segunda-feira, junho 25, 2007

SPACE COWBOY

Com "Twin Falls Idaho - Vida Comum" (1999) e "Northfork" (2003), Michael Polish destacou-se enquanto realizador promissor, dada a estranheza e moderada bizarria presentes nessas duas obras, que aliadas a uma atmosfera sensível e enigmática lhe permitiram iniciar com alguma consistência um percurso autoral.
"O Astronauta" (The Astronaut Farmer), o seu novo filme, confirma as idiossincrasias do realizador mas também as suas debilidades, pois embora seja uma película suficientemente ousada e criativa não consegue estar à altura daquilo a que se propõe.

O protagonista do filme é Charles Farmer, um engenheiro aeroespacial que teve de abandonar subitamente o seu sonho de ser astronauta da NASA devido a um incidente familiar, situação que conduziu a que fosse viver para uma quinta no Texas com a sua esposa e filhos.
Contudo, em vez de se conformar a uma vida pacata e rotineira, Farmer continuou a perseguir a sua ambição, e para isso construiu um foguetão no seu celeiro e manteve o desejo de um dia viajar nele para o espaço. Os problemas surgem quando diversas entidades, entre as quais o FBI, a NASA e muitos media, começam a investigar a preparação da sua missão e a colocá-la em causa, surgindo assim entraves legais que nem por isso abalam as aspirações do protagonista.

Inicialmente, "O Astronauta" começa por entusiasmar ao focar o projecto de um outcast que apenas tenta lutar por algo com que sempre sonhou, perseguindo o american dream à sua maneira. Aos poucos, todavia, uma inexorável alienação começa a dominar a personagem e o próprio filme, já que Polish parece defender que os fins justificam os meios, o que no caso se traduz numa crescente irresponsabilidade de Farmer e da sua família, descurando questões como a segurança deles próprios e dos que os rodeiam.

O filme toma claro partido do protagonista, o que implica fazer dos agentes do FBI os maus da fita e ridicularizá-los com doses cavalares de incompetência - no extremo oposto, Farmer é bem sucedido na sua missão espacial, cuja equipa é formada pelo seu filho de quinze anos e duas filhas que não terão mais de dez.
Além de testar a condescendência que se possa ter em relação à plausibilidade de um argumento, "O Astronauta" cai no ridículo involuntário ao apostar num exercício inspirador e edificante centrado numa personagem que almeja o espaço mas é incapaz de olhar para além do próprio umbigo.

Em vez de uma fábula subversiva, a película resulta num engodo ingénuo e não raras vezes irritante ao atentar contra os mínimos do bom-senso. E no entanto, Polish ainda consegue, surpreendentemente, ofecer aqui algumas boas sequências de união familiar, sobretudo antes da perseguição do sonho cair na megalomania. Os actores ajudam a que as cenas entre os elementos da família Farmer pareçam genuínas, já que tanto os mais jovens - que inclui as filhas dos irmãos Polish - como os mais velhos respiram espontaneidade.
Destes últimos, Billy Bob Thornton, J.K. Simmons e Bruce Willis não desmerecem, mas é Virginia Madsen quem mais brilha, com um desempenho luminoso que confirma que é uma das actrizes mais talentosas e subaproveitadas da actualidade, e é uma pena que a sua personagem vá perdendo intensidade ao longo do filme, tornando-se num utensílio que reforça a ambição do marido.

Esta redução da densidade emocional invade também o argumento, que adere ao melodrama de gosto duvidoso na recta final, desperdiçando algumas pérolas de intimismo anteriores. E contra isso nem a sóbria e fluída realização nem a bela fotografia são suficientes para salvarem "O Astronauta" do falhanço (interessante, apesar de tudo), o que faz com que ainda não seja desta que Polish esclareça se é um realizador competente com alguns acessos de inspiração ou um cineasta em potência e a ter em conta.

E O VEREDICTO É:
2,5/5 - RAZOÁVEL

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