domingo, abril 24, 2005

DUAS VIDAS E UM RIO

Ambientado na realidade parisiense do início dos anos 80, "A Ponte das Artes" (Le Pont des Arts) é o novo filme de Eugène Green, cujo projecto anterior, "Le Monde Vivant", foi distinguido com o Grande Prémio de Longa-Metragem na primeira edição do IndieLisboa.

"A Ponte das Artes" centra-se em dois jovens, Pascal, um universitário desmotivado, e Sarah, uma cantora lírica com incertezas acerca do seu talento. Simultaneamente cómico e trágico, o filme aborda as inseguranças e tensões do fim da adolescência e a desorientação dos primeiros dias da idade adulta, onde é difícil definir os caminhos a seguir.

Eugène Green apresenta uma premissa interessante, sugerindo uma “ponte” entre as duas personagens que, apesar de não se conhecerem pessoalmente, encontram-se interligadas devido à paixão pela arte e à forte atenção que lhe dedicam no seu dia-a-dia. No entanto, a película raramente resulta, pois a dupla principal – sobretudo a actriz Natacha Régnier – manifesta uma quase ausência de carisma, convicção e consistência, interpretando personagens supostamente complexas e inquietas mas que se limitam a debitar frases pseudo-profundas e a agir de forma monocórdica e insípida. As cenas de Pascal com a namorada são especialmente entediantes e expõem uma considerável falta de química, gerando longos momentos rígidos e inertes.

A maioria das tentativas de humor é igualmente desinspirada, sendo o caso mais gritante a sequência onde o irritante encenador gay se aventura numa demonstração do seu talento interpretativo. Mais conseguido, mas igualmente unidimensional, a personagem “O Inominável”, o austero maestro de Sarah, oferece alguns momentos de humor negro, mas não consegue salvar a pouca frutífera vertente humorística do filme. Green sai-se melhor no desenlace, vincado por uma envolvente aura poética que não compensa, no entanto, as mais de duas horas, geralmente balofas e arrastadas, que o antecedem. Uma desilusão.

E O VEREDICTO É: 1,5/5 - DISPENSÁVEL

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