Dinâmico, cru e por vezes surreal, "Intervalo" (Intermission) segue as peripécias de múltiplas personagens dos subúrbios de Dublin, centrando-se num quotidiano desencantado e angustiante. Marcado por um ritmo frenético logo desde o abrupto início, o filme começa por seguir o percurso de Lehiff (interpretado por um convincente Colin Farrell), um desordeiro local, e reparte-se de seguida pelas experiências das restantes personagens, cujas histórias se entrecruzam.
John (Cillian Murphy, actor a ter em conta), um jovem empregado de supermercado, tenta aceitar o final do seu relacionamento com Deirdre (Kelly MacDonald), que entretanto iniciou um caso com Sam (Michael McElhatton), um homem casado. Na teia de personagens encontram-se ainda a instável esposa de Sam, as humildes irmã e mãe de Deirdre, um relutante produtor televisivo, um azarado condutor de autocarro e um vingativo detective (muito bem interpretado pelo veterando Colm Meaney), entre muitas outras.
Esta extensa galeria de figuras, se por um lado favorece o filme - a enérgica interligação dos sub-enredos não deixa que a narrativa caia na monotonia - acaba também por prejudicá-lo em certos momentos - alguns dos protagonistas carecem de densidade dramática e aproximam-se mais de caricaturas do que de indivíduos tridimensionais.
O argumento, apesar de incluir fragmentos das vidas de diversas personagens, não apresenta um desenlace tão surpreendente como a primeira parte do filme sugere, e a mistura de realismo, comédia negra, violência e drama que John Crowley proporciona é um pouco derivativa ("Trainspotting" de Danny Boyle ou "Snatch - Porcos e Diamantes" de Guy Ritchie, por exemplo, fizeram-no antes e melhor).
"Intervalo" foca o impacto do acaso e dos imprevistos nas relações humanas e nos rumos e escolhas de vida, mas nem sempre acerta no alvo e alguns episódios do filme são mais inconsequentes do que relevantes. Isso não impede, contudo, que a primeira obra de John Crowley proporcione um prometedor entretenimento com doses razoáveis de energia cinética e uma interessante mistura de humor corrosivo com momentos mais calorosos e emotivos. E apresenta, ainda, uma coesa e sólida direcção de actores, que faz esquecer algumas das limitações do filme e transforma "Intervalo" numa das boas surpresas de 2004.
E O VEREDICTO É: 3/5 - BOM
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