segunda-feira, junho 27, 2005

A FILHA PRÓDIGA

Peter Hedges não é propriamente um novato, como o atestam trabalhos na área do teatro e literatura.
No campo da sétima arte teve também algumas experiências, através da escrita dos argumentos de "Gilbert Grape", de Lasse Hallstrom, e "Era uma Vez um Rapaz", de Paul Weitz, projectos que lhe deram alguma credibilidade e respeito.
Contudo, Hedges nunca se tinha aventurado na realização, por isso o seu primeiro projecto nessa área despoletou alguma expectativa nos meandros do cinema alternativo em 2003, quando "Pedaços de uma Vida" (Pieces of April) foi gerado.

A premissa do filme não é propriamente genial nem especialmente intrigante: April Burns, uma jovem algo rebelde que vive num bairro nova-iorquino, prepara-se para receber a sua família no Dia de Acção de Graças, mas a confecção do almoço torna-se cada vez mais atribulada à medida que uma série de imprevistos vão ocorrendo.

Tentando não desiludir os seus familiares - com quem, de resto, não tem uma relação muito próspera -, a protagonista envolve-se numa rede de peripécias com os seus vizinhos, procurando alguém que a auxilie na sua tarefa de forma a que o dia não se torne num episódio frustrante.

Acompanhando os dilemas de April e a viagem da sua famíla, "Pedaços de uma Vida" proporciona um olhar agridoce sobre as ambiguidades das relações humanas, adoptando traços de road movie e de história redentora sem cair em estereótipos.
Hedges provou, nos seus trabalhos de argumento anteriores, que sabia retratar habilmente as tensões e dificuldades dos relacionamentos, e aqui o seu talento volta a manifestar-se, transformando o filme numa obra mais interessante do que aquilo que o seu ponto de partida faria prever.

Premiado e nomeado em vários festivais de cinema internacionais - sobretudo devido à convincente interpretação de Patricia Clarkson no papel de Joy Burns, a complexa mãe da protagonista -, "Pedaços de uma Vida" é uma inspirada e refrescante primeira-obra.

Embora siga os moldes da escola do cinema independente norte-americano - não dispensa atmosferas outonais, personagens disfuncionais à deriva, realização seca e despojada (com recurso à câmara à mão), banda-sonora gerada por uma banda indie (no caso, os Magnetic Fields) -, o filme combina drama e comédia de forma muito eficaz, contendo consideráveis doses de sarcasmo e ironia mas nunca ignorado a densidade emocional das personagens.

Se ao sólido argumento e realização se adicionar uma coesa direcção de actores - Katie Holmes surpreende no seu primeiro grande papel , antes de se tornar na namoradinha de Tom Cruise e do novo Batman -, obtêm-se os ingredientes certos para uma apelativa, divertida e absorvente estreia.
Um auspicioso início de um novo cineasta a reter.

E O VEREDICTO É: 3,5/5 - BOM

4 comentários:

Anónimo disse...

Definitivamente tenho que alugar este filme :)!

Cumps. cinéfilos

gonn1000 disse...

Ou então vai hoje vê-lo ao Ávila, que não deve ficar muito mais caro do que o aluguer (os bilhetes custam 3 Euros) :)

The Stranger disse...

Uma das melhores surpresas do ano transacto. Divertido e comovente, all in one.

gonn1000 disse...

Yup, uma estreia muito promissora...