Autores de títulos emblemáticos como "Fargo", "Blood Simple" ou "Barton Fink", os irmãos Coen possuem uma considerável obra que se distingue por uma peculiar combinação de suspense, humor ácido e um gosto pela desconstrução de modelos clássicos do cinema (thriller, film noir ou mesmo o musical). Se no seu filme anterior, "Crueldade Intolerável" (Intolerable Cruelty, de 2003), a dupla se dedicava a trabalhar os códigos da comédia romântica/screwball, em "O Quinteto da Morte" (The Ladykillers) os azimutes desviam-se agora para territórios ligados aos filmes-de-gangsters e de golpe.
Remake de "O Quinteto Era de Cordas", clássico de humor britânico realizado em 1955 por Alexander Mackendrick, a mais recente proposta dos Coen retrata as aventuras de cinco ladrões e o seu plano para programar um grande assalto. Aparentando ser um grupo musical, a pandilha de criminosos instala-se em casa de uma velhinha com o intuito de usar a sua cave como centro estratégico. No entanto, os acontecimentos não decorrem conforme o previsto e surgem diversas situações que colocarão em causa o sucesso do plano.
Como grande parte das obras dos realizadores, a acção de "O Quinteto da Morte" decorre no interior dos EUA, e desta vez centra-se numa comunidade negra sulista. Aqui, o remake difere do modelo original, que se desenrolava em Londres. A atmosfera ligeiramente sinistra do filme recorre a sonoridades gospel para retratar os ambientes recônditos e isolados da América profunda.
Os Coen mantêm o gosto por personagens absurdas e irreais, geradoras de alguns gags certeiros e engenhosos. A equipa de ladrões é constituída por um grupo de profissionais do crime frustrados, incluindo um gigante pouco inteligente, um oriental sisudo, um negro tagarela, um criminoso adoentado e o mentor Goldthwait Higginson Dorr, um requintado manipulador (interpretado por um irreconhecível Tom Hanks). Como principal ameaça aos projectos do gang destaca-se Marva Munson (uma convincente Irma P. Hall, vencedora do Prémio do Júri no Festival de Cannes 2004), a inofensiva (?) velhinha negra que insiste em frustrar as expectativas dos criminosos.
Esta galeria de figuras pitorescas é suficientemente competente para oferecer uma série de cenas de humor bem-conseguidas, sobretudo nos momentos que focam Tom Hanks e Irma P. Hall, mas não há nenhuma personagem que ultrapasse a unidimensionalidade de traços demasiado caricaturais. Os actores conseguem disparar ocasionais diálogos inspirados e contagiantes, mas encontram-se também algumas cenas que se apoiam num tipo de humor mais banal e desinteressante.
No seu conjunto, "O Quinteto da Morte" torna-se assim num filme desequilibrado e irregular, não estando ao nível de trabalhos anteriores dos realizadores, que apresentavam um maior esforço em arriscar e desbravar novos territórios. Os elementos irónicos e subtis que se esperaria encontrar numa comédia negra não surgem tanto quanto deveriam, dando lugar a cenas de humor mais previsíveis e tipificadas.
Enquanto simples entretenimento, "O Quinteto da Morte" consegue atingir um nível competente e razoável, mas não contém a carga provocadora e satírica de outros filmes dos Coen (o relativamente recente "Crueldade Intolerável" oferecia um resultado final bem mais consistente, ousado e refinado). Apesar de ser uma comédia simpática e curiosa, esta nova proposta da dupla de realizadores raramente ultrapassa a mediania e não se engloba entre as obras mais memoráveis do duo. Eficaz, a espaços divertida, mas pouco surpreendente.
E O VEREDICTO É: 2.5/5 - RAZOÁVEL
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