segunda-feira, outubro 25, 2004

DANÇAS BEM MAS...

Dando forma a um projecto idealizado pela actriz Neve Campbell (bailarina experiente, que interpreta a personagem central do filme), Robert Altman aborda em "A Companhia" (The Company) as tensões, rotinas e ambientes inerentes a uma companhia de bailado. O realizador evita aqui uma narrativa desprovida de excessos melodramáticos e enredos complexos, desviando-se das atmosferas marcadas por "plumas e lantejoulas" que costumam caracterizar muitos filmes acerca deste tema. Altman pretende assim oferecer uma perspectiva realista, credível e fidedigna, proporcionando uma obra de consideráveis tons sóbrios e intimistas.

A mistura de elementos ficcionais com um carácter quase documental remete para trabalhos anteriores do cineasta, como "Prêt-à-Porter", de 1994, centrado nos bastidores da moda. Afastando-se de uma narrativa rocambolesca e de uma constante valorização do glamour, "A Companhia" apresenta um olhar que tenta focar múltiplos aspectos do quotidiano dos bailarinos, retratando tanto os momentos de glória como as fases mais árduas e cansativas de enorme pressão física e emocional.
A ténue presença de elementos ficcionais faz, no entanto, com que o filme não desenvolva detalhadamente as personagens, focando antes as atmosferas e o carácter colectivo da companhia do Joffrey Ballet de Chicago. É difícil definir aqui uma linha orientadora do argumento ou traços mais complexos dos indivíduos presentes na acção. A relação entre Ry (Neve Campbell) e Josh (James Franco) é sintomática desse quase inexistente desenvolvimento de personagens, apresentando algumas cenas entre os dois actores mas mantendo sempre um tom frio e distante que não facilita o surgimento de empatia por parte do espectador.
A componente documental do filme, se por um lado permite que a câmara se insinue subtilmente pelos meandros da companhia e dos seus bailarinos, também gera demasiada distância emocional face às supostas personagens presentes no filme. Por isso, esta proposta de Altman acaba por se tornar numa semi-desilusão, criando sequências intrigantes quando se centra nas coreografias das danças mas despoletando apatia e desinteresse quando aborda as experiências pessoais dos bailarinos, maioritariamente desprovidas de considerável tensão dramática (o cinema não pode ser só imagem e música).
Apesar de possuir mérito por se desviar dos convencionais filmes sobre dança, "A Companhia" não produz um resultado final particularmente convincente, gerando um todo com momentos cativantes mas que, no seu conjunto, se torna um esforço morno e pouco entusiasmante.
Mesmo sendo um trabalho competente e profissional, o mais recente filme de Robert Altman terá provavelmente maior interesse para os fãs mais dedicados do realizador ou para os amantes da dança e bailado. Quem não se inserir em nenhuma destas categorias poderá deparar-se com um projecto de ocasionais prodígios visuais mas que, no seu conjunto, não ultrapassa a barreira de uma mediana indiferença. Não é uma perda de tempo, mas há melhores companhias no panorama cinematográfico de 2004.

E O VEREDICTO É: 2,5/5 - RAZOÁVEL

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