quinta-feira, julho 14, 2005

A IDADE MAIOR

Com uma discografia praticamente incólume - marcada por álbuns incontornáveis como "Some Great Reward", "Violator" ou "Songs of Faith and Devotion" -, os Depeche Mode evidenciam-se como uma das bandas dos anos 80 que melhor soube conservar os traços essenciais da sua sonoridade sem que isso impossibilitasse a absorção de novos domínios e tendências.

Algo subestimado, uma vez que foi editado em 1997, alguns anos após a fase áurea do grupo
- finais de 80/ inícios de 90 -, "Ultra" pode não ser o disco mais emblemático e ousado dos Depeche Mode, mas é um dos mais consistentes e coesos.

Produto de um conturbado período que quase originou a dissolução do projecto - sobretudo devido à saída de Alan Wilder e aos consideráveis problemas que o vocalista Dave Gahan enfrentou devido ao consumo de drogas -, o disco é vincado por uma sóbria pop electrónica, distante dos tons mais poppy que caracterizaram a banda em inícios da década de 80 e das influências blues/gospel adoptadas na alvorada dos anos 90.

Percorrendo atmosferas densas e nocturnas, "Ultra" expõe sinais de uma banda que consegue aliar uma escrita cada vez mais sólida a absorventes e complexos ambientes, gerando um conjunto de composições maduras e de forte teor introspectivo.

Carregado de momentos inspirados, "Ultra" oferece algumas das melhores canções que os Depeche Mode já criaram, casos do portentoso tema de abertura "Barrel of a Gun", da claustrofóbica e intensa "Useless" e, sobretudo, da belíssima "Home", onde Martin Gore substitui Dave Gahan enquanto vocalista e o resultado é encantatório e avassalador. No entanto, se Gore surpreende nessa ocasional colaboração vocal, Gahan não é menos convincente e apresenta uma voz em excelente forma, cantando melhor do que nunca.

Vincado por electrónicas negras que por vezes se aproximam da obscuridade apaziguada dos Nine Inch Nails de "The Fragile" e "With Teeth", contendo ainda doses de melancolia e intimismo semelhantes às de "Adore", dos Smashing Pumpkins, ou de "Up", dos R.E.M., "Ultra" é um disco de calibre elevado e um dos grandes momentos da discografia dos Depeche Mode. Não é um dos álbuns mais inventivos da banda, mas é um dos melhores. Essencial.

E O VEREDICTO É: 4,5/5 - MUITO BOM

5 comentários:

Francisco Mendes disse...

Depeche Mode é uma poderosa banda de singles. Aliás muitas vezes foi (redutoramente) catalogada como banda de singles.

É uma das minhas bandas preferidas. Adorei "Ultra" com a divinal "Home" e outras relíquias, mas os meus albúns preferido de Depeche são "Some Great Reward", "Violator" e "Music for the Masses".

Dia 8 de Fevereiro lá estarei no Pavilhão Atlântico! :D

serebelo disse...

Que bela lembrança esta. Os DM são das minhas bandas de eleição e este é um excelente álbum. Na altura um pouco esquecido, pois os problemas de Gahan estavam ainda muito presentes. Esses impediram uma conveniente digressão e logo a exposição mediática foi menor. Já com "Exciter" tal não aconteceu, embora considere um disco menos bom que o referido. No entanto, a digressão consequente permitiu-me ver ao vivo a banda, sendo dos melhores concertos a que já tive o prazer de assistir.
Estou a alongar-me quando o que queria aqui deixar é a seguinte discórdia: a voz de Gahan. Neste álbum ela estava alguns pontos abaixo da sua forma habitual. A sua forma física era débil, ele tinha "morrido" por dois minutos há pouco tempo e só com aulas vocais conseguiu aqui cantar. Mas Gore, como excelente compositor que é, destinou-lhe canções em que pode olvidar esse facto, cantando ele próprio as canções em que a voz precisasse de ser puxada. Era o que queria deixar.
E em Fevereiro lá estaremos.
Um abraço e espero que tudo esteja a correr pelo melhor com a tua casa nova.

gonn1000 disse...

Francisco Mendes: Pois é, são muito mais do que uma banda de singles, como qualquer álbum é capaz de o demonstrar (contrariamente a outros projectos nascidos na década de 80, como os A-Ha ou os Petshop Boys).

serebelo: Infelizmente nunca os vi ao vivo, mas pode ser que para o ano consiga.
Continuo a achar que a prestação vocal de Gahan é muito boa, apesar da fase complicada da sua vida pessoal. E sim, infelizmente "Exciter" está bem abaixo de "Ultra", por isso espero que o próximo álbum contenha maior inspiração. A casa vai indo, obrigado. Fica bem ()

kimikkal disse...

Não é o meu album favorito dos DM (esse é Songs of Faith and Devotion), mas fica em segundo lugar.

Quer-me parecer que aí atingiram o ponto alto da carreira. Antes vinham em crescendo (violator - 1990 é o meu terceiro favorito), depois editaram Ultra, um trabalho muito bom, com a voz de Gahan sofrida é quase como se fosse um album-ressaca, para ouvir após uma noite de copos.

Exciter já é mais desiquilibrado, resta saber daqui para o futuro como será...

gonn1000 disse...

Também fiquei um pouco desiludido com o "Exciter", vamos esperar pelo novo para ver se a banda volta a surprender...