quarta-feira, junho 21, 2006

A MALTA DO BAIRRO

Goste-se ou não, Larry Clark tem proporcionado um dos mais pessoais, idiossincráticos e pungentes olhares sobre parte da juventude contemporânea, em filmes cuja controvérsia o tornaram num dos cineastas mais aclamados e, simultaneamente, repudiados dos últimos anos.

"Wassup Rockers - Desafios de Rua", o seu título mais recente, possui alguns dos traços reconhecíveis que ajudaram a consolidar o seu nome, mas surpreende ao não apostar numa crueza tão denunciada como a que se verificava em "Ken Park - Quem És Tu?" ou "Kids - Miúdos", sobretudo por evitar cenas de sexo vincadas por um voyeurismo excessivo e gratuito, uma das suas marcas registadas e algo que os seus detractores criticam frequentemente nas suas obras.

Embora mantenha, principalmente nos momentos iniciais, uma considerável carga realista, esta crónica das peripécias quotidianas de um grupo de adolescentes latino-americanos de um bairro problemático de Los Angeles vai adoptando tons cada vez mais caricaturais, tornando o filme numa sátira cáustica, por vezes grotesca, e bastante desequilibrada.

"Wassup Rockers - Desafios de Rua" começa se debruçar sobre o dia-a-dia de sete amigos de South Central, que têm a particularidade se identificarem com a subcultura punk-rocker e skater e não com aquela ligada ao hip-hop, que predomina na área em que habitam.
Aproximando-se do cinema documental, a primeira metade do filme apoia-se na naturalidade das interpretações dos jovens não-actores e nas suas conversas banais mas verosímeis, gerando um curioso retrato onde a habitual acidez de Clark dá espaço a uma inesperada candura.

Essa sugestão de tridimensionalidade é, contudo, interrompida quando o grupo de jovens viaja até Beverly Hills para praticar skate, e aí o filme revela o seu verdadeiro programa, estabelecendo um contraste entre estes adolescentes suburbanos e marginais e os mais abastados e refinados dos bairros ricos.
Clark não hesita em tomar partido dos primeiros, ridicularizando os segundos e, por extensão, a comunidade em que se inserem, que é aqui caracterizada como fútil, hipócrita, cínica e frívola.
Um retrato pouco subtil e original, é certo, mas o absurdo de certas situações que se desenrolam numa narrativa espartana e imprevisível fornece sequências estranhamente cómicas, tornando "Wassup Rockers - Desafios de Rua" num exercício paródico que, apesar de óbvio, ganha alguma simpatia pelo seu descaramento (os graus de irrisão chegam a lembrar domínios de John Waters).

No meio deste inconstante olhar offbeat, não raras vezes inconsequente (para quê tantas intermináveis sequências de skate?), salientam-se alguns pequenos episódios de inesperada sensibilidade, como o da conversa na cama entre um rapaz latino e uma rapariga de Beverly Hills, que mostram aquilo que o filme poderia ser caso optasse por uma maior complexidade. Assim, é uma obra com interesse mas limitada por uma abordagem tão superficial como supostamente o é a comunidade que critica.

E O VEREDICTO É: 3/5 - BOM

4 comentários:

gonn1000 disse...

Essas cenas das manobras de skate chegam mesmo a tornar-se um pouco irritantes, mas felizmente há outros momentos que compensam isso. No geral também gostei moderadamente.

Anónimo disse...

Por acaso também achei as cenas de skate demasiado longas e repetidas :|. Mas ainda assim é um filme com nota positiva :).

Abraço

gonn1000 disse...

Sim, apesar disso o filme ainda escapa :)

Anónimo disse...

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