quarta-feira, fevereiro 23, 2005

O AMOR NÃO ESCOLHE IDADES (NEM ENCARNAÇÕES)

Há dois anos, o norte-americano Dylan Kidd foi apontado por algumas vozes como um dos mais promissores jovens realizadores dos últimos anos devido aos méritos da sua primeira longa-metragem.
O motivo do considerável entusiasmo era "Roger Dodger", uma comédia razoavelmente subtil e perspicaz sobre "as regras da atracção", apresentadas a partir dos ensinamentos de um tio playboy, Roger Dodger, a um sobrinho adolescente em busca de afirmação. Embora fosse um filme bem interpretado (sobretudo pelo actor principal, Campbell Scott) e com uma curiosa perspectiva da noite nova-iorquina, a obra de estreia de Dylan Kidd não continha a tal genialidade que justificasse a aclamação que alguns suscitaram.

O segundo filme do realizador, "P.S. Amo-te" (P.S.), também não possui atributos que tornem Kidd num cineasta particularmente inspirado.
Desta vez, a acção centra-se numa personagem feminina, Louise Harrington (Laura Linney em mais uma interpretação segura), uma professora da Universidade de Columbia de 39 anos com uma vida pouco motivadora. Algumas doses de irreverência são injectadas no seu quotidiano quando entrevista um jovem pintor de 18 anos candidato à escola de artes onde lecciona (Topher Grace, um actor a reter) e nasce entre ambos uma repentina atracção. A situação é ainda mais inusitada tendo em conta que o jovem, com quem Louise enceta uma relação, exibe diversas semelhanças - tanto na fisionomia como na personalidade e até no nome - com um ex-namorado seu, falecido há vinte anos.

Inspirado num romance de Helen Schulman, "P.S. Amo-te" tem um mote relativamente interessante, mas à medida que o filme se desenvolve as ideias descoordenam-se e a narrativa oscila entre cenas de drama e comédia nem sempre bem combinadas.
A ligação entre o par central é envolvente e as cenas iniciais entre ambos expõem uma visível química, por isso lamenta-se que outros elementos da película não estejam à altura dessa intensidade, uma vez que há personagens secundárias pouco interessantes - sobretudo a de Marcia Gay Harden - e alguns momentos inconsequentes que denotam uma certa relutância quanto ao rumo que o argumento deve seguir.

As cenas entre Louise e a melhor amiga, nos minutos finais, são particularmente desinspiradas, levando o filme para territórios próximos de um esoterismo nada abonatório (quando se questiona a hipótese de uma reencarnação) misturado com os piores vícios das comédias românticas.

Sobram alguns episódios vincados por uma absorvente tensão emocional, que conseguem gerar um olhar maduro sobre a complexidade das relações humanas (as cenas entre Linney e Gabriel Byrne, por exemplo), e um argumento que por vezes surpreende - pela positiva e pela negativa - por tentar contornar alguns lugares-comuns dos chick-flicks.

O resultado final de “P.S. Amo-te” é aceitável e competente, mas ainda não foi desta que Dylan Kidd trouxe sangue novo ao cinema independente norte-americano.

E O VEREDICTO É: 2,5/5 - RAZOÁVEL

2 comentários:

Unknown disse...

Pois eu gostei bastante do Roger Dodger. Não sei se vou conseguir ver este, tenho alguns filmes em atraso e o Fantas está aí...mas já estou a ver que não perco grande coisa!

gonn1000 disse...

Enfim, já vi muito pior, e se és fã do realizador (eu, por enquanto, ainda não sou) talvez aches curioso, mas penso que há melhores filmes em cartaz ("Tarnation", "Kinsey", "Mar Adentro",...).

De qualquer forma, o que escrevi é só uma opinião e não - obviamente - uma verdade absoluta :)