domingo, maio 01, 2005

INTIMIDADE

Um dos filmes independentes britânicos mais aclamados dos últimos anos, "Amor de Verão" (My Summer of Love), de Pawel Pawlikowski, retrata a relação de duas adolescentes que se conhecem numa pequena localidade inglesa durante umas férias de Verão e geram uma cumplicidade mútua.

Mona, ingénua e rebelde, e Tamsin, astuta e enigmática, provêm de meios sociais e culturais diferentes (a primeira é de origens humildes, a segunda faz parte de uma família rica), mas o isolamento e o sentimento de inadaptação que marca o quotidiano de ambas acabam por funcionar como fortes elementos que originam uma súbita mas densa empatia.

Pawel Pawlikowski apresenta um drama coming of age que foi alvo de alguma polémica devido à relação supostamente lésbica das suas protagonistas, mas o realizador trata a temática da (des)orientação sexual de forma contida e delicada, evitando as armadilhas de um manifesto lésbico e recusando o choque gratuito e inócuo.

O que "Amor de Verão" proporciona é uma sensível perspectiva acerca dos dilemas da adolescência e do turbilhão emocional que emerge quando as fronteiras entre a amizade, o amor e a obsessão se tornam cada vez mais ténues. Pelo meio, há ainda espaço para focar a quebra dos laços familiares, a religião, a morte, a alienação e a identidade através de uma mistura (por vezes desinteressante) de drama e humor.

Embora seja uma obra refrescante e envolvente, a quarta longa-metragem de Pawlikowski acaba por não desbravar tanto território quanto poderia, seguindo situações já abordadas em títulos como "A Outra Metade do Amor" (Lost and Delirious), de Léa Pool, ou "Amizade sem Limites" (Heanvenly Creatures), de Peter Jackson, este último bem mais ousado e memorável.
Por um lado, a narrativa é demasiado irregular e com uma tensão dramática abaixo da esperada; por outro, as motivações de algumas personagens ficam por esclarecer (sobretudo as de Tamsin e as do irmão de Mona), o que origina situações um pouco forçadas.

Apesar dos seus desequilíbrios, "Amor de Verão" impõe-se como uma obra bem conseguida e suficientemente agradável, ainda que não seja nem tão emotiva nem tão inquietante como poderia. A direcção de actores é consistente, com destaque para as protagonistas Natalie Press e Emily Blunt, o argumento cumpre, a realização de tons realistas é adequada e a ecléctica banda sonora entusiasma (indo de Edith Piaf aos Goldfrapp, passando por Mozart e Gilberto Gil & Caetano Veloso), motivos mais do que suficientes para tornar o filme de Pawlikowski num objecto estimável, mas longe de genial.

E O VEREDICTO É: 3/5 - BOM

2 comentários:

Anónimo disse...

Tenho que ver este. Afinal até ganhou um BAFTA :)!

Cumprimentos cinéfilos

gonn1000 disse...

Pois, eu esperava mais, tendo em conta tantas distinções...Recomendo-o, ainda assim...