sábado, outubro 15, 2005

OLHÓ VÍDEO

Conhecido por títulos formal e tematicamente desafiantes e frequentemente polémicos – como “Brincadeiras Perigosas”, “A Pianista” ou “O Tempo do Lobo” -, o austríaco Michael Haneke é um cineasta cuja filmografia tem alimentado os mais acesos ódios e paixões, reflectindo o extremismo das suas obras.

“Caché”, o seu filme mais recente, apresentado na 6ª Festa do Cinema Francês, é mais uma fonte de reflexão sobre questões que já se tornaram indissociáveis das suas películas, como a violência, a tensão do quotidiano, os desajustes sociais ou o poder da imagem, exibindo novamente uma realização segura, austera e clínica, gerando ambientes frios e inóspitos.

Georges, um jornalista literário, começa subitamente a receber cassetes de vídeo com imagens filmadas na sua rua, muitas delas registando cenas suas ou da sua família. Ao verificar que estes vídeos começam a ser enviados de forma regular – sendo por vezes substituídos por desenhos igualmente inquietantes -, Georges e a sua esposa tentam pedir auxílio à polícia, mas uma vez que não ocorreram quaisquer actos de violência a intervenção desta é nula.

Aos poucos, o protagonista vai conjecturando acerca de eventuais autores dessas provocações, levando-o a recordar, em especial, acontecimentos que marcaram a sua infância e que estavam já quase esquecidos, mas ao tentar enfrentar esses fantasmas do passado vê ameaçada a sua vida conjugal, familiar e social.

Apostando numa mistura de thriller psicológico e drama familiar, “Caché” é mais uma viagem por domínios desconfortáveis, marcados pela vingança e solidão, mas desta vez Haneke é mais comedido em episódios de violência física, distanciando-se das sequências cruas e viscerais que contaminavam títulos como “Brincadeiras Perigosas” ou “A Pianista”.

Durante algum tempo, “Caché” dissemina um interessante olhar sobre a claustrofobia e inquietação de atmosferas urbanas contemporâneas, mas a certa altura o argumento estagna, as personagens recusam-se a passar da superficialidade (apesar de interpretadas por actores do nível de Daniel Auteuil ou Juliette Binoche) e o filme entra num monótono piloto automático, com cenas demasiado longas que nunca chegam a resolver um mistério que se arrasta durante quase duas horas.

Assim, o resultado final é insípido e fastidioso, sobretudo quando Haneke tenta abordar questões político-sociais que envolvem a França actual, como as tensões com a Argélia, momentos que apenas contribuem para que o filme se torne mais indeciso e abstracto (à semelhança do que aconteceu com o inconsequente “Código Desconhecido”).

É pena, sobretudo porque o cineasta oferece alguns impressionantes episódios inspirados, como a sequência inicial, mais um dos seus conseguidos jogos com a ambiguidade da imagem, ou pontuais concentrados de suspense. Mas é pouco, muito pouco, para alguém que já provou ser capaz de gerar filmes memoráveis.

E O VEREDICTO É: 1,5/5 - DISPENSÁVEL

8 comentários:

brain-mixer disse...

Tenho cada vez mais curiosidade deste realizador. Descobri-o com A Pianista seguido do Code Inconnu. Será que ele se safava no outro lado do Atlântico?

gonn1000 disse...

É um realizador interessante, mas desequilibrado. Não sei, o tipo de cinema dele tem mais a ver com o europeu do que com o americano...

MPB disse...

Vou ver hoje, depois vejo se concordo ;)

Cumps

gonn1000 disse...

Ok, pode ser que gostes :)

MPB disse...

Complicado muito complicado. Realmente existe um interessante uso do Tempo e espaço, e de uma clara manipulação da imagem principalmente na sequencia inicial, mas pouco mais, sendo claramente uma obra de autor, CACHé não me enche as medidas :S

Cumps

gonn1000 disse...

Pois é um exercício de estilo que até promete mas que rapidamente se torna auto-indulgente...

Anónimo disse...

Apenas algumas correções:
Funny Games(1997) foi lançado no Brasil como Violência Gratuita e não "Brincadeiras Perigosas".
E é um pouco óbvio que o cinema dele se pareça com o europeu, já que ele é alemão, e seus filmes austríacos/franceses.

gonn1000 disse...

Sim, mas em Portugal - eu sou português - o título foi "Brincadeiras Perigosas".