Segunda parte de uma trilogia dedicada à guerra colonial (a primeira foi "Inferno", de 1999), "20,13" decorre na véspera de Natal de 1969, num quartel de Moçambique, e centra-se nos acontecimentos de uma noite determinante para todos os soldados e restantes presentes no local.
À semelhança da maioria dos títulos da sua filmografia, Joaquim Leitão apresenta aqui uma obra que, contrariamente a algum cinema nacional, é feita a pensar no grande público, mas não deixa por isso de ser uma proposta que responde aos graus de exigência necessários para que se encontra aqui uma interessante experiência cinematográfica.
Interligando uma história marcada por algum suspense (há um assassinato cujo responsável só é revelado no final) e conturbadas relações amorosas com um olhar sobre o quotidiano dos recrutas da base militar, "20,13" oferece uma eficaz reflexão sobre a vida e convivência num quartel, assim como dos sacrifícios que os que aí se encontram estão dispostos - ou são obrigados - a fazer, onde persiste um forte sentimento de perda aliado a traços de esperança que se insinuam a espaços.
À semelhança da maioria dos títulos da sua filmografia, Joaquim Leitão apresenta aqui uma obra que, contrariamente a algum cinema nacional, é feita a pensar no grande público, mas não deixa por isso de ser uma proposta que responde aos graus de exigência necessários para que se encontra aqui uma interessante experiência cinematográfica.
Interligando uma história marcada por algum suspense (há um assassinato cujo responsável só é revelado no final) e conturbadas relações amorosas com um olhar sobre o quotidiano dos recrutas da base militar, "20,13" oferece uma eficaz reflexão sobre a vida e convivência num quartel, assim como dos sacrifícios que os que aí se encontram estão dispostos - ou são obrigados - a fazer, onde persiste um forte sentimento de perda aliado a traços de esperança que se insinuam a espaços.
Do meio deste retrato de grupo emergem algumas figuras mais determinantes para a narrativa, casos do capitão Costa e do alferes Gaio, pólos opostos (ou, como o filme vai revelando, talvez nem tanto) devido às diferenças de posicionamento perante a guerra. O primeiro, austero e empenhado, defende os propósitos e interesses do regime sem hesitações; já o segundo adopta uma postura mais ambígua, cumprindo a sua missão sem falhas mas mantendo sempre reservas quanto ao conflito em que está envolvido.
A posição respeitável e sem manchas do capitão ameaça, no entanto, ficar comprometida devido à sua relação (naturalmente secreta) com um enfermeiro mais novo, sobretudo quando a sua esposa faz uma visita-surpresa ao quartel e, mais ainda, depois do jovem ser encontrado morto, vítima de homicídio.
Joaquim Leitão oferece uma obra sóbria, alternando com segurança cenas de acção com momentos mais apaziguados onde o combate é então verbal, em particular nas cenas de discussão conjugal.
O realismo surge como elemento sempre presente, auxiliado por um elenco coeso (Marco d'Almeida, no papel de Gaio, é exemplar e magnético) e por uma reconstituição histórica igualmente fulcral para que as peripécias sejam verosímeis. Não menos relevante é a banda-sonora, com destaque para as canções de José Afonso ("Menina dos Olhos Tristes") e Madalena Iglésias ("Ele e Ela"), ambas cantadas durante uma festa mas despoletando ressonâncias emocionais bem díspares em algumas personagens.
Nem tudo resulta, contudo, já que o mistério policial (de contornos bíblicos, tanto que o número de um dos versículos e capítulos até originou o título do filme) é mais previsível do que intrigante, sendo a última cena dispensável, uma vez que apenas reforça uma certeza que sequências anteriores já haviam confirmado.
Certas personagens ganhariam com um maior desenvolvimento (pelo menos as do médico e esposa), mas o retrato colectivo é bem conseguido e, mesmo nunca sendo genial, há que reconhecer que "20,13" é uma obra séria, inteligente e escorreita, características que poucos filmes portugueses estreados em 2006 podem orgulhar-se de possuir. Razões mais do que suficientes, então, para não deixar passar esta boa proposta, talvez a melhor de Joaquim Leitão.
A posição respeitável e sem manchas do capitão ameaça, no entanto, ficar comprometida devido à sua relação (naturalmente secreta) com um enfermeiro mais novo, sobretudo quando a sua esposa faz uma visita-surpresa ao quartel e, mais ainda, depois do jovem ser encontrado morto, vítima de homicídio.
Joaquim Leitão oferece uma obra sóbria, alternando com segurança cenas de acção com momentos mais apaziguados onde o combate é então verbal, em particular nas cenas de discussão conjugal.
O realismo surge como elemento sempre presente, auxiliado por um elenco coeso (Marco d'Almeida, no papel de Gaio, é exemplar e magnético) e por uma reconstituição histórica igualmente fulcral para que as peripécias sejam verosímeis. Não menos relevante é a banda-sonora, com destaque para as canções de José Afonso ("Menina dos Olhos Tristes") e Madalena Iglésias ("Ele e Ela"), ambas cantadas durante uma festa mas despoletando ressonâncias emocionais bem díspares em algumas personagens.
Nem tudo resulta, contudo, já que o mistério policial (de contornos bíblicos, tanto que o número de um dos versículos e capítulos até originou o título do filme) é mais previsível do que intrigante, sendo a última cena dispensável, uma vez que apenas reforça uma certeza que sequências anteriores já haviam confirmado.
Certas personagens ganhariam com um maior desenvolvimento (pelo menos as do médico e esposa), mas o retrato colectivo é bem conseguido e, mesmo nunca sendo genial, há que reconhecer que "20,13" é uma obra séria, inteligente e escorreita, características que poucos filmes portugueses estreados em 2006 podem orgulhar-se de possuir. Razões mais do que suficientes, então, para não deixar passar esta boa proposta, talvez a melhor de Joaquim Leitão.
E O VEREDICTO É: 3/5 - BOM
3 comentários:
É um dos mais interessantes filmes em cartaz, sim, como de resto já tinhas salientado há uns dias. É de ver, é de ver :)
Concordo que seja de ver... pelo esforço de produção pela quebra até de preconceitos e consequentes barreiras.
Respeito Joaquim Leitão, respeito grande parte da sua ideologia como realizador, mas não encontrei muito de bom em relação a este novo filme. Não é um grande filme, mas também penso que sabem as suas limitações. Visualmente esforça-se mas a fotografia por vezes é miserável. Narrativamente era muito interessante, mas existem muitos momentos que poderiam ser explorados cinematograficamente e não como um produto meramente comercial.
Não acho admirável, mas também não o acho miserável.
Prefiro "Juventude em Marcha" ;) Mas em boa verdade prefiro o "comercial" de Joaquim Leitão e João canijo e uma qualquer visão mercantil de um Leonel Vieira ou de um sujeito qualquer da Sic.
Cumprimentos
Também não acho que seja um grande filme, mas tem algo a dizer e consegue fazê-lo com eficácia, sem brilhantismos mas também sem falhas vergonhosas. E prefiro um bom produto como este do que um mau objecto arty como "Juventude em Marcha", mas respeito a tua opinião. Cumprimentos e bons filmes.
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