fotografia e banda-sonora e do carisma do actor principal, Lee Byung-heon. O balanço é assim positivo e saúda-se esta boa surpresa vinda do cada vez mais profícuo cinema oriental.

E O VEREDICTO É: 3/5 - BOM

3 comentários:

Anónimo disse...

É um filme inferior ao "Tale of two Sisters", tão bom ou melhor que "Quiet family" mas também é um filme único.

Não tem um argumento original, mas a realização está perfeita com uma cinematografia quase toda a preto, branco e vermelho com o verde das folhas na cena final...

Há ainda a curiosa música de chopin e as parábolas budistas. O que mais fascina este filme é a forma poética com que a violência pode ser tratada...

~

gonn1000 disse...

Sim, em termos de argumento o não é muito inventivo, mas em contrapartida a vertente cénica está muito bem trabalhada, o que não o torna num filme que, não sendo perfeito, tem de facto algo único.

Anónimo disse...

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