Embora seja realizador há já alguns anos - o seu primeiro filme, "Scandal", data de 1989 -, Michael Caton-Jones nunca foi dos mais estimulantes, antes um tarefeiro por vezes competente mas cujas obras não apresentam consideráveis doses de inspiração ou personalidade.
"Instinto Fatal 2", estreado este ano, evidencia esse cenário, porém "Shooting Dogs — Testemunhos de Sangue", que chegou recentemente - e de forma bem mais discreta - às salas, está uns furos acima desse e de outros títulos banais de Caton-Jones, como "Doc Hollywood" ou "O Chacal".
Inspirado no massacre ocorrido no Ruanda em 1994, onde cerca de 800.000 tutsis foram assassinados por milícias de etnia hutu, "Shooting Dogs — Testemunhos de Sangue" baseia-se nas experiências de um jornalista da BBC, David Belton, que esteve presente durante os trágicos acontecimentos, e foi filmado nos locais onde decorre a acção do filme, maioritariamente numa escola nos arredores da capital que serviu de quartel-geral provisório para os soldados da ONU.
"Instinto Fatal 2", estreado este ano, evidencia esse cenário, porém "Shooting Dogs — Testemunhos de Sangue", que chegou recentemente - e de forma bem mais discreta - às salas, está uns furos acima desse e de outros títulos banais de Caton-Jones, como "Doc Hollywood" ou "O Chacal".
Inspirado no massacre ocorrido no Ruanda em 1994, onde cerca de 800.000 tutsis foram assassinados por milícias de etnia hutu, "Shooting Dogs — Testemunhos de Sangue" baseia-se nas experiências de um jornalista da BBC, David Belton, que esteve presente durante os trágicos acontecimentos, e foi filmado nos locais onde decorre a acção do filme, maioritariamente numa escola nos arredores da capital que serviu de quartel-geral provisório para os soldados da ONU.
A película acompanha o empenho de um jovem professor idealista recém-chegado e de um dedicado velho padre há décadas no local em salvar grande parte da população tutsi da zona que se refugiou na escola, o único local que lhes garante alguma segurança, pelo menos enquanto estiver também ocupado por representantes das Nações Unidas.
No entanto, a partir do momento que estes últimos recebem ordens de evacuar o país, nada impedirá que as milícias hutu, que cercam o local, dêm continuidade ao genocídio, colocando em risco não só os ruandeses mas também os estrangeiros que insistam em permanecer no local.
Duro e arrepiante retrato da carnificina resultante de situações extremas, "Shooting Dogs — Testemunhos de Sangue" convence ao aliar o foco de uma questão pertinente a uma abordagem emocionalmente intensa, evitando ceder à manipulação que prejudica, não raras vezes, projectos centrados em temáticas similares.
Conseguindo ser angustiante e reveladora sem recorrer ao sentimentalismo oportunista, a acção do filme desenvolve-se sem se limitar a uma mera ordenação esquemática de acontecimentos, privilegiando o contraste dos conflitos humanos, tanto interiores como exteriores.
O contributo dos dois actores principais é fulcral, e tanto o veterano John Hurt (seguro como sempre) como o jovem Hugh Dancy (com um desempenho que interliga eficazmente ingenuidade, receio e determinação), estão à altura do que lhes é exigido, compondo personagens com as quais é fácil estabeler empatia e cujas inquietações são bem verosímeis.
A realização de Caton-Jones, crua e despojada, próxima de um estilo documental, acentua o sentido de urgência e crispação, consolidando um realismo palpável, contribuindo também para que este seja um dos seus trabalhos mais sólidos.
Marcado por cenas onde emerge o pior e, por vezes, o melhor da natureza humana, "Shooting Dogs — Testemunhos de Sangue" é uma obra sentida e honesta que não merece passar despercebida, ainda que infelizmente, e à semelhança da situação que retrata, esteja quase condenada à indiferença de grande parte do público, pois ao contrário de, por exemplo, "Instinto Fatal 2", não conta com uma grande campanha promocional nem com um nome mediático no elenco.
No entanto, a partir do momento que estes últimos recebem ordens de evacuar o país, nada impedirá que as milícias hutu, que cercam o local, dêm continuidade ao genocídio, colocando em risco não só os ruandeses mas também os estrangeiros que insistam em permanecer no local.
Duro e arrepiante retrato da carnificina resultante de situações extremas, "Shooting Dogs — Testemunhos de Sangue" convence ao aliar o foco de uma questão pertinente a uma abordagem emocionalmente intensa, evitando ceder à manipulação que prejudica, não raras vezes, projectos centrados em temáticas similares.
Conseguindo ser angustiante e reveladora sem recorrer ao sentimentalismo oportunista, a acção do filme desenvolve-se sem se limitar a uma mera ordenação esquemática de acontecimentos, privilegiando o contraste dos conflitos humanos, tanto interiores como exteriores.
O contributo dos dois actores principais é fulcral, e tanto o veterano John Hurt (seguro como sempre) como o jovem Hugh Dancy (com um desempenho que interliga eficazmente ingenuidade, receio e determinação), estão à altura do que lhes é exigido, compondo personagens com as quais é fácil estabeler empatia e cujas inquietações são bem verosímeis.
A realização de Caton-Jones, crua e despojada, próxima de um estilo documental, acentua o sentido de urgência e crispação, consolidando um realismo palpável, contribuindo também para que este seja um dos seus trabalhos mais sólidos.
Marcado por cenas onde emerge o pior e, por vezes, o melhor da natureza humana, "Shooting Dogs — Testemunhos de Sangue" é uma obra sentida e honesta que não merece passar despercebida, ainda que infelizmente, e à semelhança da situação que retrata, esteja quase condenada à indiferença de grande parte do público, pois ao contrário de, por exemplo, "Instinto Fatal 2", não conta com uma grande campanha promocional nem com um nome mediático no elenco.
E O VEREDICTO É: 3,5/5 - BOM
9 comentários:
A temática é igual à do Hotel Rwanda. Qual é que gostaste mais? Abraço
Não vi "Hotel Rwanda", mas já ouvi dizer que é menos realista e mais melodramático do que este. Fica bem.
Este deve ser um dos filmes mais subaproveitados dos ultimos tempos, surge na sombra do Hotel Rwanda o que limita a sua exploração... Mas não pode deixar de ser elogiado.
Há filmes que têm titulos perfeitos, este é um deles e mais importante é a mensagem por trás desse titulo.
~
Concordo, mas infelizmente parece que vai mesmo passar despercebido. Enfim, haverá sempre o DVD...
É capaz de ficar ainda mais uma semana, embora merecesse mais do que isso.
Este vai ter que ficar para DVD, mas parece-me ser uma boa proposta...mais não seja por ser sempre um prazer ver John Hurt no grande ecrã :).
Abraço!
Vá lá, deixa passar "O Matulão da Vovó" e vai antes ver este ao cinema :)
Haha! Cá está ele! Sabia que naum irias passar ao lado :P
Hugzz africanos
Não lhe passei ao lado, por isso vê se também não passas :P
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